CAPÍTULO 13

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Dar as caras no colégio na terça-feira foi uma verdadeira prova de fogo. Como se não fosse horrível o bastante ter de lidar com a frieza de Gina e João, Breno ainda tentava se manter mentalmente são para receber a nota da prova - que basicamente decidiria o seu destino nos próximos dias. Nada que o constante pensamento em Luigi e Renata, o casal da vez, não pudesse deixar mil vezes pior, com direito a uma vontade quase irresistível de vomitar.

Sozinho em um canto do pátio, envolvido por um grosso moletom em virtude da manhã fria, Breno se deteve a observar um sabiá que saltitava entre as lanças da grade de metal. Naquele dia todos os olhares, de colegas a professores, pareciam fazer uma leitura em raio-x da sua alma, e a possibilidade de ver seus segredos expostos de maneira tão insidiosa fez com que ele sentisse calafrios maiores do que qualquer um provocado pelos ventos do inverno.

Foi então que uma lufada do perfume tão conhecido se lançou sobre ele, carregada pelo vento, e um comichão em suas costas o impeliu a olhar para trás. Breno não sabia se queria mesmo se submeter a mais aquela tortura, mas o instinto foi mais forte e, antes que desse por si, a figura de Luigi surgiu à sua frente, estática, exalando um fio de vapor pela boca entreaberta.

O olhar de Luigi era tão frio quanto o ar, mas Breno decidiu ignorar esse detalhe ao se aproximar, a passos débeis.

Ciao — ele disse, a voz trêmula, e o amigo deu um passo para trás. — Tudo certo aí, Luigi? Você tá com uma cara... engraçada.

Breno mordeu o lábio inferior quando Luigi alargou a distância entre eles, as mãos na cintura, olhando para todos os lados em busca de alguma coisa indefinida - talvez um buraco onde ele pudesse se esconder. De repente, por mais que não conseguisse definir com precisão a sensação que o tomou naquele momento, Breno sentiu-se doente. Não só doente, como contagioso. Estava claro que Luigi não queria contato físico, mas então ele pareceu prender a respiração como quem evitasse dividir até mesmo o oxigênio.

— Ei, algum problema, fratello? — avançou Breno, incerto, estendendo a mão enluvada em direção à jaqueta acolchoada de Luigi. — Se preferir, podemos bater um papo em algum lugar menos... cheio de gente intrometida.

Scusami, Breno, não vai rolar. — Luigi afastou o braço do amigo com uma violência desmedida, antes de exalar um suspiro pesado e gaguejar a primeira desculpa que lhe ocorreu. — Eu... Nós... A aula vai começar em um àtimo e preciso revisar o conteúdo. É isso aí. Arrivederci*!

Lugi então sumiu na multidão, sem olhar para trás, carregando com ele a corrente invisível que arrastava o coração de Breno para fora do peito.

A professora de matemática já estava na sala quando Breno chegou, passou reto pelos colegas - evitando qualquer contato visual - e colou o bumbum na cadeira, agarrando-se a ela com tanta força que sua vida parecia depender disso

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A professora de matemática já estava na sala quando Breno chegou, passou reto pelos colegas - evitando qualquer contato visual - e colou o bumbum na cadeira, agarrando-se a ela com tanta força que sua vida parecia depender disso. Ele podia sentir o desgosto estampado nos olhos bem delineados da professora, o que indicava que a turma toda havia ido tão mal na prova quanto ele, talvez até pior.

Do Fundo do Meu Coração - Dramas e Confidências de um Garoto ApaixonadoWhere stories live. Discover now