Do Fundo do Meu Coração - Dramas e Confidências de um Garoto Apaixonado

CAPÍTULO 19

Por mais animado que estivesse, Breno acabou vencido pela paisagem monótona que se repetia às margens da rodovia e, com um bocejo, rendeu-se enfim ao sono. No começo, não passava de uma soneca preguiçosa que, embalada pelo contínuo balanço da viagem, foi pesando mais e mais até mergulhar naquele estado de consciência em que o cérebro também decide tirar um cochilo, aí tudo vira um grande borrão e não sabemos mais se estamos vivos ou mortos.

Não muito depois ele arregalou os olhos, sobressaltado com o solavanco de uma freada brusca. Com os pensamentos entorpecidos, ele não conseguiria lembrar de imediato nem o próprio nome, muito menos quanto tempo havia se passado. Mas de uma coisa teve certeza, no exato momento em que se voltou para a janela, espiando por sobre os cabelos desgrenhados de Gina: aquele era o lugar.

Como se um interruptor tivesse sido acionado de repente, reacendendo a energia de Breno ao máximo, ele juntou-se à fila de alunos ansiosos que se atropelavam na descida do ônibus. Lá fora, uma paisagem de tirar o fôlego se impunha aos visitantes: ciprestes impressionantes erguiam-se em meio à neblina daquela manhã de inverno, rodeados por arbustos das mais variadas cores e formas, que se estendiam por um imenso tapete verde.

Breno só conseguiu pensar que tudo aquilo era como um jardim encantado dos contos de fadas, e logo imaginou uma linda princesa rodopiando o vestido por entre as árvores, seguida de perto por um bando de animaizinhos falantes. Talvez houvesse uma fonte da juventude escondida em algum lugar, ou até uma vila minúscula habitada por duendes e gnomos. Até mesmo o cheiro da grama orvalhada tinha algo de mágico.

— Pessoal, só quero um minutinho da atenção de vocês! — A voz da diretora pairou, surda, sobre o estacionamento. Ela estava a poucos metros do portão do jardim botânico, onde um rapaz barbudo e sorridente esperava por eles. — Antes de continuarmos com o nosso passeio, quero que conheçam o Fernando. Ele trabalha aqui já há bastante tempo, e tenho certeza de que ele poderá esclarecer qualquer dúvida a respeito deste lugar maravilhoso!

— Tudo bom, galera? Sejam todos bem-vindos ao Horto Florestal de Faxinal do Céu — falou o rapaz, exibindo o crachá identificador que até então se escondia no interior da jaqueta. — Eu sou o guia de vocês e vou acompanhá-los durante toda a visita. No fim do dia, eu espero que vocês gostem bastante desse passeio e consigam entender a importância do nosso trabalho aqui em Faxinal. Bom, já que temos muita coisa para conhecer e muitas fotos para tirar, é melhor não perdermos mais tempo. Alguma pergunta antes de seguirmos em frente?

Breno apertou os lábios enquanto os colegas trocavam olhares, visivelmente ansiosos por atravessar aqueles portões. Alguns inclusive se agarravam às alças das mochilas, do mesmo jeito que Breno fazia quando estava nervoso, e foi então que ele se deu conta de que era a única pessoa por ali que havia deixado todo o material no ônibus. Num gesto instintivo, ele tateou os próprios ombros para se certificar de que a mochila não estava mesmo ali, e uma sensação ruim atravessou seu estômago como uma espada afiada. A primeira coisa que lhe veio à mente foi o diário, com todos os segredos que se escondiam em suas páginas.

Assim, enquanto a diretora distraía Fernando e os alunos com uma infinidade de perguntas sobre a história do lugar, Breno correu de volta ao ônibus e, no instante em que alcançou a porta, parou para recuperar o fôlego. Ofegante, ele sentou-se em um dos degraus que separavam a entrada do assento do motorista, e, além daquele ar frio, um perfume extremamente doce preencheu suas narinas dilatadas.

Aquela nova informação foi o suficiente para que o mundo parasse por um momento — ou talvez fosse apenas a sua respiração. Os sentidos se aguçaram, buscando uma resposta que fizesse sentido. De alguma forma, aquele cheiro parecia familiar. Então Breno levantou, já refeito da corrida, e foi em direção ao seu assento, quando a origem do perfume se revelou — de modo bastante suspeito.