Mafalda
Estava nervosa. Tinha de admitir. Faltava meia hora para o almoço com o Rúben.
Confesso que a reação do meu pai ao convite de almoço, deixou-me de pé atrás, apesar de achar que o moreno merece o benefício da dúvida. As pessoas merecem uma segunda oportunidade e ele não era excepção.
Apesar de ter tido um comportamento mau, de impulsivo e agressivo, desculpou-se e assumiu que não era aquela pessoa.
E era isso que estava curiosa em comprovar.
Vesti uma roupa quente, pois nevava lá fora. O mês de Janeiro estava a ser bastante gelado e a neve era constante na Serra da Estrela. Haviam imensos turistas nesta altura.
Após uma curta meia hora ou assim se pareceu, a campainha fez-se ouvir. Apressei-me a pegar na mala e a sair de casa.
Impedindo que o meu pai nos interceptasse, de modo a evitar avisos vergonhosos.
O moreno cumprimentou-me com um beijo na bochecha, encaminhando-me ao seu carro. Não deixei de lhe sorrir, após me ter aberto a porta, para que entrasse.
- E então, pronta para o melhor almoço da tua vida? - Questionou num tom voz gozão, após ligar o carro.
- Nem consegui dormir!
Mostrou um sorriso fechado, conduzindo pela estrada coberta de neve. Observava as pessoas, os carros, os verdes cobertos de neve, tal como as árvores, as casas e os carros. Adorava aquele manto branco por todo o lado.
Preferia neve a tempestades. A chuva e ventos. Pois era muito mais calmo. E bonito.
O moreno conduziu até ao Sabugueiro, onde íamos almoçar. Um restaurante local. Ficava ao pé de pontos turísticos, que talvez pudéssemos visitar depois do almoço.
Após os pedidos, a conversa foi desenvolvendo.
O rapaz falava dos jogos no Benfica, o que me deixou bastante surpreendida. Não era fanática por futebol, nunca tinha sido.
No entanto, considerava-me benfiquista devido aos meus avós e ao meu pai. Já tinha visitado o estádio inúmeras vezes, pois o meu pai adorava ir ver jogos ao mesmo. Fiquei feliz por ele, pela facilidade que mostrava.
Era a primeira vez que o ouvia a falar de algo com tanta paixão. Futebol, o Benfica, sentir-se importante e parte de algo, era realmente uma coisa muito importante para ele.
- Então e tu? Estudas?
- Estou no meu terceiro ano de medicina. - Os olhos do moreno encontraram-me.
- Que área?
- Oncologia, talvez.
- Algum motivo em especial?
- A minha mãe. Perdeu a luta há dez anos. Não foi fácil vê-la enfraquecer dia após dias, sentir-me inútil por não conseguir ajudar.
- Lamento muito. Não havia muito que podias ter feito Mafalda. Deves ter quê? Vinte anos? E dez na altura? - Assenti, afirmando. - Não tens culpa. Eras uma criança.
- Não me culpo. Mas foi difícil. E não me quero sentir assim novamente, entendes?
Assentiu, percebendo-me.
- Bem, onde me vais levar a seguir? - Mudei de assunto, tentando atenuar as minhas emoções, que começavam a ser desconfortáveis. - Espero que tenhas um plano!
- Sendo sincero, achei que podias ser tu a mostrar-me os sítios que mais gostas. Sabes há quanto tempo não vinha cá?
Soltou uma risada tímida. A primeira vez que o ouvi rir. Era realmente outra pessoa.
- Espero que gostes de andar!