O Terceiro Ritual

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22 de Janeiro de 2012, Domingo.

Para o terceiro ritual eu havia reservado um dos meus lugares favoritos na ilha. A praia secreta era um dos mais lindos segredos que a ilha guardava.

Saímos da mansão logo depois do almoço. O caminho era longo e uma parte deveria ser percorrida a pé. Fomos de jipe até as montanhas ao leste/sudeste da ilha, pois embora pudéssemos nos teleportar até a praia, tínhamos tempo de sobra até que a lua estivesse corretamente posicionada, de modo que podíamos aproveitar as tão ricas fauna e flora do caminho. Duas horas mais tarde alcançamos o pé da montanha e a caverna que possuía o caminho até a praia. Caminhamos em silêncio, desde a noite passada quando eu anunciei que uniríamos o circulo, todos ficaram tensos, de modo que nem mesmo os cristais coloridos que brilhavam no interior da caverna surtiam qualquer efeito sobre nós.

Três horas mais tarde, finalmente alcançamos a praia. Ela tinha o formato de meia lua e era escondida por uma montanha pedregosa e antiga. A areia era fina e muito branca, a água cristalina. Através dela era visível uma quantidade significativa de coloridos cardumes de pequenos peixes, que viviam ali protegidos por uma barreira de corais. O mar estava calmo e refletia os últimos minutos do por do sol. As palmeiras balançavam com a leve brisa vinda do oceano. A sensação era de paz.

– Que lugar lindo. – Klaus disse se colocando ao meu lado.

– Um dos meus favoritos. – Eu respondi.

– O que faremos agora? – Ele perguntou.

– Precisamos acender uma fogueira. – Eu instruí – Das grandes.

– Eu faço isso. – Mateus se ofereceu.

– Eu te ajudo! – Javier gritou.

– Carlos, a mochila que eu te pedi pra trazer – Eu continuei – Tem uma centena de pedras brancas...

– Você me fez carregar pedra? – Ele perguntou irritado.

– Era necessário. – Eu dei de ombros – De qualquer forma, desenhe um circulo com ele ao redor da fogueira... E precisa ser um circulo descente!

– Eu te ajudo... – Alice ofereceu a ele que instantaneamente pareceu não se chatear com a tarefa.

– Meninas... – Eu disse me virando pra Cassidy e Emma – Precisamos de muita luz do luar, se livrem das nuvens.

– É pra já. – Emma respondeu.

– E nós? – Andrew perguntou.

– Esperamos. – Eu expliquei – Assim que os preparativos estiverem feitos o melhor a fazer é meditar até que a lua esteja na posição correta.

– E se der errado? – Andrew perguntou – A mais de dois séculos um circulo não é unido.

– Se der errado alguém morre... – Eu dei de ombros – Ou na pior das hipóteses perdemos os nossos poderes.

– Não te assusta a ideia? – Klaus perguntou.

– Não. – Eu respondi firme – Eu não cometo erros.

Faltavam menos de dois minutos para a meia noite quando a lua atingiu o seu ponto mais alto. Não despende muita energia para o bruxo. A Lua Nova representa o período mais fértil para dar início a tudo o que for novo na vida e embora não seja tão poderosa quanto à lua cheia, é a lua necessária para o ritual.

– Está na hora. – Eu avisei aos outros. – Precisaremos de sangue.

– Sangue? – Klaus perguntou.

– Cortem as mãos... – Eu instruí – Como fizemos tantas vezes antes para selar feitiços, depois, de mãos dadas, vamos formar um circulo dentro do circulo de pedras e haja o que houver não devemos sair dele.

Eles fizeram exatamente o que eu disse. Precisei me concentrar e me conectar com os quatro elementos, como no primeiro ritual, entretanto era perceptível que a cada elemento ao qual me conectei, eles automaticamente se conectaram. Uma vez que os elementos estivessem conectados, era hora de me conectar a energia da lua.

– Água e Fogo, – Eu comecei.

– Tornem-se um – Eles disseram juntos.

– Luz e trevas, – Eu disse.

– Tornem-se um. – Eles disseram novamente.

– Opostos ou não, curvem-se a mim e tornem-se um. – Eu disse.

– Por tudo que é mensurável e por todo o infinito, que se movam os céus e que o rufem os mares. – E a partir daí começamos a proferir as palavras em um único som – Que todo o poder venha até nós, destruindo a diferença e nos tornando um.

A luz da lua preencheu o circulo de pedras o vento começou a soprar forte.

– Pelo sol e pela lua, pelo poder das estrelas – Nós continuamos – Espíritos antigos, eu ordeno que saiam das grandes florestas, levantem-se do fundo dos oceanos e tornem-se nossas testemunhas.

O mar começou a se agitar e nuvens começaram a se acumular ao redor do luar. Em questão de segundos uma feroz tempestade desabou sobre nós;

– Nos tornamos igual perante os homens e todos os seres do universo. O poder de um agora é o poder de todos e o poder de todos se torna o poder de um.

As ondas do mar começavam a ultrapassar a barreira de corais e o vento parecia ainda mais forte e cortante. O ar ficou gelado e o céu era iluminado por constantes relâmpagos.

– Nos tornamos iguais em força, desejo e espírito. – Nós continuamos.

– Por sangue e por mim, – A fogueira no nosso meio pareceu queimar com mais vontade, com sua chama atingindo quase um metro de altura – Me torno eles. Por sangue e por mim, juntos caímos e juntos nos mantemos de pé.

– Por sangue e por mim, – Começaram a se formar marcas estranhas em nossos braços, elas queimavam e cresciam com cada palavra, subindo até nossos pescoços – Estaremos eternamente ligados.

– Por sangue e por mim, – A marca atingiu nossas faces e subiu até nossa testa, formando ali o desenho de uma meia lua, a dor era insuportável, mas naquela altura não tinha como parar, era quase como se eu não fosse capaz de parar de pronunciar o feitiço – Me torno eternamente fiel.

– Pelo sangue e por nós, agora somos um círculo. – Nós terminamos, com a marca brilhando em nossa testa, um pouco antes de tudo ficar escuro.

Horas mais tarde eu despertei com o sol queimando meu rosto. Estava deitado na areia e pelo que pude perceber todos os outros permaneciam desacordados. O céu estava limpo novamente e o sol da manhã já brilhava esplendoroso no céu. O mar estava calmo e não havia qualquer sinal da tempestade da noite anterior.

– Acordem! – Eu gritei e pareceu surtir algum efeito.

– O que aconteceu? – Klaus perguntou enquanto esfregava os olhos.

– As marcas... – Alice gritou enquanto olhava seus braços – Se foram.

– Que poder é esse? – Klaus perguntou.

– Vocês também estão sentindo? – Eu perguntei sorrindo.

– É quase fora de controle. – Javier disse em êxtase.

– E até que consigamos lidar com ele, é bom irmos com calma. – Andrew observou.

– Pra uma coisa que não é feita a mais de dois séculos – Carlos gargalhou – Até que nos saímos bem.

– Eu sempre soube que daria certo. – Eu menti.

– E agora? – Mateus perguntou.

– Vamos voltar pra mansão. – Eu disse – Depois de comermos podemos ir até a floresta testar os nossos novos poderes.

– E a parte do cuidado? – Andrew perguntou irritado.

– Nós não somos assim, Andrew! – Cassidy gargalhou – Aceite.


Filhos da Tormenta - Aquele Verão [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora