Fratris

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Meu passado teve um gosto amargo por anos agora

Então eu vou negar e encarar

Graça é apenas fraqueza

Ou então fui informado

Eu fui frio, eu fui implacável

Mas o sangue em minhas mãos

Me assusta até a morte

Talvez eu esteja acordando hoje

I'll Be Good - James Young

Belo jeito de acordar, com o corpo todo dolorido de tanto que um cavalo balança. Tirando isso, minha manhã estava sendo normal: Um banho normal. Um Jungkook normalmente demorado para acordar ( ter que ficar esperando o senhorito acordar é entediante, quem dera eu pudesse acordá-lo.) Um café da manhã bagunçadamente normal. E um rei normalmente tagarela. Então o que teve de anormal depois? Uma grande confusão que minha única opção foi não entender nada.

Do começo:

Eu estava arrumando a gaveta de arquivos no escritório de Jeon, quando ele me pediu para entregar um papel para o Taehyung. Comecei a andar pelo castelo procurando-o e acabei trombando com alguém. De novo, Jimin!


— Desculpa! — Abaixei para pegar os papéis caídos. Perceberam que sempre esbarro nas pessoas?


— Jimin? — A outra pessoa também já se abaixava para me ajudar, quando pareceu me reconhecer.


— Heechul?! — Me surpreendi com sua presença. Heechul andando pelos corredores do castelo? Ele podia? Será que sabiam que ele estava ali dentro? Talvez ele tinha se infiltrado. Tá, vamos voltar a realidade.


— O que você está fazendo aqui? — Perguntamos simultaneamente um ao outro. Os dois incrédulos com a presença de ambos


— Eu trabalho aqui. — Fui o primeiro a responder, vendo que ele me olhava pidão, talvez esperando minha resposta.


— Aah... Então esse é o "bom trabalho" que você me disse da última vez! — Bagunçou meus cabelos. Porque todos os mais velhos que eu gostam de fazer isso? — Oh! Que legal! Seu cabelo é branco. — Sua reação me surpreendeu de tão normal que foi.


— É uma tinta boa... — Tentei disfarçar, não posso confiar em pessoal que são de fora do castelo


— Não é tinta. Não é? — Sussurrou enquanto olhava em meus olhos com um sorriso assustador e simpático.


— O-o que? — Desviei o olhar.


— Uma vez, conheci um cara. — Olhou para cima enquanto se lembrava. — Ele se chamava Mingyu e ele e a família dele tinham cabelos brancos. — Parecia nostálgico. — Sou humano, mas sempre admirei os lúpus... E o lobo dele era algo que eu nunca havia visto. Era totalmente branco e em seus olhos fluía várias cores fortes e maravilhosas. Era como uma jóia da natureza. — Disse inspirado. Olhos com várias cores? Isso me era familiar


— E onde ele está agora? — Me exaltei. Seria emocionante conhecer alguém como eu, pois eu parecia a única pessoa com cabelos totalmente brancos naturais. Já senti diversas emoções só de ouvir que eu não era o único. Mas parece que minha pergunta fez o clima ficar tenso.


— Ah... — O clima era tenso, mas um grande sorriso em seu rosto, permanecia. Estranho. — Certo dia... Fui procurá-lo e achei seu corpo jogado no chão perto da floresta. — Evitava contato visual comigo. — Ele foi assassinado brutalmente. — Só de ouvir, engasguei, porém ele parecia neutro com a história.


— Desculpa...


— Jimin... Normalmente, quando um lúpus morre, ele voltaria à forma humana se o mesmo estivesse transformado antes, não é? — Acenei com a cabeça como resposta. É uma coisa comum de se saber. — O peculiar da situação é que ele ainda estava na forma de lobo e teve seus olhos e pele arrancados.


Estremeci de cara. Que coisa horrorosa! Imagina ter seus olhos e pele arrancados? Além de que, quem fez isso deve ser um sádico louco por tortura.


— Ah... — Riu. — Desculpa! Acabei indo muito longe no assunto. — Recuperou a postura. — Eu só vim ver meu irmão.


— Irmão?


— Sim, acho que você já viu ele pelo castelo. O nome dele é Ta- — Sua fala foi cortada quando ele olhou para trás. Procurei olhar também e lá estava o Taehyung, olhando para o mais velho, em choque.


— Chim... Você conhece ele? — Paralisou — O-o que... — Os olhos do beta estavam até dilatados e ele nem piscava. — O que você está fazendo aqui?! — Sua surpresa se transformou em raiva e disse com um tom mais alto e sua voz grossa ecoando pelo corredor.


