Fim da contenção

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Não imaginou que fosse afligir-se tanto no dia em que Hanji entrasse em trabalho de parto. Supôs que houvesse alguma agitação, mas não um desconforto que o fizesse reviver crises de ansiedade que deixou de ter, após o regresso em massa de grande parte das suas memórias.

Porém, não podia ignorar o nó no estômago, os suores frios quando via mais uma vez a expressão da amiga ser atravessada por mais uma dor que não conseguia conter ou disfarçar. As queixas transformavam-se quase em gritos a cada contração que se seguia. Lágrimas continuavam a correr pelo rosto à medida que ele tentava tranquilizá-la e transmitir-lhe uma confiança que não tinha a certeza que fosse real.

Um dos paramédicos na ambulância teve que colocar-lhe uma máscara de oxigénio para auxiliá-la, dado que a respiração e o ritmo cardíaco estavam muito alterados.

Ele tentou de várias formas acalmá-la. Pediu várias vezes que se focasse somente na voz dele e testemunhou como ela tentou dar atenção, mas as dores impiedosas nublavam a sua consciência uma vez após a outra.

O sangue de antes não era um bom sinal. Um dos paramédicos tinha comentado acerca disso, assim que entraram na ambulância e se Levi pensou em ligar novamente para Irvin a caminho do hospital, a chamada foi adiada assim que outro grito sofrido o fez concentrar-se somente no sofrimento da amiga que não largava a sua mão.

Chegava inclusive a magoá-lo na força que empregava, cada vez que mais uma contração se avizinhava e fazia-o temer que a consciência a abandonasse repentinamente.

– Sê forte. Só mais um pouco, Hanji estamos quase a chegar. – Não largando a mão dela e com a outra, acariciava os cabelos castanhos soltos. – Fica acordada.

Hanji conseguiu apenas acenar, pois a voz sofrida que lhe escapava da garganta não permitia que conseguisse formular frases. As últimas palavras que tinha sido capaz de dizer era que tinha medo pelo bebé.

Levi sabia que a amiga estava a pôr como sua prioridade o bem-estar do filho e a ignorar por completo, se lhe retiravam ou não as dores. Tanto que se recusou a receber uma medicação que um dos paramédicos quis administrar.

Quando finalmente, chegaram ao hospital outros profissionais de saúde já os esperavam, preparados para receber Hanji. De nada adiantou os argumentos do melhor amigo que a quis acompanhar, pois os enfermeiros negaram-se de imediato e viu apenas uma médica conhecida entrar na sala antes de trocar um rápido olhar preocupado com ele. Era a Dra. Ana.

Na sala de espera, deram-lhe a indicação de que já tinham sido capazes de contactar Irvin e que ele deveria chegar em breve. Porém, isso mais do que tranquilizar o professor, somente o deixou mais agitado enquanto caminhava de um lado para o outro na sala. Quando o loiro chegasse, não teria nada de concreto ou animador para dizer, já que nenhum dos enfermeiros ou médicos saíam da sala para lhe dar qualquer tipo de novidade.

O que não esperava era que assim que o amigo chegasse, lhe fosse dava autorização para entrar. Se bem que pensando mais calmamente sobre o assunto, não era tão estranho que o tivessem deixado entrar.

"Será que isso significa que o parto está a correr como deveria? Se não tivesse, não o deixariam entrar, certo?", questionava-se e olhando mais uma vez para o telemóvel, apercebeu-se do passar do tempo e também de outra coisa, "Devia ligar-lhe".

Pensou que como o jovem de olhos verdes estava no trabalho, não fosse atender, mas mais uma vez confirmou que bastava que fosse ele a ligar para que não tivesse que tocar muitas vezes. Chegava a desconfiar que deixava o telemóvel com alguém a quem devia exigir que o chamasse para atender, sempre que aparecesse o seu nome no ecrã. O que vindo do rapaz, não o surpreendia.

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