Breno Souza é apenas mais um menino de 13 anos de Passaredo, uma cidadezinha no interior do Paraná em que nada de extraordinário costuma acontecer. Ele vive com a mãe na casa onde alugam quartos para sobreviver, e é ali que a ausência do pai se torn...
Breno deu uma olhada nada discreta no relógio de pulso antes de bufar com impaciência. Ainda faltavam uns bons minutos para a aula começar e Gina não dava sinais de cansaço.
— Você nunca foi capacho de ninguém, Breno — ela continuava a expressar seu desgosto, num tom acima do socialmente aceitável. — Se tivesse ficado sabendo antes, eu jamais permitiria que você fosse em frente com essa besteira!
— Está sendo dramática, Gina. — Breno ajeitou a alça da mochila num único ombro, tentando parecer indiferente. — Nem deu tanto trabalho assim.
— Claro, porque você é inteligente. Coisa que aqueles três brutamontes não são! Aliás, a questão nem é essa. Eu te dou dez segundos para me dizer um motivo digno para ter feito isso.
— Hã... manter meu pescoço a salvo?
Ela o fuzilou com seus olhos castanhos, assumindo uma expressão de vilã de novela das nove:
— Francamente, Breno. Que decepção.
Breno mordeu o lábio inferior, sentindo a vontade de esganá-la chegar ao ápice. Que opção ele tinha? Sua integridade física ainda era mais importante que seu código ético.
Porém, quando Gina se mostrava irritadiça, era suicídio tentar contrariá-la.
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"Salvo pelo gongo", Breno teve vontade de dizer quando o sinal tocou. No entanto, como na maioria das vezes, preferiu manter a frase no plano mental. Além do mais, não valeria a pena incitar o stress de Gina gratuitamente.
Quando os alunos começaram a trocar o saguão pelos corredores, Breno dedicou-se à única coisa que o afastaria da pilha de nervos de Gina, sem que parecesse uma fuga: embrenhar-se no mar de gente até alcançar João, que aparentemente não os tinha visto.
Tal suspeita se confirmou quando João simplesmente desapareceu, como um holograma defeituoso.
Da mesma forma repentina, Breno quase caiu para trás ao se deparar com um par de corpanzis bloqueando a porta da sala.
Antes mesmo que Ruan e Chico lhe estendessem as mãos, entretanto, Breno já havia retirado o trabalho de Geografia da mochila. Com amargor, relembrou as horas - e os trocados - perdidos na lan house da esquina, e a desculpa esfarrapada que precisara inventar à mãe para acobertar tamanha humilhação.
Quando os dois se apoderaram do trabalho como um cachorro que avança sobre o osso, Breno não recebeu sequer uma menção de agradecimento. Mas também não sofreu com os socos "cordiais" que Ruan e Chico costumavam trocar entre si, o que era um bom motivo para sentir-se grato.
Ao pôr os pés na sala, Breno se deparou com o tipo de cena que embrulhava o estômago das mocinhas de filmes high school americanos. De fato, mesmo não pertencendo à categoria, ver a atenção de Luigi sendo disputada como um pomo dourado pelos colegas era o tipo de babaquice que Breno repudiava.
