Cap. 17

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06/04

Naquela noite Jake tinha recebido o sangue, e para nossa felicidade, foi o suficiente para mantê-lo vivo. O médico voltou algumas vezes dizendo que ele estava no soro, que estava descansando e reagindo bem aos remédios, que se ele reagisse bem ele poderia levar alta no dia seguinte... E cá estamos nós, no dia seguinte. Deve ser em torno das 09h00 da manhã, não sei, eu acordei faz poucos minutos, nem consultei o celular para saber das horas, ou ao menos olhei para à parede à frente para saber que horas eram no relógio pendurado. Eu dormi no hospital, lembro que Lucca e meus pais também, porém, não estou vendo eles por aqui. Será que saíram para comer alguma coisa? Me levantei e fiquei dando uma volta pelo hospital, do lado de fora. Eu precisava de um ar fresco. Deixar aquele ar de hospital para trás. Poderíamos ver Jake no fim da tarde, só. Mais tarde ele teria alta. Fiquei sabendo que ele levou alguns pontos, talvez uns quinze, ou vinte, não sei.

— Matheus... — olho para meu lado esquerdo, vendo minha mãe subindo os pequenos degraus da entrada do hospital, e Lucas e meu pai atrás — Fomos comer alguma coisa. Você estava num sono tão intenso que decidimos não acordá-lo. Mas trouxemos algumas coisas para você se alimentar.

— Oh, obrigado mãe. — Eu estava mesmo faminto. Acho que a última vez que comi foi quase à quinze ou dezesseis horas atrás. Se eu ficasse mais um minuto sem comer acho que quem pararia numa cama de hospital tomando soro era eu. Ela me entregou duas sacolas. Peguei as mesmas, abrindo para ver o que havia dentro. Era alguns biscoitos e um copo de achocolatado. Ela conhece bem os meus gostos.

— O médico disse que ele vai ter alta às 19h00 — meu pai informa. — Podemos visitá-lo às 17h00. Isso se ele estiver bem recuperado até lá.

Jade Williams On               07/04

Matheus, o qual eu tive contato, me disse que Jake não foi para casa aquele dia. Teve um tipo de complicação. Parece que se sentiu mal e teve que permanecer por mais um dia naquele hospital. Ou seja, ele ainda está no hospital, talvez amanhã de manhã ele saia. Eu acabei de acordar, estou sentada na cama, pensando na vida, como sempre. Bateram na porta, olhei para o lado direito, para a mesma. Em segundos Calleb aparece pelo pequeno espaço que acabou de abrir. Sorrindo, ele vem em minha direção. Eu, com o maior e melhor sorriso do mundo me levanto para abraçar ele. Eu estava feliz em vê-lo. Ontem nem nos vimos.

— Como está? — se senta ao meu lado, na cama.

— Melhorando. E você?

— Trabalhei demais ontem — fala sincero —, por isso não deu para vir te ver.

— Relaxa. Eu entendo. E aí, tem algum capitão me substituindo?

— Sim, mas não chega aos seus pés, claro.

— Não era para você estar no Batalhão? — arqueio uma das sobrancelhas.

— Plantão.

— E cadê Lorenzo? Ele tinha dormido aqui, cuidou de mim... — quando olho para o rosto de Calleb ele está com uma expressão baliciosa — Calma, não é... Espera... É... — coloco as mãos no rosto, envergonhada — Não aconteceu nada. Não dormimos na mesma cama.

— Uhum.

— É sério — risos.

— Vocês combinam. — Ele me olha e percebe que ainda não esqueci de Jake. — Desculpa.

— Não, tudo bem. Mas ainda é cedo para eu assumir um novo relacionamento. E, sabe, eu também não penso nisso. Nem quero. Estou bem assim, pelo menos por enquanto.

— Entendo. Bom, já se alimentou? O médico deixou claro que uma boa recuperação requer uma boa alimentação.

— Sim, eu sei.

— Bom, eu comprei algumas frutas e coisas saudáveis, talvez faça diferença na sua melho...

— Calleb! — o repreendo seriamente.

— O que? Fiz algo de errado? — perguntou receoso.

