Finalmente

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Todos que assistiam as indicações, permaneciam no pátio. Uns celebrando as suas indicações, outros se despedindo dos amigos feitos ao longo da estadia no castelo, e muitos comentando sobre a estranheza do último dia de indicação.

As palavras de Anabelle ainda ecoavam para mim. E eu não sabia o que o futuro nos reservava, não sabia que propósito poderia ter nisso tudo. Não sabia como ajudar Anabelle a lidar com o que eu também não estava lidando bem, mas sabia exatamente o que eu ia fazer.

Sai do pátio, rumo aos dormitórios, sem me importar com quem estaria lá, ou se Anabelle e os outros viriam comigo. Só tinha uma coisa em mente, a caixa da minha mãe.

Na entrada do dormitório, um Mestre de Ofício aguardava a o retorno das meninas com uma espécie de livro na mão, onde tomava notas e passava informações para quem estava chegando.

— Que bom, as três! — Disse ele olhando em nossa direção. Olhei para traz e vi que elas e Hugo estavam logo atrás de mim. — Junte suas coisas, passarão ao alojamento permanente. — Disse ele, sem cerimônia nenhuma, e acrescentou olhando para Hugo. — Vá ao alojamento masculino, e faça o mesmo. Lhe encontramos no caminho.

Aquilo nos pegou de surpresa, Hugo não obedeceu de imediato, era óbvio que ele queria permanecer conosco. Mas, Mestre de Ofício nos apressou com um movimento de mãos, e um "vamos, vamos", e Hugo não teve escolha.

— Não demoro, — Disse ele, se despediu de nós. E se afastando quase correndo, em direção ao seu alojamento.

Entramos no dormitório e encontramos algumas das garotas indicadas recolhendo suas coisas e guardando seus colchões para poder seguir viagem com suas novas casas. E foi assim que descobrimos que fomos as únicas meninas que não foram indicadas!O Mestre de Ofício nos apreçou novamente, E começamos a fazer o mesmo, recolhendo os nossos pertences, para ir de encontro aos garotos que estavam na mesma situação que a nossa.

Quando chegamos, Hugo esperava em frente ao seu alojamento, com a suas coisas organizadas em uma elegante bolsa de viagem, atravessada ao peito. Não sei como não tinha percebido antes que o garoto vinha de uma família de posses!

—Ótimo, — disse o Mestre olhando para Hugo, e seguindo o caminho, com nós em seu encalço. — Os quatro dividirão um aposento até que suas situações mude, aqui na Torre. — Explicou ele. — Continuarão cumprindo tarefas para auxiliar no andamento do Castelo.

—Espera, — Interrompeu Hugo, e fez a pergunta que estava quase me matando. — Só nós, não recebemos uma indicação?

O Mestre de Ofício, pareceu aborrecido com a intromissão de Hugo, mas vendo o interesse de todas, respondeu.

—Isso, mesmo. —Não pareceu dar importância ao fato e sem deixar brechas para perguntas continuou passando instruções. — Cumpram as ordens, obedeçam as regras, aproveitem suas folgas, e sempre serão bem vindos na Torre. — Disse ele sem se importar. — Do contrário, são expulsos, sem que tenham a chance de uma segunda indicação.

Entramos em um corredor longo e escuro ladeado por portas em toda a sua extensão. O Mestre parou em frente a uma das portas com um molho de chaves nas mãos, usando uma delas para abri-la. Do bolço da calça bege que usava, ele tirou um chaveiro menor, e entregou ao Hugo.

— Há uma chave para cada. É de vocês a responsabilidade de cuidar de seu aposento e pertences. —Sem realmente dar importância, continuou com a sua tarefa de dar instruções. — Sugiro que desenvolvam um bom relacionamento. Brigas não são toleradas. Aproveitem o restante do dia e estejam prontos para receber suas tarefas amanhã, no refeitório. Alguma dúvida? Perguntou ele apenas por protocolo, — Ótimo.  —Cortou ele, e foi embora, nos deixando perplexos para traz.

O quarto era modesto, com duas beliches, uma de cada lado. Uma mesa com quatro cadeira em um canto. E uma cômoda com quatro gavetas em outro. Ao lado da cômoda estava posicionado um biombo de madeira que oferecia uma breve privacidade para a troca de roupas. Entre as camas tinha uma mesinha estreita e sobre ela, um jarro de barro com água, e duas canecas iguais sobre uma bandeja de ferro. No centro, em um candelabro simples, tinha uma vela grosa, que seria a nossa iluminação quando a luz vinda da estreita janela alta, que ficava à acima da mesinha, não bastasse.

