25.08.18 - Sábado

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"Vamos?", ele perguntou. E eu, que estava tendo que pensar até para respirar, só movi a cabeça, seguindo-o até o Gol.

Foi estranho sentar no banco do passageiro sabendo que estávamos vindo para cá... para o motel. Eu fiquei sem saber o que falar. Parecia que qualquer assunto seria uma desculpa para desviar meu nervosismo (e seria, de fato), por isso me mantive calado. Foi ele quem falou primeiro. "Estou levando um vinho diferente, para provarmos", e ele me olhou rapidamente, com um meio sorriso, e logo voltou a atenção para o trânsito. Como eu estava ainda perdido em mim mesmo, só falei "Ah, legal".

Sim, eu estava tenso pra caralho. Se quiser uma comparação, eu estava parecendo um robô dentro daquele carro. Talvez o Nick nunca tenha me visto assim... E acho que nem eu nunca tinha ficado tão... consciente de meu corpo. Sabe quando parece que temos uma antena mágica ligada, notando cada nuance do que acontece em volta? Era como eu estava. Ate que ele colocou a mão direita em minha perna. "Tudo bem?".

Respondi que sim. Quero dizer, estava mesmo tudo bem, mas eu estava surtando, de certa forma. E, para não ficar balançando a perna demonstrando aflição, tentei me concentrar na vista da janela. Eloporto, que é uma cidade enorme, fica bem agitada de sexta à noite. Um monte de luzes, um bando de pessoas andando, gritando, ouvindo música alta em carros tunados...

... Até que, dessas luzes todas, reconheci o letreiro do motel. E o Nicolas deu a seta, entrou no estacionamento, e desligou o carro.

... E meu coração quis sair pela garganta.

Nossa, agora lembrando, eu estava mesmo muito nervoso. Eu sabia que o que estávamos prestes a fazer era algo que eu desejava muito, mas quando as coisas ficam todas combinadinhas desse jeito, sem ter um início "natural" (digamos assim), fica estranho. Acho que era por isso que eu estava daquele jeito.

"Eu passei mais cedo aqui, e já deixei reservado pra gente", ele falou, quebrando o silêncio do carro. "Já estou com a chave".

Eu sinceramente não sei se fiquei lívido, ou vermelho... Mas senti as mãos gelarem e o rosto queimar. "Como? Quando?" foi só o que meu eu patético conseguiu perguntar. E o Nicolas, vendo isso, achou graça. Se virou no banco e colocou a mão em meu rosto, explicando que havia sido ao sair da faculdade, antes de voltar para se arrumar na casa dele.

"Tem certeza de que está bem?", ele tornou a perguntar. Isso fez com que eu ficasse irritado comigo mesmo. Em meu inconsciente gritei "Vamos, Isaac, não era o que você queria?", e saí do carro, tentando parecer minimamente confiante. No caminho do estacionamento para o corredor onde estava "nosso" quarto ele segurou minha mão, mesmo quando outras pessoas passaram por nós. E... você sabe, né? Sentir a mão dele na minha sempre tem esse efeito calmante... Ajudou demais.

Enquanto passávamos na frente de algumas portas numeradas era inevitável que eu ficasse atento. Sabe aquela curiosidade, de tentar ouvir se tem algum som "suspeito" (tipo gemidos)? O que me impressionou foi que não haviam sons. Só agora sei que as paredes desse motel não são assim, tão finas a ponto de permitir passar sons. Dessa forma, a gente tem mais privacidade.

Ainda bem...

Ao chegar na porta certa, entramos (óbvio, senhor Rodrigues!) e fiquei surpreso com o lugar. Quando comentei que era mais bonito do que as fotos do site, o Nick explicou que escolheu um quarto melhor (e foi quando eu descobri que foi ele quem pagou, mesmo que eu quisesse fazer isso).

No momento em que entrei aqui (pois ainda estou na poltrona do quarto, e o Nick ainda dorme como uma beldade angelical) reparei em como tudo está bem decorado... E a cama é daquelas redondas, diferente de todas as camas que já vi na vida. Quando olhei para cima, comentei quase sem querer: "Ué, não tem espelho no teto?".

O Monotono Diario de Isaac [BETA]Where stories live. Discover now