— Tae! — Heechul aparentava não querer brigar. — Já faz cinco anos que não nos vemos direito e você me recebe assim?!


Neste instante, me toquei do sobrenome igual dos dois. Então eles eram os irmãos que me confundiam tanto?


— Não tenho motivo nenhum para te receber bem! — O loiro podia explodir a qualquer momento.


— Mas Tae!


— Mas nada! Você sabe o que fizeram comigo! — Sua frustração era grande e o mais alto cerrava os punhos.


— Tae! Eu não sabia!


— Mas agora sabe! — Fechou os olhos com força. Suas mãos e braços tremiam. Não sei se era por raiva ou medo de seus próprios pensamentos — E ainda... Está do lado dela...


— Ela é minha mãe! Sua mãe! — O mais velho deu ênfase em "sua"


— Aquilo não é minha mãe! Nunca foi! — Ele parecia querer chorar, mas seu orgulho não deixava. — Uma mãe não faria aquilo com o filho... Em dezoito anos, nunca conversei nada com ela!


— Já faz tempo! Taehyung! Você é meu único e amado irmão! — Heechul também transpirava estresse. Eu, por outro lado, encarava aquela situação com um pouco de medo


— Eu sei. Heechul. — Se acalmou de um jeito triste. — Mas ainda assim, você me lembra ela. — Desviou o olhar. — Vai embora.


— Tae! — O moreno também queria chorar.


— SAI DAQUI! — Com um pedido final, ele virou de costas, me pegou pelo pulso e me puxou para ir embora. Fui arrastado por vários metros de corredor, até o Kim parar e se acalmar.


— O que aconteceu ali? — Me senti preocupado, assustado, confuso, um misto de emoções.


— Por que você estava andando por aí? — Ele praticamente voltou ao normal como se estivesse bem. Mas eu sei que ele estava fingindo. Tae é alguém forte.


— O Jeon... Falou para te entregar esses papéis. — Entrei em seu teatro.


— Obrigado. — Pegou as folhas da minha mão e pòs-se a ler. Mas estava claro que ele não lia nada de tão cheia que estava sua cabeça.


— Você está bem? — Não consegui mais fingir daquele modo. Desisti tão fácil.


— Jimin. — Falou baixo. — Esqueça tudo o que aconteceu lá. — Abaixou a cabeça, falhando em esconder as lágrimas que caíam no chão.


— Tem certeza?


— Por favor. — Sua voz soava embargada. Meu corpo gritava para que eu reconfortasse o beta — Só esqueça.


No fim, acabei abraçando-o e ficamos lá por muito tempo, em silêncio. Eu apenas ouvia seus suspiros e soluços baixos, mas que faziam seu corpo se movimentar. Suas lágrimas molhando a fina malha que eu usava, mas não me importava com isso. Não suporto ver meu melhor amigo chorando



.

.

.


Após ficar com Tae até ele parar de chorar, ele falou que tinha coisas para fazer e que eu devia continuar o que eu estava fazendo também. Eu não estava com moral para ir trabalhar mais. Não sejam uma má influência como eu, criancas. Mas entendam que eu precisava relaxar.


Graças ao santo caralhinho, Namjoon é uma boa alma e me explicou com a maior paciência do mundo onde ficava a biblioteca. Não ficava muito longe, afinal, estava no próprio castelo.
Ao andar pelos corredores, pude notar que essa área mais ao fundo do palácio era mais esquecida. As paredes não tinham aquele brilho único, o chão estava maltratado, as janelas eram bem simples comparadas ao resto dos vitrais do palácio e não havia praticamente ninguém circulando por ali.
Me deu dó. Creio que a nobreza não ligue tanto assim para livros, já que há novas tecnologias.


— Espero não achar alguma assombração ou coisa do tipo, já basta o Jungkook. — O meu riso contido ecoou, batendo nas grandes paredes desgastadas.


Uma coisa é certa, o maldito do Jungkook não sai de minha mente, até teve a audácia de invadir meu sonho essa noite. Quem ele pensa que é?
Agradeço ao universo por ele não querer me usar como algum tipo de servo submisso, putinha particular ou coisa do tipo, apenas me usa para assinar papéis, arrumar seu quarto, limpar se escritório e fazer massagens quando não quer ter que trabalhar.
E, sabe, até que estou gostando disso. Não passo tantos nervos quanto passava procurando algum emprego temporário por aí, é legal, tenho um quarto quentinho e, finalmente, tenho bons amigos. Pelo menos eles não falam que pareço um alien por causa desse meu cabelo esbranquiçado.

