Cap. 02

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— EU NÃO SOU ESSE PRÍNCIPE QUE TODOS ACHAM QUE EU SOU. NÃO TENHO CULPA SE MEU TRABALHO ME RENDEU UM NOME BEM FALADO, SUCEDIDO, E SE HOJE EU SOU CAPITÃO. E SAIBA QUE MINHA VIDA NUNCA FOI FLORES. NUNCA! VOCÊ SABE O QUANTO QUE EU SOFRI PROCURANDO UM EMPREGO AOS TREZE ANOS DE IDADE? SABE COMO É VOCÊ FICAR DIAS SEM COMER PORQUE AINDA NÃO RECEBEU SEU PRIMEIRO SALÁRIO? EU NÃO TENHO CULPA SE MEUS PAIS APARECERAM E OS SEUS NÃO. E ACHO RIDÍCULO O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, SE PASSANDO PELA MENINA INOCENTE E PURA QUE NUNCA FOI.

Botei a mão na testa, eu realmente estava passando mal com toda essa conversa estressante.

— Eu só acho que você deveria aceitar. Porque eu não tenho escolhas. Ou eu permaneço afastada ou eu vou e no dia seguinte estou trabalhando. Falar é fácil. Mas sabe o tanto que já chorei por lembrar de nós e pensar que você ia fazer a mesma coisa que está fazendo agora, causando o fim que juntos construimos? Sabe o quanto eu me senti mal por sempre fazer isso com vocês? Sabe o quanto eu amo e torço pela felicidade de vocês? Eu não sou a única felicidade de vocês. Pode ir Jake Dornan. Pode ir para um puteiro pegar todas. — enxugo as lágrimas. — No dia em que resolvi me relacionar com você, foi porque pensei que independente de distância, de qualquer circunstância, você estaria comigo. — choro. — Porque pensei que você me apoiaria em tudo que eu fizesse nessa vida. E nas coisas que não, explicaria o motivo, o porquê, e me mostraria o certo. Mas aqui você não está fazendo nada além de gritar e falar o que você queria falar à tempos de mim. Joga. Joga mais na cara. Aliás, eu nunca fui o que você e muitos queriam que eu fosse. E, sabe, eu bem que poderia te contar. Mas não. Eu resolvi esperar. Eu resolvi esquecer. Porque nossa felicidade, nosso amor, era muito maior do que tudo isso. Eu fui estuprada. Pois é. E se eu te disser que eu fui estuprada a minha adolescência ou se puder chamar também de... Infância. Imagina, toda noite, sentir aquela terrível dor, que é causada sempre pela mesma pessoa. Louis. Eu já fui parar em um orfanato, já fugi, trabalhei, consegui uma pequena quantia e vim para o Rio de Janeiro sem mais nem menos. Eu sei que você já sofreu muito, mas pode ter certeza, não se deve apontar o dedo na vida de ninguém sem ao menos saber a história e o porquê de cada escolha na vida da mesma.

— Eu só... Não estou acreditando que vai deixar tudo que construimos cair por causa de uma baixa maré.

— Ah, não? Pois bem, Jake Dornan. Se você não quer ver sua namorada feliz, realizando seus sonhos, subindo na vida pode esquecer tudo que já tivemos até hoje, isso não é um relacionamento. Relação à dois é um torcer pelo outro, ajudar um ao outro, e não estou vendo isso em você hoje. Aliás, não sei nem porque deu essa louca em ti. Parece que tudo que vivi até aqui foi um sonho, não é mesmo? Um sonho em que quando eu acordasse voltaria o pesadelo.

— Então vai, mas saiba que acaba por aqui o que dizíamos ser um relacionamento.

— Sério isso? Que atitude infantil. Eu pensei que...

— Pensou errado. — tira a aliança e coloca em cima da mesinha de centro. — Acabou. — me olha por último e passa por aquela porta.