Presumi que, para nossas necessidades e higiene, um cômodo apropriado, deveria ser de uso coletivo, provavelmente no fim do corredor, assim como era no orfanato.

Celeste entrou no quarto e jogou suas coisas sobre a cama de cima o Beliche da direita. E eu escolhi exatamente o oposto. Sentando com minhas coisas, na cama de baixo da esquerda. Anabelle, sentou ao meu lado, sem se preocupar em escolher uma cama. E Hugo estava em pé, visivelmente desconfortável com tudo.

— Isso tudo está errado! — Disse ele exasperado, andando de um lado para o outro. — Eu, tudo bem. Mas Celeste, ou Bell? Até eu seria capaz de indicar vocês duas! — disse ele apontando para as meninas, e isso me chamou atenção. Mas antes de poder questioná-lo sobre o assunto ele prosseguiu com o dedo em riste para Celeste. — E não me diga que há um propósito!

Celeste só deu de ombros, e em um movimento ágil foi deitar em sua cama no alto da beliche.

—Talvez esse não seja o momento para discutir isso. — Disse ela simplesmente. — Afinal, chegou o momento da Nanica abrir a caixa.

Hugo parou sua caminhada pelo quarto para me encarar, Percebi que Anabelle prendeu a respiração em expectativa, e Celeste usou o braço para apoiar a cabeça e poder me ver lá do alto. Apesar de não ter planejado ter uma plateia, sabia que não podia mais adiar esse momento, pois nunca iria me sentir pronta de verdade para isso.

Busquei em minhas coisas, a caixa. Hugo veio para perto, e sentou em silêncio na cama à minha frente. Celeste também sentou, ficando com as pernas dependuradas para fora do beliche, balançando em expectativa. Olhei para Anabelle, que sorriu me encorajando com seus olhos brilhantes. Respirei fundo, coloquei a caixa sobre as pernas, e tirei a chave que estava presa em um cordão no meu pescoço, e sentindo o coração batendo forte abri.

Eu fiquei congelada. Pela minha mente, desde que recebi a caixa, imaginei que muitas coisas poderiam estar a li dentro. Mas, não estava preparada para ver minha mãe, ricamente desenhada, em uma gravura que tomava conta de todo o tamanho da caixa, encobrindo o restante do seu conteúdo.

Quando olhei para a imagem, compreendi as palavras de Otávio na floresta, eu era realmente muito parecida com a minha mãe! Ela estava de perfil, olhando para quem à retratou, com um sorriso alegre, e olhos vivos. Usava um vestido bonito, com suas faixa em destaque na cintura fina, no entanto, o que mais me chamou a atenção é que ela usava os cabelos cortado curto, como os de um garoto, revoltados e desafiadores. Era uma pena que a gravura não fosse colorida, mas eu já sabia que o vermelho dos meus cabelos era um presente seu.

— É ela? — A pergunta de Anabelle, me trouxe e volta, confirmei com a cabeça pegando a gravura com cuidado, sentindo os olhos se encherem de lagrimas, apertei ela contra o peito como um abraço que eu nuca poderia lhe dar, enxuguei as lágrimas com a manga do meu vestido, decidida a seguir em frente. —Posso ver? — Perguntou ela, e eu lhe entreguei a gravura, voltando a minha atenção para o resto do conteúdo da caixa.

A próxima coisa que vejo é um documento, enrolado e preso com uma fita lilás. Assim que vi, soube do que se tratava. Desmanchei o laço da fita com cuidado, e desenrolei a carta, usando a tampa da caixa como apoio. Admire a caligrafia caprichosa e bem desenhada do documento por um momento. E por fim, li as palavras que minha mãe deixou para mim.

!!!


Abriu!!!!!!!

Muitas emoções aguardam o próximo capítulo!

Me contem o que estão achando!

Votem!

Gostaria  de dedicar a abertura desta caixa a leitora que mais ansiou por este momento!

@EduardaZaffa, Beijokas Linda!


Sete Regiões A lenda dos DragõesWhere stories live. Discover now