Quando me dei conta, já estava na frente de uma porta de madeira de carvalho maciça gigantesca. A porta era pesada e fazia um ruído horrível conforme era aberta.
As prateleiras estavam caindo aos pedaço, mas, por outro lado, os livros estavam impecáveis; reluzentes.


— Waah... Que incrível! — Dedilhei alguns livros de romance que estavam numa estante logo no começo. — Tenho que vir para cá mais vezes.


Estava totalmente maravilhado com toda aquela variedade de livros. Desde livros científicos e dramas à receitas e livros infantis.


— Chimmie! — O dono de uma voz assustadoramente 'irritante' se apresentou atrás de mim. Seus braços me envolveram em um caloroso abraço.


— Ho-hobi! — Dei alguns passos para trás, tropeçando na quina da estante de madeira. Mas Hoseok conseguiu me segurar e fiquei suspenso no ar.


— Tenha mais cuidado, Branquinho. — Senti uma pitada de deboche quando pronunciou aquele meu apelido. — Não vai querer que algum alfa acabe se aproveitando desses seus descuidos.


— Me-me bota no chão, por favor. — Esse garoto é bipolar, só pode. — Hyung!


— Calma aí pequeno! — Gargalhou, e assim, ele fez o que lhe -ordenei- pedi. — Ya, eu que queria lhe mostrar esse lugar. Mas tudo bem, agora já era. — Ele fez uma cara de cachorrinho pidão, foi inevitável soltar um "Aawwwn!"


— Esse lugar é maravilhoso! — Tive que admitir. Eu estava um pouco receoso até finalmente entrar nesta biblioteca. — É meu lugar preferido depois do meu quarto!


— Que bom que gostou! — Ele ficou me encarando por um bom tempo. Seus olhos intensos fitavam-me por inteiro, como se ele quisesse me falar algo. — Pode vir aqui quantas vezes quiser.


— De verdade? — Creio que o brilho dos meus olhos nesse momento ofuscaram até mesmo o Sol a.k.a Hoseok


—Claro! — Esboçou aquele sorriso de coração que deixaria qualquer um mais feliz. Mas nem tudo são flores, não é mesmo? A expressão dele mudou, de novo.


— Jimin?


— Sim? — Saí de meus devaneios assim que o ouvi chamar o meu nome. Sua voz parece ter saído mais grave.


— Eu... — De repente, sua expressão pareceu mudar de intensa para confusa. Nunca vou me acostumar com essas trocas que ele faz. — Esquece.


— Você está bem? — Perguntei, já que ele estava distraído demais e sua confusão me preocupou. — Não quer que eu-


— NÃO! — E pela primeira vez, ele gritou comigo desse jeito. — Ah, me desculpa! Eu só não que-


— Tudo bem, tudo bem. — Recuei mais alguns passos, totalmente em choque. Ele sempre foi manso. — Eu... vou procurar por algum livro do meu interesse.


— Tá... até depois. — Não me deu nem chance de me despedir, virou de costas e saiu correndo pela porta. — Espero que ele esteja mesmo bem.


Voltei a perambular por entre as grandes prateleiras que sustentavam os milhares de livros de diferentes cores e conteúdos. Cada corredor parecia ter um tema em específico, e eu estava no corredor da fantasia.
Sempre fui fascinado por histórias que fogem do real, coisas impossíveis, que fazem sua mente criar cenários totalmente irreais.
Lembro-me muito bem de histórias de fantasia, em especial o Pequeno Príncipe, história na qual minha mãe sempre me contava quando eu estava com medo da noite. Ela falava que eu me parecia com o Pequeno Príncipe, mas nunca entendi o porque.

Mas, um livro em especial me chamou a atenção. Ele era um pouco mais desgastado que os outros e estava no corredor dos livros de drama. Para minha infelicidade, ele estava um pouco mais alto do que eu alcançava, mas, não será hoje que vou deixar de lado. Ah, pode apostar que não.


— Você... vai... sair daí! — Me colocava na ponta dos pés para tentar alcançar, falhando miseravelmente. — Filho da puta!


Park Jimin, seu idiota! Dei um pulo tão, mas tão desajeitado, que fez a estante inteira tremer, resultando em um monte de livros pesados caindo em cima do senhorito Park.
O que eu não tenho de tamanho, tenho de azar. Mas, eu não senti nada. Será que eu acabei morrendo por causa do peso? Não, não, isso seria meio impossível. Ei, porque está mais escuro?