Eu não estava acreditando. A ficha não tinha caído. Ele me deixou... Ele quis me impedir de realizar meus sonhos... Fui caindo, me ajoelhei no chão e chorei como nunca. Eu pensei que seria diferente. Subi correndo para o quarto e tirei uma mala do guarda-roupa. Ao mesmo tempo que lágrimas quentes escorriam por meu rosto eu dobrava uma roupa. Foi assim até terminar de arrumar uma das malas. Me sentei no chão, de frente para a mala e me joguei nela. Fiquei com os braços e a cabeça em cima da mesma, talvez rezando para que tudo isso não passasse de um pesadelo ruim. Me recompus e peguei outra mala. Enxuguei as lágrimas e fui colocando o resto das roupas. Era tão difícil. Para mim parecia que cada peça de roupa que eu ajeitava na mala era uma pedrada no coração, informando que o que consegui construir até aqui, se foi para sempre. Deslizei o zíper da segunda mala e me preparei para arrumar a terceira, média. Coloquei os sapatos. Na mala mais pequena coloquei as fotos que estavam em porta-retratos. Peguei mais algumas pastas e coloquei numa mochila, junto ao resto de coisas pequenas.

Diego?

— Jade? Está chorando?

— Nada demais. Faz um favor para mim?

— Qual?

— Liga para o Delegado e pergunta que horas posso partir.

— Você aceitou?

— Sim.

— Espera aí, já te mando um áudio falando sobre a ligação.

— Ok, obrigada.

Olhei minha aliança, ainda no dedo, tirei e coloquei em cima da cama. É, Jade. Acabou. Minutos depois meu celular emitiu o som da notificação. Desbloqueei e vi que Diego me mandou um áudio.

"Ele me disse que amanhã, às 06h00 sairá seu vôo. Ele parecia meio abalado na ligação, talvez por estar perdendo uma das melhores policiais que o Batalhão já teve depois do que aconteceu com seus pais. Olha eu não estarei bravo, decepcionado, abalado ou triste contigo. Você sabe que pode contar comigo para tudo, independente de clima, dia, hora, e lugar. Eu sempre estarei por perto, mesmo longe. Por que eu quero o melhor para você. E eu sei que isso vai ser. Muitos podem não gostar, não aceitar, e te criticar, mas eu sei como é difícil essa escolha, a pergunta. "Vou ou não vou?" Isso fica nos martelando até termos uma resposta, e a sua é certa, você vai. Eu devo imaginar o que aconteceu por aí. Jake veio antes do horário do plantão dele. Além do mais, vi ele mexendo em suas coisas, e um detalhe me deixou sismado. Ele estava sem aliança. A briga deve ter sido feia, mas é como eu disse, faz o que achas melhor. Ninguém pode e vai controlar sua vida. Nunca. Você é você, você sabe o que é melhor. Como amigo, irmão, eu te considero demais. Quero que você cresça cada dia mais nessa sua belíssima carreira como policial. Amanhã quero te ver, aliás, podemos fazer alguma coisa como despedida, vou te dar o melhor abraço que já ganhou na vida. Quero que se sinta amada e encorajada a ir. Vai, vai e manda naqueles americanos que não sabe o poder de uma brasileira da pesada. — risos. — Eu te amo, fique bem, independente do que Jake tenha te falado."

Sorri, ainda meio triste.

"Obrigada, meu irmão. Você sabe que não tem ninguém que me faça ficar melhor além das minhas irmãs e você. Obrigada por cada palavra. Realmente Jake nem me ouviu ou ao menos tentou. Sei lá, acho que vai ser melhor para mim. Vai ser melhor para eu tirá-lo da cabeça, assim como ele vai fazer comigo à algumas semanas com outra na cama. Amanhã eu faço questão de reunir todos que concordam com essa viagem e me entendem, aliás, pode ser que eu nunca mais os veja. Mas fique sabendo que eu te amo e te admiro por sempre me fazer contar contigo e me entender, me dizer verdades e me compreender."

O Capitão 2 (Concluído)Kde žijí příběhy. Začni objevovat