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Mafalda

Eram quase dez da noite. Estava deitada no sofá com as mantas quentes da minha avó. Os meus olhos acompanhavam as legendas de um filme americano de guerra.

Estava bastante envolvida no mesmo, quando o som de algo a bater contra a porta me desperta, fazendo Rex ladrar.

O mesmo se dirigiu à porta, assim como os dois cães mais pequenos e até o gato.

Novamente, um batuque na porta.

- É o Rúben.Gostava de falar com a Mafalda, se fosse possível. - Suspirei de alívio. Destranquei a porta, abrindo-a ligeiramente. - Ah, olá... Sei que é tarde, mas podíamos falar?

- Sim, dá-me um minuto. - Voltei a fechar a porta, apressando-me a calçar as pantufas e a vestir um robe quente.

Sai então de casa, deixando a porta encostada.

Encontrei o moreno sentado no baloiço, onde me sentei também. Estava bastante frio, apesar de não fazer vento ou chuva. Estava uma noite mais agradável que a anterior.

Reparei nos dedos inquietos do rapaz, parecia nervoso. Ao cruzar o seu olhar com o meu, não pude deixar de reparar no vazio.

Um vazio gigante no seu olhar. Um brilho fora do comum nos seus olhos castanhos.

Baixou novamente o olhar.

- Desculpa pela forma como te falei hoje. Não sei o que se passa comigo. Estou descontrolado e cheio de raiva o tempo todo.

Mantive-me em silêncio, a brincar também com os meus dedos, como outrora ele brincava. Um sinal de nervosismo. Era como me sentia, o rapaz igualmente.

- Sei que fui bruto contigo, só querias ajudar. E obrigado por isso, mesmo.

Assenti, sem o encarar.

- Esta pessoa não sou eu. Acredita que não. Há imenso tempo que deixei de ser tão impulsivo e de guardar tanta raiva. O futebol ajudou-me. É lá que tenho a minha família. Acredita, o rapaz que viste nestes dias, não sou eu.

- Acredito que não. - Murmurei. - Não te culpo, afinal... É a tua mãe. E é difícil quando alguém desrespeita o que gostamos.

- Já foi mais difícil. Tornou-se fácil quando sai de casa. Como disseste, é a escolha dela. - Senti o seu olhar sob mim, o que me levou a levantar a cabeça também. - Ela escolheu-o.

Assenti, embora mostrando-se desagradado e sem concordar com a tal decisão.

- E eu fiz a minha quando deixei todo o drama para tras. Mas os meus avós não merecem isto, o que aconteceu ontem..

Fechou novamente os punhos.

- Não tem que se repetir. Os teus avós ficaram muito ofendidos com a atitude daquele homem e não concordam com a tua mãe. A casa é deles e vocês são sempre bem-vindos. - Expliquei-lhe o pouco que ouvi. - Ele não.

- Finalmente. - Revirou os olhos. - Afinal, aquele murro serviu para alguma coisa. - Soltei uma breve risada, perante o tom de voz calmo e descontraído do moreno.

- Espero que respeitem e decisão deles.

- Também eu. - Curvou o canto dos lábios. - Já que só fico cá mais um dia, gostava de te levar a almoçar amanhã.

Arqueei a sobrancelha.

- Como forma de agradecimento. - Fingi-me de pensativa. - E para te mostrar quem realmente sou. - Piscou o olho, mais divertido. - Prometo que não te vais arrepender.

- Bem... Acho que depois de um Rúben bruto e brigão, gostava de ver o outro lado. - Sorri-lhe, aceitando o convite.

- Vejo-te ao meio dia. Até amanhã.

Deixou um beijo no meu rosto, caminhando até à casa dos seus avós.

(...)

Let's see let's see

A question, é só comigo que aparecem anúncios entre capítulos?

RISE UP  ➛  RUBEN DIAS  Where stories live. Discover now