PRÓLOGO

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Meu Diário...

Espero que compreenda a ausência da saudação "querido". É que, você sabe, soaria patético usar essa palavra tão cedo. Afinal, ainda não criamos intimidade. Concorda?

Por outro lado, parece que você e minhas meias já são melhores amigos... Certo? Aposto que ficam de segredinhos e contando piadas lá no fundo da gaveta. Devem ter suas panelinhas e seus inimigos mortais... Por que não? As coisas funcionam assim em qualquer lugar do mundo. Seria diferente no meu guarda-roupa?

Ok, pausa na viagem. O fato é que eu talvez lhe deva um pedido de desculpas... embora meu erro seja perdoável. Eu sei que talvez seja difícil esquecer o mofo, as teias de aranha e as traças... mas estou aqui para propor um recomeço. Ou melhor, um começo. Já o meio e o fim, isso eu não posso garantir...

Vamos ao que interessa. Me chamo Breno, e fui eu quem te "adotou" há mais ou menos uns três anos, achando mesmo que poderia render um bom protagonista para a história que só agora resolvi registrar nestas linhas... Tenho (quase) 13 anos e estudo no oitavo ano do Colégio Edith Mazur. O que eu tenho de especial...? Talvez apenas o meu gosto anormal por reticências. Eu amo reticências... elas tem o estranho poder de dizer mais do que pretendo e agregar uma emoção diferente às palavras. E, sinceramente, emoção não é algo que as pessoas costumam associar a qualquer coisa vinda de mim... Odeio ter de concordar com elas, de vez em quando.

Continuando...

Minha família não é o que a sociedade chamaria de família tradicional. Aliás, não é exatamente o que chamaria de "família". Mamãe e eu vivemos numa pensão simpática e aconchegante - tão simpática e aconchegante quanto as pensões podem ser - e é sob esse teto que a nossa vidinha simples acontece. Minha mãe segura todas as pontas por aqui, incluindo as contas, a limpeza e os reparos que precisam ser feitos de vez em quando...

Papai? Bem... a verdade é que faz um tempinho que não nos vemos. Nada com que eu precise me preocupar, afinal, ele sempre vai estar aqui para o meu próximo aniversário ou para o Natal. Eu nunca entendi muito bem qual é o trabalho dele, mas tem algo a ver com seguros de vida.

Enfim, meu Diário, algo me diz que este ano você me será útil.

Acredita em intuição?  

Do Fundo do Meu Coração - Dramas e Confidências de um Garoto ApaixonadoWhere stories live. Discover now