C A P Í T U L O - 01

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- Boa noite querida. - ouvi a voz da minha esposa, Carly, ecoar por todo o nosso apartamento, e sorri. - Aonde você está?! - ela perguntou e percebi que ela ainda estava na cozinha.

- Na sala querida! - gritei em resposta sem tirar a atenção dos papeis que estavam em minha mão.

O apartamento se tornou silêncioso novamente e continuei minha leitura agradecendo mentalmente por poder voltar atenção total para aqueles relatórios, mesmo que os tivesse deixado por pouquíssimos segundos.

Carly apareceu na sala novamente e pelos sons irritantes que seus saltos faziam no piso de mármore, eu acabei constatando que enquanto ela estivesse alí eu não iria conseguir trabalhar em paz, até por que, Carly parecia ser extremamente carente na maior parte do tempo e necessitava da minha atenção, por mais que eu não achasse necessário.

Ao contrário da minha esposa eu nunca fui de demonstrar meu amor em muitos toques, mas sim nas coisas simples, como por exemplo dar-lhe rosas em dias "normais" preparar um jantar - mesmo que o único prato que eu saíba fazer seja carne assada-, perguntar como foi seu dia, se ela está bem, essas coisas, mas Carly prefere estar abraçada à mim doze horas por dia, as outras doze ela está gritando por algum motivo bobo.

Ela podia não perceber, mas era isso que aos poucos ia nos distanciando, nossa forma completamente diferente de pensar.

- Bebê. - Carly disse eufórica e veio até mim, se inclinando para beijar meus lábios, um beijo doce e suave. - Tenho novidades?

- Quais são? - perguntei tirando os óculos de grau, forçando a voz animada.

- Vou abrir outras duas lojas, não muito longe daqui mas é um começo. - Carly deu um grande sorriso e eu sorri junto à ela.

- Parabéns amor. - disse.

Carly - ainda sorrindo tão grande que poderia rasgar o rosto -, tirou os saltos dos pés e se sentou sobre minhas pernas, levantando um pouco de seu vestido, deixando as coxas grossas e torneadas a mostra, sorrindo de canto. Eu conhecia bem aquele sorriso e sabia aonde Carly queria chegar.

- Estou atolada de trabalho bebê. - disse, pegando em sua cintura levantando-a.

Carly bateu os pés no mármore e fez bico, como uma criança mimada e eu apenas a ignorei voltando a atenção para os meus papeis.

- Qual é Pezza. - ela bufou, e sentou-se sobre a mesa de vidro. - Será que um detento pode ser mais interessante que sua esposa, em?

- É detenta. - corrigi arrumando meus óculos. - E eu estou chocada com o caso dela. Jade Amélia Thirlwall, vinte e cinco anos, presa por tráfico de drogas e porte ilegal de armas. - comecei a ler o relatório e pude ouvir Carly bufar ao descer da mesa. - Tempo de detenção é de vinte e um anos, e ela se diz inocente e está cumprindo pena há três meses.

- Inocentes. - Carly murmurou com deboche cruzando os braços. - Todos eles se dizem.

- E todos que defendi até agora são. - rebati, e vi Carly revirar seus grandes olhos castanhos. - Sei o que estou fazendo Carly, e essa mulher está reclusa sem que as provas contra ela sejam concretas, mais pessoas estavam no lugar, mais pessoas particilavam e só ela foi punida. Foram negligentes com ela.

- Mande a tal Jade abrir a boca e contar tudo. - Carly deu de ombros como se aquilo fosse simples.

Eu simplesmente acreditava na inocência das pessoas, não sou como Carly que acha que todos que vão para a prisão são bandidos, não.

Quando eu tinha apenas cinco anos de idade meu pai foi preso por causa de uma discussão de bar, e ele só estava ali na hora errada e no momento errado. Meu pai foi preso e morreu lá dentro quando uma rebelião aconteceu, ninguém acreditava em sua inocência a não ser eu e minha mãe, mas infelizmente eu não posso mais lutar pela sua liberdade, mas não significa que eu não possa fazer pelos outros.

Cansada de ouvir tudo o que minha esposa tinha para me dizer, juntei meus papeis e coloquei na minha maleta. Amanhã cedo eu daria um jeito nessa situação e Jade não teria que passar mais um dia se quer na cadeia. Me levantei com minha maleta em mãos e tomei rumo para o meu pequeno - quase minúsculo -, escritório.

Carly estava bem atrás de mim, andando em passos firmes e decididos. Abri o escritório e fui até minha mesa, coloquei minha maleta ali e puxei a cadeira para me sentar mas Carly segurou meu pulso me interrompendo mais uma vez, começando a tornar aquela situação um tanto quanto chata para nós duas.

- Eu só quero a sua atenção, Perrie. - Carly voltou a choramingar e eu respirei fundo.

Estava sempre tão atolada com o trabalho que Carly nem sempre era minha prioridade, mas naquele momento uma pitada de arrependimento me tomou, e eu larguei os papeis daquele caso, afinal, não conseguiria soltar Jade hoje mesmo.

Sorri para a minha esposa e me aproximei dela, pousando minhas mãos em seu rosto, passando as unhas nas bochechas rosadas e Carly sorriu amorosa, selando nossos lábios me envolvendo num beijo calmo e carinhoso. Apesar de nossas desavenças e o desgaste das brigas, eu e Carly éramos felizes assim.

- Vem, vou fazer um jantar pra nós. - Carly disse quando nos separamos. - O que acha de um belo e rápido macarrão com queijo e um vinho, huh?

- Ótima pedida bebê. - sorri.

Carly saiu do escritório rebolando e sorrindo provocativa, deixando a porta escancarada. Rapidamente voltei a atenção para os relatórios de Jade, sentindo uma enorme necessidade de fazer alguma coisa, eu não podia deixar que ela ficasse mais tempo presa, não mesmo.

Antes que Carly voltasse a aparecer eu peguei o telefone e disquei o número de Jesy - uma das minhas melhores amigas, e promotora de justiça -, ela é quem me ajuda na maior parte das vezes, e eu ia fazer de tudo para conseguir ver Jade livre, assim como fiz com todos os outros que defendi.


Shay Mitchel como Carly Armstrong-Edwards

only you • concluídoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora