Mafalda
Sentada no baloiço à entrada de casa, tomava atenção às frases do livro que estava a ler desde a hora de almoço.
Mergulhada na história de Nicholas Sparks, ás vezes levantava o olhar para encontrar Botas ás cambalhotas com Buck. O gato e o cão eram os chamados opostos que se atraem.
Dentro de casa, os meus avós falavam com os Dias. Convidaram o casal para um lanche, pois precisavam de conversar sobre ontem. O carro branco que Hélder havia levado, estava diante da casa dos Dias.
Motivo do lanche, visto que a filha dos Dias é que tinha de tomar decisões. Afinal, foi por ela que aceitaram o homem.
Sendo ele alcoólico e em constantes atritos com Ruben, havia decisões a fazer.
Ou pelo menos... Um aviso, um alerta.
Reparei no carro de Ruben ao fim da estrada. A minha mente fez-me crer que nada de bom iria sair dali. Parou o carro diante do branco, quase a meio da estrada, saindo do mesmo à pressa e em passos largos até à casa.
Ao perceber que o seu irmão não o acompanhava, decidi caminhar apressada até à vedação dos Dias, de modo a impedir o moreno de adentrar naquela casa.
- Rúben? - Chamei-o. - Rúben! - Chamei mais alto, captando a atenção dele. - Deixa que a tua mãe revolta.
- E quem és tu para dizer isso?
Mantive-me em silêncio. Mais uma vez, aquela brutidade e arrogância a falar.
- Bem me pareceu.
- Percebe uma coisa... Independentemente da tua vontade de bateres no teu padrasto, vai ter que ser a tua mãe a escolher. E se ela escolher ficar com ele, como vais fazer?
Desta vez, foi ele quem ficou em silêncio.
- Pelo que percebi, ele tem problemas. Bebida e jogos onde perde dinheiro. A tua mãe sabe? - O rapaz assentiu.
- Toda a gente sabe.
- Ótimo. Ela sabe. Se não o deixou até hoje, não vai ser por ter o filho mais novo a pegar-se com ele todos os dias que vai deixar. - Tentei fazê-lo ver outro ponto de vista. - Percebes? Entrares e bateres nele, só a vai meter contra ti.
- Foda-se, foda-se tudo. - Atirou os braços ao ar, voltando novamente para o carro. Ligou-o, primeira abaixo e acelerador.
Respirei fundo, sentindo um peso enorme. Não sabia se era alívio, se receio.
Caminhei novamente para a casa dos meus avós, voltando a sentar-me no baloiço. A voz do meu pai ecoou nos meus ouvidos, assustando-me de morte.
O homem estava encostado à porta. Estava tão perdida nos meus pensamentos, que se nao me tivesse falado, nem dava por ele.
- O que disseste?
- Não sei o que lhe disseste, mas resultou. Foi o que disse filha, em relação ao Rúben.
Encolhi os ombros. Nem eu mesmo sabia.
- Só lhe disse que era uma escolha da mãe dele, que por mais confrontos que tivesse com ele, as decisões eram dela. E tudo o que ia conseguir a brigar, era deixar a sua mãe contra ele.
- E tens razão. Já falei com os avós do miúdo. A Amélia acredita cegamente que o Hélder se vai recompor. Já lá vão dois anos.
- Compreendo a revolta dele.
- Eu também Mafalda, mas não significa que o rapaz esteja certo.
Assenti.
- Sei que estás preocupada, mas não te mistures com ele. Já deu para perceber que não tem o melhor temperamento e nenhum de nós precisa disso nas nossas vidas.
Desviei o olhar do meu pai, sabendo que tinha uma certa razão no que dizia.
- Muito menos tu, filha.