— Da próxima vez pegue um banco pra poder pegar as coisas no alto, projeto de gente. — A voz que mais me irrita. Parece até que depois que eu particularmente o reconheci como meu amigo, venho ficando mais irritado com ele.

Aaah! Jeon Jungkook! Ele estava por cima de mim, me protegendo dos livros que caíam. Me senti meio mal por deixar que todo aquele peso caísse em suas costas


— E-eu não precisava da sua ajuda! — Tentei me desvencilhar de seus braços que me seguravam. E que braços hein. — Me solta, Jeongguk!


— Relaxa, branquinho. — Ah, vejo que vou ter que me acostumar com esse apelido. — Mas o que voc-


— O que que foi? — Uma, duas, três vezes que eu lhe chamei. — Jeongguk!


— Esse livro... — Mal educado, será que ele não sabe que pegar um objeto da mão das pessoas é uma puta falta de educação?


— E o que que tem? — Ele encarava a brochura com um brilho encantador nos olhos. Ele era lindo.


Les Misérables, certo? — Foi aí que boa parte dos meus pensamentos ruins sobre ele começaram a ser duvidosos. — É um dos meus livros preferidos!


— Sério? — Ele movimentou sua cabeça em concordância, e sorriu. — Eu não sabia que gostava de livros assim! Les Misérables é o meu preferido também!


— Bom...temos algo em comum! — O Jeon me guiou até uma mesa arredondada e sentamos um na frente do outro. — Porque gosta dele?


— Por toda a sua história, por todo o drama! — Nunca me senti tão confortável falando com ele. Jungkook tinha seus olhos atentos em mim, o que me deixava um pouco constrangido, mas continuei falando. — Jean Valjean foi preso injustamente! Isso me deixou muito bravo.


— Ele foi forçado a roubar um pedaço de pão, mas era para sua família! — Ele estava com o mesmo nível de empolgação que eu. — Eu mandaria decapitar aqueles policiais que o prenderam!


Estendemos essa conversa por quase uma hora, e nessa uma hora falamos apenas da ficha técnica do livro. Eu estava encantado com Jungkook naquele momento. Ele tinha um bom gosto para livros e... seu sorriso nesse momento era encantador. Será que eu estava errado esse tempo todo? Sinto que, deveria dar uma chance à aproximação dele. Jungkook parece não querer o meu mal, apenas me provoca, porque ele sabe que eu me irrito fácil.


— Eu também fiquei com raiva e tristeza quando a mãe de Cosette, Fantine, acaba morrendo!


— É, é verdad- — A fala de Jeon foi interrompida por um guarda que entrou com pressa.


— Vossa Majestade! — Ele parecia agitado.


— O que foi? — Jungkook aparentou ter se incomodado com a interrupção da nossa conversa. Oh céus, será que ele queria ficar mais tempo comigo e por isso se incomodou? Ok, estou me iludindo demais.


— Trago-lhe uma má notícia. — O guarda começou a me encarar. — Mas peço, por sua gentileza, para falar com o senhor em particular.


— Jimin, já volto. — Suspirou.


— Ok... Vai lá. Deve ser importante. — Também fiquei meio chateado. Justo quando a conversa estava ficando boa!


Passei alguns minutos esperando, mas ele demorou. Então, como estava sem nada pra fazer, decidi procurá-lo. Já esperava ter que desistir por ter que rodear o grande palácio, mas só de virar à direita em um corredor, o encontrei conversando com o guarda.


— Jungkook? — Perguntei ainda longe. Ele aparentava estar irritado com o que o homem falava.


Ele continuou prestando atenção no que escutava. Entretanto, sei que me ouviu, pois fez um sinal com a mão para que eu esperasse. Percebi que a coisa estava ficando séria quando vi outro guarda - de patente mais alta - andando até eles. Não sei o que o mesmo falou, mas assim que o Jeon ouviu, assumiu imediatamente uma expressão preocupada. Meu maior medo foi quando ele começou a se aproximar com aquela cara.


— Jimin... — Falou baixo, já perto de mim. Segurou minhas mãos e, eu podia sentir nervosismo nele.


— Hum? — Tentei perguntar de forma simpática. Aquela cena me assustava, pois tal expressão nunca adornou a face de Jungkook.


— Sua mãe... — Sua voz soou fraca. — Não suportou... Ela faleceu, Jimin.



(Sendo Reescrita Como Outra Fanfic)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora