12.05.18 - Sábado

Começar do início
                                    

O desprezo na voz dele era palpável, e até o Nicolas notou. Perguntou qual era o problema, mas o brutamontezinho (não tem descrição melhor) disse "nada, não", mas deu aquela conferida em mim mais uma vez quando entramos. Um olhar agressivo, que dizia perfeitamente que eu tinha que me cuidar pra não ser esfolado vivo.

Deu um gelo ruim na espinha. Um mau pressentimento daqueles que faz a gente querer enxergar o futuro pra saber se é problema mesmo, ou se é só paranóia.

O Orczinho ia andando na frente, no caminho de pedra até a casa, como se o dono dali – EU – não estivesse presente (não consegui deixar de pensar que esse Marcus parecia o tipo de filho que meu pai sempre sonhou em ter). Eu e o Nicolas íamos logo atrás enquanto o Marcus comentava as partes do mato que precisavam de mais atenção, e coisas assim. O cara poderia ser o que fosse, mas parecia um tipo de líder. Sem nem ter andado em tudo ele já separou o terreno em alas e disse que iríamos em uma de cada vez, para que o trabalho fosse produtivo. O Nicolas piscou pra mim e falou "Não disse que ele seria útil?". Eu não estava exatamente animado com o cara ali, então só fiz um "aham" baixinho.

Quando chegamos em casa a Jack estava descontando a raiva num tufo de mato, com a enxada (na hora lembrei do Seu Antonio machucando o pé ao fazer a mesma coisa... e me deu um gelo...). O Marcus já foi chegando nela chamando de docinho e tentando dar um beijo.

Mas ela não deixou.

Aquela Jaqueline "zen" que me deu um selinho não estava ali. Aquela era uma mulher arisca, com garras, e sem nenhum pingo de vontade de dar bitocas (estou totalmente do lado dela). Ele levantou as mãos (tipo se rendendo) e se afastou dela. Começou a dar as instruções, já. Disse que iria pegar uma carriola que tinha no carro, e já distribuiu as enxadas pra gente. Quando ele nos separou de acordo com as alas do terreno, a Jack disse que iria ficar comigo.

Nossa, eu tive que fazer força pra não demonstrar decepção. Tadinha dela... Eu gosto da Jack. Mas... né? Você sabe bem com quem eu queria ficar.

Mas eu sabia que o dia ia ser longo, então beleza (muita água podia rolar ainda). O Marcus pediu pro Nick ajudar ele com umas coisas no carro (o cara é super preparado: além da carriola tinha mais umas tralhas pra facilitar nosso serviço). Quando eles ficaram longe, a Jack pediu desculpas. Eu dei uma de desentendido, e perguntei o motivo. E ela: "Eu não quero ficar sozinha com ele, e também não quero que você fique sozinho com ele".

Era óbvio que eu não queria ficar a sós com ele, depois da encarada assassina que recebi. Mas continuei perguntando o motivo e, como sempre, a Jack deu aquelas respostas diretas: "Ele não tem um sentimento muito bom com garotos como você".

Hum, garotos "como eu", né? Aiaiai. E eu que tinha pensado que ele estava só demarcando território (aquela coisa de ex-namorado possessivo perto de outros homens, sabe?). Mas é bem pior. Ela percebeu que eu fiquei meio aéreo, porque colocou a mão no meu ombro pra me chamar de volta à Terra. E a única coisa que consegui pensar pra responder foi ridículo... "Eu dou tão na cara assim?".

Aff... Por que eu fui perguntar aquilo?

Mas ela não ligou. Disse que de início não percebeu. Que eu não "dou pinta", nem nada. Mas aí explicou que durante a festa da piscina ela notou como eu olhava pro irmão dela, e que daí em diante foi só observar mais algumas "dicas" dos meus olhares.

Que merda... Então eu sou um idiota apaixonado que dá bandeira sem nem perceber. Putz, depois disso eu achei até bom que a divisão era eu com a Jack (quis me esconder num dos túmulos lá do cemitério e sair só quando todos fossem embora). E ela, mais uma vez me lendo, falou "Ei, Isaac, relaxa... Eu não vou deixar ninguém te machucar".

O Monotono Diario de Isaac [BETA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora