16

1.5K 69 1
                                    

Mafalda

Com dois cachorros do Frankies e dois potes de batatas fritas com queijo, o Rúben decidiu ir até ao Terreiro do Paço.

Estacionou algures por lá, conseguindo dar-nos vista para o rio Tejo.

A música da rádio estava baixa, embora não me passar despercebida. Passava Daughtry, sentia que era adequado ao momento. O ambiente era calmo, o Rúben estava bastante pensativo. Não estraguei o silêncio. 

Deixei que se afundasse nos seus pensamentos, esperando que se sentisse preparado para falar e contar-me o que tanto preocupava.

Apesar do silêncio, ambos devorávamos o que tínhamos comprado. O cachorro com massa de queijo era ótimo. Uma mistura estanha, mas os meus desejos falavam mais alto.

Creio que não costumavam fazer take away, no entanto, consegui abrir uma excepção.

- All the things I still remember, summer never looked the same. The years go by and the time just seems to fly.

Ao sentir o olhar do moreno, calei-me.

Nem me tinha apercebido que estava a cantar alto, ao ponto de despertar a atenção dele. Uma súbita vergonha assumiu o meu corpo, fazendo com que ficasse sem palavras.

E o moreno continua. Continuava a olhar-me, o olhar bastante atento. Parecia conseguir ler-me por dentro, o que era intimidante.

Longos minutos, ali estava. Refletida no olhar, como se nos tivéssemos a ver pela primeira vez.

- Rúben? - Chamei, num tom de voz baixo, de modo a desperta-lo do seu transe. - Para onde é que viajaste?

Encolheu os ombros.

- Cantas bem. Tens uma voz muito calma. - Ele elogiou-me, sem que tivesse à espera.

- Obrigada, acho. - Comentei de volta, sentindo toda a minha timidez a voltar. - Deves ter sido a quinta pessoa a ouvir-me cantar. - Admiti, o seu olhar bastante curioso.

- Ai sim?

- Sim. Só costumo cantar à frente das minhas duas amigas. As que te falei. - Ele assentiu, sem se pronunciar.

Porém, como fiquei em silêncio, o moreno quis prolongar o assunto.

- E as outras duas pessoas?

- A minha mãe e a minha irmã adoravam ouvir as minhas cantorias pela casa. - Contei-lhe, um pouco desanimada. - Nao gosto de cantar perto de ninguém, considera-te sortudo.

- Com uma voz tão bonita, considero-me! - Ele esboçou um sorriso fechado. - Adoravam? Não costumas estar com a tua irmã?
- Infelizmente.

Senti os meus olhos a humedecer, só por tocar no assunto da minha família.

- Posso perguntar o porquê?

- Ela não está cá. - Após longos minutos perdidos no olhar um do outro, foquei o céu de um azul escuro bonito.

Senti a mão do moreno no meu braço, os seus dedos deslizaram levemente pela pele.

- Desculpa, não sabia.

- Não faz mal. Uns três anos depois da minha mãe morrer, tivemos um acidente muito grave de carro a ir ter com os meus avós. - Expliquei, por mais que me custasse.

Nem sabia porque estava a contar algo pessoal da minha vida, assim do nada. Porém, era fácil falar com ele.

- Nem sei o que dizer. - Senti os seus dedos no meu queixo, o que me fez encara-lo.

Forcei um sorriso cheio de lágrimas.

RISE UP  ➛  RUBEN DIAS  Where stories live. Discover now