Capítulo 12 - Um monstro maior do que parece.

241 63 261
                                    

Nikollay estava sentado em sua cama em silêncio, ele encarava o lado que Amber costumava deitar com uma tristeza em seu olhar. A saudade o consumia mais e mais a cada dia, quando ele achava que estava diminuindo bastava olhar para as madeixas ruivas das gêmeas caçulas. Ou para os olhos verdes de Mark e ai a saudade voltava a atingi-lo como punhais se enterrado bem no meio de seu peito. Ele ainda tentava ser forte pelos filhos e por seu povo, mas a ausência dela o consumia a cada dia. Ele estava absorto em seus pensamentos e lembranças quando pequenas batidas contra o vidro e o gralhar ensurdecedor preencheram o ambiente. Ao erguer seus olhos negros na direção do barulho viu o corvo de Madame Seraphine batendo freneticamente contra a janela fechada. Nikollay franziu o cenho e tratou de se colocar de pé, caminhando com passos rápidos até o animal. Assim que o homem abriu a janela o animal voou direto para um poleiro que Nikollay havia colocado bem ao lado da escrivaninha. Rapidamente ele foi até o animal e retirou a carta que estava bem enrolada e amarrada aos pés da criatura.

Nikollay sentou na cadeira que ficava a frente da escrivaninha e começou a ler. Leu as reclamações de Luna sobre Pablo, pelo visto ele não estava sabendo obedecer as ordens dela e ficar em seu devido lugar, Nikollay temia que os sentimentos cegassem o jovem e era exatamente isso que estava acontecendo. Conforme continuou a ler seu semblante mudou para um misto de fúria e preocupação. Eleanor estava o tempo inteiro bem de baixo do nariz deles presa por aquele crápula e mais uma vez Travis sabia de tudo, claro que ele não deixou a chance de prejudicar os Deverpolt passar. Nikollay levantou tomado pela raiva e com a carta em suas mãos caminhou até onde ficava as cadeiras do líderes. Era quase uma sala do trono, mas Nikollay não gostava de chama-la daquela forma, ele não se sentia um rei. Mas ali ele recebia alguns convidados e recebia também os outros membros de seu clã para questionamentos e reclamações. Tinha duas cadeiras ali, uma que pertencia a ele e uma que um dia pertenceu a Amber. Com um suspiro o homem se sentou na de Amber e deslizou seus dedos pelo braço de madeira, tinham varias rosas entalhadas ali e ele sabia o quanto a esposa amava aquilo. Nikollay então voltou a ler a carta, prestou atenção no plano que Luna havia montado e sorriu com orgulho de sua filha. Tudo que ele precisaria fazer era esperar nos limites da floresta pela irmã e pela sobrinha. Quem diria que ele a essa altura de vida descobriria uma sobrinha?

O senhor deseja alguma coisa? — Perguntou Ramona.

Ramona trabalhava na casa de Nikollay desde que Amber tinha aparecido na vida dele, elas tinham se tornado amigas e Ramona ajudava Amber, ela cuidava da casa enquanto Amber cuidava dos assuntos do clã junto com Nikollay e também ajudava com as crianças quando os dois estavam ocupados. Com um suspiro Nikollay assentiu e disse.

Chame Cameron e depois pode ir dormir. — Disse Nikollay em um tom de voz cansado.

Ela assentiu e fez uma pequena reverencia ao sair, isso fez com que Nikollay revirasse os olhos. Ele não gostava daquilo, mas não adiantava ele falar porque no fim das contas todos faziam exatamente a mesma coisa, não importava o quanto ele contestasse. Ainda tinha mais algumas coisas escritas na carta, então o homem voltou seus olhos para lá e continuou a ler em absoluto silêncio. Luna estava falando sobre os dois mais novos da Travis, pelo que ela descrevia eles não eram pessoas ruins, nem concordavam com a atitude do pai e admiravam muito Elena, inclusive estavam criando um projeto social inspirado nela, além de tentarem retomar os projetos antigos de sua mãe. Nikollay ficou impressionado com aquilo, que filhos daquele crápula seriam capazes de ser assim. Luna somente narrou os fatos, mas conhecendo sua filha ela só podia estar fazendo aquilo porque queria poupa-los. O homem suspirou e ficou encarando a carta, muitos falavam que ela era exatamente igual a ele, Nikollay sempre achou que estavam falando besteira, mas nos últimos anos e principalmente depois da morte de Amber ele viu que todos estavam mais do que certo e isso causava uma certa aflição nele.

Utópico. - Duologia Deverpolt.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora