CAPÍTULO 5

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Breno abriu a porta e lá estava ele, sorrindo na soleira, com um pacote do que parecia ser o típico zeppole* napolitano.

Uma visita de dar água na boca, ele pensou em sua intimidade. Literalmente.

— Espero que goste da surpresa — disse Luigi, estendendo-lhe gentilmente as guloseimas. — Não resisti e provei alguns no caminho. Você vai adorar. Saíram diretamente do forno da Don Palacci!

— Alguma dúvida de que eu vou gostar? — Breno riu, sem graça, convidando o amigo para entrar. — Desse jeito fica difícil ganhar a guerra contra as espinhas!

Luigi parecia estranhamente à vontade no interior da pensão, considerando o fato de que ele nunca estivera ali antes. Toda a timidez que exalava dele desde o dia em que chegara a Passaredo de repente se tornou um cartão de visitas ultrapassado.

Naquele momento, uma sensação de familiaridade perpassava o verde de seus olhos. E o sorriso, sob a penumbra daquele pequeno cômodo, era sem dúvidas o mais bonito.

— Breno — ele disse com cautela ao perceber que estavam a sós. — Eu preciso dizer o quanto me sinto grato por você ter me estendido a mão assim que cheguei. Dentre todas as pessoas que me deram as boas-vindas, sei que você é o cara que mais tem se empenhado em me fazer sentir em casa. Bom... você tá conseguindo. Graças à nossa amizade, este lugar se tornou um lar para mim.

Ele se aproximou, envolto em uma nuvem de perfume e feromônios.

Grazie, meu irmão...

E, então, Breno abriu os olhos. Sentiu o peso da realidade estampado no teto de seu quarto, em detrimento da doçura de Luigi - e seus deliciosos zeppoles (não que ele já tivesse provado, mas aquelas bombinhas calóricas não tinham como ser ruins).

Naquele breve segundo, Breno se perguntou quem teria escrito o roteiro totalmente pirado e desconexo daquele sonho. Afinal de contas, onde tudo aquilo iria parar? Porém, uma necessidade mais urgente obrigou-o a checar o despertador sobre o criado-mudo.

Maravilha.

Como ele desconfiava, o relógio havia parado. E, apesar de não saber as horas, ele tinha certeza de que estava atrasado. Terrivelmente atrasado!

Era quase meio-dia quando Breno respirou aliviado

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Era quase meio-dia quando Breno respirou aliviado. A despeito da bronca da mãe por estar atrasado, da marcação cerrada de Renata sobre Luigi e das provocações de Ruan e sua corja, ele sobrevivera bravamente a mais uma manhã de aulas.

Breno cogitou contar a Luigi sobre o sonho, mas resolveu deixar para lá. Afinal, as coisas poderiam ser mal interpretadas. Além do mais, se o garoto aparecesse na manhã seguinte todo sem graça com um pacote de zeppoles, Breno não se perdoaria.

Na saída, ele pensou ter visto um clima mais íntimo entre Luigi e Renata, mas preferiu acreditar que fosse mera impressão. Em todo caso, para evitar que o italianinho percebesse seu mau humor, Breno preferiu não se estender na despedida, sendo acompanhado por Gina e João no caminho de volta.

Do Fundo do Meu Coração - Dramas e Confidências de um Garoto ApaixonadoWhere stories live. Discover now