CAPÍTULO 8

62 10 7
                                    

"Nossos sentimentos não precisam fazer sentido. Só precisam nos fazer bem"

Camilla

Querido Diário,

É com essa pérola de sabedoria - apenas uma entre as tantas que a Camila deveria registrar em um livro - que venho aqui, dar o ar da minha graça. E já vou dizendo que sinto muito, porque hoje o nosso papo não vai ser dos mais agradáveis... Falando sério, o que eu preciso é de um ombro amigo, mesmo que seja feito de papel e tinta.

Me diz uma coisa, você sabe de alguém que já tenha conseguido definir com precisão o que é o sentimento? Como ele funciona, por que existe, como lidar...? Algum filósofo ou biscoito da sorte chinês? Tem coisas que nem Freud explica, eu sei, mas isso não impede que todos nós, em maior ou menor grau, nos metamos a besta em busca de certas respostas... O sentimento, Diário, é uma dessas perguntas - uma em que eu nunca prestei muita atenção, mas, confesso, tem se mostrado bastante intrigante.

Talvez eu tenha julgado mal as coisas. Talvez, preso àquela ilusão de que cada um tem controle sobre si, eu tenha subestimado o poder devastador do destino... A gente se engana até onde pode, nem sempre por medo, mas também por ignorância. A verdade é que, mais cedo ou mais tarde, já cansados de tanto andar, correr, fugir, a gente sempre acaba à beira de um penhasco... Sem poder continuar o caminho do mesmo jeito, somos desafiados a pular ou simplesmente dar meia volta.

Na boa, Diário, eu não espero que entenda metade do que tô tentando escrever aqui. Você não tem pele, hormônios, coração. Pode se dar ao luxo de atravessar toda uma vida útil sem sentir as piores dores, físicas ou não... Você pode até não entender, mas, cá pra nós, meus neurônios também costumam dar curto circuito de vez em quando.

Para ser sincero, Diário, minha vantagem sobre você não é assim tão grande. Tem coisas que a gente só conhece de ouvir falar... que parecem tão fora de alcance, que nunca vão acontecer conosco. E, talvez por causa dessa distância, acabamos esquecendo que elas existem - ou até mesmo duvidamos de que sejam reais... Até que essas coisas resolvam vir à tona, nos pegando desprevenidos e nos fazendo sentir - e pela primeira vez entender - suas verdadeiras dimensões.

Sim, eu também tô falando de amor - seja ele um sentimento, uma energia cósmica, uma espécie de feitiço irreversível ou um estado de espírito que nos compromete em todos os sentidos imagináveis... Enfim, digamos que eu acabei descobrindo, por conta própria, que a tentativa de entender o amor é uma tarefa tão inútil quanto frustrante.

Mas, como eu disse ali atrás, as coisas vem à tona... E, no meu caso, o amor veio se instalando devagarinho, comendo pelas beiradas, até se fazer perceber - até não deixar alternativa... Meu primeiro amor - se é que essa coisa realmente existe - surgiu no momento em que Luigi chegou. Um sentimento que tomou conta de mim como um vírus, atacando minhas defesas e tomando forma... virando gente, sorriso, olhos verdes... assumindo o papel de uma corrente invisível que me prende, que me impede os movimentos ao mesmo tempo em que me obriga a tomar alguma atitude.

Então me diz, Diário, vê se pode me ajudar: como posso decidir o próximo passo se nem mesmo sei aonde quero chegar?

Do Fundo do Meu Coração - Dramas e Confidências de um Garoto ApaixonadoWhere stories live. Discover now