Afastamento

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Afastamento

Assim que Levi chegou a casa começou a praguejar contra ele mesmo. Recriminava-se por ter perdido toda a sanidade no momento em que decidiu beijar aquele que teimava em aparecer noite após noite nos seus sonhos. Mesmo que fosse atormentando por ele em sonhos, isso não lhe dava o direito de fazer o que fez. Sabia que devia se ter controlado. Era professor e aquilo era errado, muito errado.

Pelo menos isso era o que a parte racional da sua mente dizia. Só que também existia a outra parte que dizia que o erro tinha sido afastar Eren e dar a entender que aquilo tinha sido um acontecimento único e que jamais se voltaria a repetir. Isso também lhe causava angústia e não sabia até que ponto conseguiria lidar com sentimentos tão contraditórios.

A água morna caía sobre a sua pele numa esperança vã de que ajudasse a limpar a sua mente, da mesma forma que limpava o corpo. Porém era inútil, pois cada vez que fechava os olhos podia sentir o gosto daquela boca, a forma como quis saborear cada pedaço da sua pele que conseguia ver e sentir. Ainda que quisesse classificar aquilo como apenas atração, não encaixava somente nessa definição. Não encaixava em qualquer coisa que já tivesse sentido por alguém e o mais comum era atração. Em vez disso, chegava a pensar senão estaria a ficar obcecado com o aluno, já que os sonhos não cessavam e eram cada vez mais frequentes e intensos.

Ceder perante a vontade de beijá-lo tinha sido um grande erro. A partir do momento em que atirou para o lado toda a racionalidade, sentia como se tivesse provado algo que não só era perigoso, como era viciante.

Rodou a torneira para mudar a temperatura da água e ainda que a noite estivesse fria, deixou água gelada escorrer sobre o seu corpo sem se incomodar com isso. Queria que algo fosse capaz de apagar as marcas daquele toque, daquele gosto, daquela voz que se impregnava em cada poro do seu corpo.

– Não posso... não posso... – Repetia a si mesmo.

Havia muito mais a perder. Não se tinha esforçado tanto para perder a sua carreira de um momento para o outro e muito menos para acabar na cadeia.

Além disso, não seria o único prejudicado. Era consciente que não seria o único a ter consequências e isso incomodava-o muito mais. Não queria estragar a vida de outra pessoa. Não se perdoaria se o fizesse. Aliás, essa era uma razão para sempre manter as outras pessoas tão afastadas dele quanto possível.

"Não posso arriscar. Tenho que afastá-lo de mim... antes que lhe faça mal. Não sou o tipo de pessoa que faz ninguém feliz", encostou a testa à parede gelada.

O resto da noite que se seguiu serviu para o professor passar todo esse tempo a tentar ocupar a sua cabeça, fosse com filmes que estivessem a passar na televisão, livros ou alguns trabalhos que tinha para corrigir.

Nos momentos em que a concentração quebrava, chegou a equacionar a hipótese de mudar de escola. Contudo, fugir do problema causaria problemas aos alunos, ao Irvin e também à amiga Hanji que lhe indicara o posto de trabalho. Portanto, não restava outra opção senão resolver a questão no dia seguinte. Falaria com o aluno e poria um ponto final naquela situação que nem devia ter começado.

Mais tarde, por não ter respeitado as horas de sono, acordou repentinamente quando notou que estava numa posição desconfortável. A última vez que tinha olhado para o relógio eram cinco e meia da manhã e agora tinha pouco mais de meia hora para chegar à escola.

Merda... – Murmurou entre os dentes e levantou da secretária que tinha na sala, preparando as coisas que precisava levar. Depois de mudar de roupa e ver que não ia chegar a tempo de dar as aulas se fosse de transporte público, optou por chamar um táxi. Sem tempo para pequeno-almoço, chegou à escola precisamente cinco minutos da primeira aula e por isso, dirigiu-se diretamente para a sala de aula.

Destinos EntrelaçadosWhere stories live. Discover now