27

15.6K 959 58
                                    

  

–  Nina

  

    Podia ainda sentir os seus lábios colados aos meus; podia ainda sentir o calor do seu corpo mesmo que este estivesse encharcado de chuva, tal como o meu; podia ainda sentir o quão macia a sua pele era pois agarrava o seu pescoço como se dependesse de tal coisa. Dizem que o nosso primeiro beijo não interessa, que é insignificante e provavelmente mau. O meu não foi. Eu senti-me imensamente bem e segura. A maneira de como Luke agarrava o meu rosto para nos aproximar e intensificar o momento deixava-me com a cabeça às rodas e com os joelhos a fraquejar, como se eu fosse cair a qualquer momento.

    Sentir algo por alguém não era assim tão mau quanto diziam. Algumas pessoas declaram que o amor é uma porcaria e que só nos faz sentir mal; mas eu não acredito nisso agora. O amor não correspondido, esse é que é uma treta. Sentir algo, talvez até amor, por alguém, não nos faz mal nenhum, só nos mostra que somos humanos e que ainda temos humanidade em nós.

    A quantidade de coisas que vagueia pela minha mente é impressionante. Posso ter algo para fazer, posso estar deitada na minha cama a estudar – como agora... Mas acabo sempre por fazer uma viagem ao mundo da Lua.

    As pontas dos meus dedos estavam pousadas sobre os meus lábios. Ainda sentia uma espécie de electricidade sobre os mesmos, embora já tivessem passado umas boas horas. Não conseguia parar de sorrir e repetia o momento vezes e vezes sem conta na minha cabeça.

    Suspirei pesadamente e larguei o livro de geografia massacrante, pousando-o em cima da minha secretária cheia de folhas com rabiscos e músicas escritas. Olhei em volta e cruzei os braços, não sabendo o que poderia fazer numa sexta feira à tarde.

    Decidi então sair de casa, mas assim que desci as escadas, ouvi alguns gritos vindos da cozinha.

    "Eu não posso acreditar!" – uma voz feminina, a da minha mãe, fez-se ouvir – "Tu sabes que não estamos juntos e eu posso perfeitamente arranjar quem quiser! Ainda vives nesta casa mas isso não significa que continuemos casados!"

    "Mas fazeres isso à frente da nossa filha? Mostrares-lhe que tens um namorado? Ou melhor, vários? Nem esperava isso de ti, sinceramente!" – uma voz rouca e masculina falou. Supus que fosse a do meu pai. Há quanto tempo...

    "Tu também devias de te preocupar com ela, ao invés disso, estás sempre nessas viagens de trabalho!" – a minha mãe ripostou. Levei as mãos à minha face e esfreguei a mesma, tentando controlar-me um pouco.

    "Pelo menos tenho um trabalho e esforço-me, tu deves andar por aí a vadiar, não é?" – o meu pai respondeu. Esta discussão já estava a ficar pesada demais, por isso, optei por caminhar até à cozinha em passos lentos e curtos, com calma.

    "Chega" – pedi num tom gentil e ambos se viraram de imediato para mim.

    "Nina, por favor, vai para o teu quarto. Estamos a falar de assuntos sérios" – a mulher, – que nem sei se poderia chamar de mãe – disse. Olhei-a durante breves segundos e depois desviei a atenção para o meu pai, que se tentava acalmar.

    "Até logo, pai" – despedi-me apenas dele e saí disparada de casa.

    Não tinha nenhum lugar para ir, mas estava calma. Este tipo de discussões não me incomodava. Sabia que nada ia mudar nem voltar ao normal, então, para quê estressar-me com isso?

    É claro que gostaria de ter uma família feliz e organizada. Parece que aqui nem se preocupam comigo. E até que não me importo com isso. Sinto-me feliz assim porque tenho mais coisas a que dar atenção.

Treehouse ➤ Luke Hemmings [Completed]Onde histórias criam vida. Descubra agora