— Sim, não, quer dizer... Eu só não quero que gaste mais dinheiro, tempo, comigo. Você e Lorenzo são pessoas maravilhosas. Me ajudaram quando eu mais precisava, sem nem me conhecerem direito, isso já é muito mais que uma simples prova de amor.

— Não se preocupe. Ainda não fizemos nada para se cair o queixo. Pretendemos fazer muito mais. Simplesmente porque nós simpatizamos contigo. — Sorrio. — Infelizmente você terá que me aguentar por um dia inteiro.

— Não, eu até que estava com saudade. — Dou risada.

Calleb realmente ficou o dia inteiro comigo. Assistimos à filmes, ele fez comida para mim, me ajudou a trocar o curativo depois do banho, tirou algumas fotos comigo, me fez rir até a barriga doer, entre outras milhares de coisas que ele me fez viver em um único dia, dentro de casa. Eram umas 22h00 da noite, Calleb já havia ido embora, e, por mais que eu ainda não soubesse o que esses dois tinham combinado, eu imaginava. Talvez quando um saísse o outro entrava em ação para ficar comigo, cuidando de mim. Só pode. Alguns minutos depois de Calleb passar por aquela porta, Lorenzo entrou.

— E aí, flor do dia. Como está se recuperando? — olha para a maçaneta da porta, enquanto fecha a mesma.

— Bem. Muito bem. Aliás, SÓ acho que tem duas pessoas trocando turnos para ficar comigo. SÓ acho. — Risos.

— Ah, eu me sinto bem em estar ao seu lado. Não vou quebrar uma perna se for da minha casa até aqui para cuidar de uma pessoa maravilhosa. Já tomou seu remédio das oito horas? Creio que você tenha tomado no início da tarde, já deu o horário de tomar novamente. E também às 06h00 da manhã tem que tomar de novo.

Enquanto Lorenzo estava na cozinha lendo a receita e tendo certeza de qual remédio era e depois pegando o certo, sorrio de lado. A visão que eu tinha dele era mais ou menos do meio da barriga/do peitoral para cima, por causa do muro baixo que separava a sala da cozinha.

— Do que está rindo? — após sair do meu transe e olhar para sua estatura à minha frente segurando um copo de água na mão direita e um comprimido na esquerda, sorrindo, me envergonho.

— Nada. Só do seu jeito de se preocupar. — Sorrio mais uma vez.

— Eu sempre fui de me preocupar com as pessoas. Nas mínimas situações possíveis.

— Isso faz de ti uma pessoa diferente das demais. Sua preocupação faz qualquer um achar você atencioso e cuidadoso com o próximo.

— Obrigado, se for um elogio, Srt. Williams. — Risos.

— Estou me sentindo exausta. — Digo.

— Quer se deitar? Eu te ajudo arrumando sua cama.

— Pode ser.

Escovei os dentes no banheiro, subi com Lorenzo, ele me ajudou à arrumar minha cama, apagou a luz para mim e sumiu do meu campo de visão depois de fechar a porta. Lorenzo e Calleb realmente foram anjos que Deus me enviou para eu não estar sozinha nesse fim de mundo. Pode parecer estranho estar pensando nisso de repente, mas em um segundo, me imaginei dentro do abraço de Cecília e Brenda. Que saudade dessas pirralhas. Por quanto tempo ficarei aqui? Um ano? Um e meio? Dois? Uma vida? A minha mente não responde, mas a saudade já está batendo na porta com uma plaquinha para quando eu abrir: olá, lembra das pessoas que estão no Brasil? Aquelas que você ama e agora estão longe? Pois é, vim avisar que a saudade é algo que a gente odeia, porém trás lembranças boas, de quem amamos.

Nem tanto. Nesse escuro que o quarto ficou depois da luz ser apaga lembro de como minha infância foi destruída cada vez que essa ação era feita todos os dias. Onde meus piores pesadelos começavam, onde eu não conseguia gritar, não conseguia fazer nada além de chorar. Por mais que Louis esteja em outro país, diferente do que estou agora, ainda não me sinto bem ao tocar no assunto, no nome dele. Sei lá, todas as memórias vem à tona, todas as palavras de mau gosto entram na minha mente e demoram à sair.

O Capitão 2 (Concluído)Where stories live. Discover now