Do Fundo do Meu Coração - Dramas e Confidências de um Garoto Apaixonado

CAPÍTULO 20

Gina e João deixaram de lado a conversa fiada assim que perceberam que algo estava errado, e agora seus olhares buscavam um no outro a resposta sobre o que deviam fazer. Eles podiam tentar chamar o nome de Breno mais uma vez, embora fosse improvável que ele respondesse depois de tê-los ignorado nas primeiras tentativas. A segunda opção era pedir a ajuda de alguém — um adulto, de preferência —, mas talvez isso só fosse piorar as coisas, afinal, os dois sabiam o quanto Breno detestava ser o centro das atenções, mesmo que se tratasse de uma emergência.

Atraídos por um som gutural, que lembrava o choro sentido de um animal indefeso, eles voltaram suas atenções para o amigo. Breno parecia ter saído do estado de choque e um soluço emergiu do fundo de sua garganta enquanto as primeiras lágrimas ameaçavam cair. Então, ele se lançou sobre o gramado cuidadosamente aparado e afundou o rosto nas mãos, como se não quisesse ser visto naquele estado.

— Breno, querido, você precisa falar com a gente — disse Gina, pisando em ovos. — Vamos sair daqui. Você não quer dar a esse bando de idiotas mais um motivo para tirarem sarro de você, não é mesmo? Respira fundo e segura as pontas.

Assim, amparado por Gina e João, como se não conseguisse andar por si mesmo, Breno se afastou até um ponto em que estivesse a salvo de olhares e ouvidos curiosos. No auge do pânico, ele sentia que a vertigem podia derrubá-lo a qualquer momento, mas ele precisava se recompor. Aquele, definitivamente, não era o momento de perder a cabeça.

— Alguém... alguém mexeu na minha mochila — falou, tropeçando nas palavras, quando se deu conta de que já não era possível adiar a verdade. As cartas estavam sobre a mesa, em plena vista, e Breno precisava fazer sua jogada. — Eu sei que tenho agido estranho com vocês, e que os amigos não devem se tratar desse jeito, mas tudo tem um motivo... São coisas sobre mim que vocês não sabem. Eu queria muito poder explicar tudo direitinho, mas agora só preciso saber o que está acontecendo!

Em palavras poucas e vagas, ele lhes contou sobre o diário desaparecido. Gina e João trocaram um olhar confuso, mas aquilo pareceu o bastante para que entendessem a gravidade da situação.

De repente, Gina voltou-se para Breno com uma expressão de raiva, apertando os dedos das mãos e fazendo saltar as veias do pescoço. Sua garganta emitiu um rosnado que a fez parecer um cão de guarda prestes a atacar. Atrás dela, João encolheu os ombros como quem acabava de ter um péssimo pressentimento. Então ela deu o primeiro passo, e foi quando Breno percebeu que ela encarava alguma coisa por cima de seus ombros — a direção na qual Gina seguiu, pisando firme, antes que os dois tomassem coragem de acompanhá-la.

Até mesmo os pássaros se calaram, como se sentissem no ar a tensão daquele momento. Gina, Breno e João atravessaram o gramado cheio de gente que se esparramava em panelinhas, todos concentrados em seus lanches, risos e celulares. Mais adiante, à beira de um lago que refletia o azul do céu como se fossem uma coisa só, Ruan e sua gangue agiam de forma bastante suspeita.

Eram três hienas, devorando sanduíches tão grandes quanto suas cabeças e rindo daquele jeito malicioso que deixaria qualquer um incomodado só em tentar adivinhar o motivo.

— Pelo visto, o que tem de espaço na barriga de vocês é o mesmo tanto que falta de vergonha na cara! — Gina saltou diante deles, mas nem sua voz engrossada pela fúria conseguiu intimidá-los. A única reação do trio foi uma gargalhada de bocas cheias, que só foi interrompida quando Codinome se engasgou com um pedaço de pão. — Fiquem à vontade. Por mim, podem rir até dar cãimbra. Meus parabéns pela pegadinha genial, mas acho que a piada já perdeu a graça. Devolvam o que vocês pegaram do meu amigo aqui e vamos esquecer esse... incidente.

Naquele momento, Breno e João sentiram o tempo fechar de vez. Podiam até ouvir os trovões quando aquelas caras debochadas se amarraram de repente e Ruan se levantou de um pulo, caminhando até Gina como se fosse capaz de esmagá-la com o polegar.