Cap. 67

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O dia amanheceu, e só havia eu, Monique e Leonardo naquela sala de espera. Acabei de acordar, minhas costas estão doendo pelo mal jeito que dormi sentada na poltrona. Olhei para o relógio na parede branca à minha frente, marcava exatamente onze e meia. Nossa, dormimos muito! Isso é o resultado de esperar até às três da manhã por mais notícias.

- Jade? - é, o médico já até sabia o meu nome. Acho que todos ali naquele hospital. Olhei para ele esperando que continuasse. - Jake acordou e...

Ele mal terminou e eu já saí correndo para o quarto dele. É, fui mal educada, mas era por uma boa causa. Ao passar em frente àquele vidro e vê-lo todo machucado novamente quase me fez desabar ao choro. Eu só não fiz tal ação pois faltava água no corpo. Seu braço direito estava engessado, a perna esquerda também. Ele parecia muito debilitado. Seu pescoço estava com um colar cervical, daqueles que usam em pacientes que torcem o pescoço e acabam muitas das vezes arrumando algum problema, como ligamento das vértebras da coluna. Com dezenas de arranhões no rosto, nos braços, nas pernas, e com alguns até abertos, mas que não eram tão grandes. Era algo horrível. Ele estava irreconhecível.

Vi ele olhando para o teto, ele realmente estava acordado. Eu estava tão feliz, era uma alegria imensa que nem o coração aguentava. Abri a porta do quarto, paralisando um outro olhar em mim. Jake não teve nenhuma reação, não sorriu, não ficou sério, ele só estava... Sem reação.

- Eu estava tão preocupada com você, não tem ideia do quanto me deixou louca com tudo isso e...

- Quem é você? - ele fez uma cara de interrogação.

Coloquei as mãos na boca, eu não posso acreditar que... Não... Ele não...

Imediatamente lágrimas que eu nem sabia que ainda haviam, caíram, e cada uma foi uma pedrada no coração. Me levantei e segui até a porta, chorando demais. Eu não acredito que depois que tudo estava dando certo acontece esse acidente e... Ele perde a memória. Sabe o que isso significa? Que nunca mais ele vai lembrar da nossa relação, nunca mais vai lembrar da Jade que implicava no Batalhão no início de carreira. Nunca mais vai lembrar dos rolês loucos com os amigos, e muitos menos dos amigos. Por que, meu Deus? Logo agora. Eu estava tão desesperada que eu nem me importava com as pessoas que me olhavam naquela situação passando pelos corredores.

Eu só queria o meu Jake, era pedir muito? O meu Jake. Aquele que lembra de mim, de nós, da nossa história, do nosso filho. E agora? Como vou contar para ele sobre o filho? Eu nem sei se vou conseguir contar. Pelo menos, não agora. Ai, por que dói tanto? Eu acho que em outras vidas eu fui um ser humano terrível, porque o tanto de coisas ruins que me acontece nessa, não é brincadeira.

- Jade?

- Amiga?

Ouvi a voz de todos eles. Ele haviam chegado para saber como Jake estava. Passei reto por eles, e chorando horrores. Eu estou sendo ignorante? Sim, estou, mas a vontade que eu tenho é de socar as paredes desse hospital até ele desabar. E para não descontar em ninguém eu apenas ignorei eles. Ninguém nunca sabe a dor de "perder" alguém, e ninguém sabe a dor que é ver alguém não se lembrar de seus momentos com ele. Ninguém sabe até passar na pele. E eu era uma dessas pessoas. Eu não sabia que era tão dolorosa a sensação.

Acenei para um táxi, que logo parou à minha frente. Ele percorreu comigo uns quinze minutos até chegar na minha casa. Paguei ao motorista e esperei na frente da portaria para abrirem para mim. Depois do elevador parar no meu andar eu abri a porta, desabando no sofá. Eu ainda não acreditava nisso tudo que estava acontecendo. Tudo desmoronando na minha cabeça.

Respirei fundo, me recompus, e entrei no quarto. Abri o guarda-roupa, peguei uma calça jeans lavagem escura e também um cropped de babado preto, e claro, uma calcinha. Busquei minha toalha na lavanderia, entrando logo em seguida no banheiro. Lavei o cabelo, e também hidratei. Esfreguei bem as mãos com sabonete no meu rosto, eu tinha que tirar aquela sensação de acabada que eu estava. É tão diferente você esfregar a barriga e lembrar que lá dentro tem um ser que, assim como você, vai nascer, crescer...

Terminei o banho depois de uns vinte minutos. Foi os vinte minutos que eu pude refletir. Me vesti, as minhas olheiras já tinham melhorado bastante, e o que restou, eu cobri com corretivo. Passei rímel para realçar o olhar, um batom vermelho, e pronto. Me olhei no espelho, eu estava BEM melhor do que quando entrei no banho. Respirei fundo, fechei os olhos e os abri em seguida.

Eu pensei muito enquanto estava tomando banho. É duro Jake ter se esquecido de tudo e de todos? Sim, foi algo que me fez chorar litros. Mas o que se compara uma perca de memória com a vida dele? Meu Deus, é tão melhor ele estar entre nós, por mais que sem suas antigas memórias, ele continua conosco. E isso não quer dizer que não possamos dar à ele novas memórias. As melhores da vida dele.

Eu estou novamente a caminho do hospital. Dessa vez, em meu carro. Botei na minha cabeça que, ainda que Jake estivesse sem memória, eu estaria com ele para o que ele precisar. Aquele "quem é você" me deu um susto, fiquei perdida, desnorteada, mas agora eu estou agradecida pela vida dele. Eu espero que ele ainda goste de mim. Por mais que me ache uma pessoa qualquer, da qual "nunca" viu na vida, por mais que não se lembre. Eu estava disposta a cuidar dele. Afinal, ele sempre foi e sempre será o meu grande amor.

Subi as escadas daquele hospital. Peguei novamente a minha etiqueta de visitante e fui para o quarto de Jake. Na sala de espera, onde eu passei em frente, não havia ninguém da família dele ou mesmo os amigos. Deveriam estar todos no quarto. Abri aquela porta devagar, sentindo todos pararem de falar e fazer o que estavam fazendo, paralisando seus olhares em mim.

Jake estava me olhando diferente da primeira vez que me viu hoje. Parecia curioso em saber quem eu era, talvez.

- Ficamos preocupada contigo, saiu tão desesperada. - Flávia disse em meio a todo aquele silêncio.

- É, eu tinha passado por algo difícil. - sorrio sem mostrar os dentes.

- Você é aquela moça bonita que esteve aqui mais cedo, não é? - ele sorriu. Nossa, que lindo.

- Sim, sou eu. - todos riem.

- Como é o seu nome mesmo? - ele faz aquela cara de confuso novamente.

- Jade. Jade Williams. - sorri.

- Eu estou muito confuso. Tem um monte de mulheres bonitas aqui e todos me dizem que são minhas amigas e minha mãe. - ele arqueia as sobrancelhas.

- É, isso é verdade. - olho para cada uma delas e rimos. - Está se sentindo bem?

- Com um pouco de dor de cabeça e dores no corpo. - faz uma careta.

- Isso vai passar, fique tranquilo. - seguro uma de suas mãos, que estavam por cima do lençol.

- Por que eu não me lembro de nada, de nenhum de vocês?

- Você sofreu um acidente feio. Mas não se preocupe, deu tudo certo.

O Capitão 2 (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora