Prólogo

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Meu Pequeno Anjo

Trabalhando na casa do Senhor Pietro, eu via muitas coisas ruins, das quais eu sempre ficava assustava, contudo, comecei a perceber que por mais que tentamos nos afastar dessas coisas elas vem até você.

Já estava me acostumando com a solidão. Meu pai havia morrido deixando uma grande dívida, essa que infelizmente estou pagando, não sei ao certo até quando, por isso trabalho aqui.
Eu sou Guilhermina Francesca Pavan, e isso, me salvou da desventura de ser vendida para o Bordel Cristal. Apesar da inconsequência de meu pai, meu avô foi um homem importante e ajudou a máfia como pode de forma indireta no começo da sua história aqui no país, em consideração a sua memória me ajudaram e agora sou a governanta dessa mansão triste e sombria.

Essa noite estava especialmente fria, já estava terminando meus deveres na cozinha quando, de repente a porta se abriu revelando Rafael com um pequenino bebê no colo. Eu sabia que Rafael além de ser poderoso dentro da máfia, pelo seu pulso firme e cargo de torturador, era uns dos sócios do Bordel Cristal. Ao olhar para ele, vi um homem desesperado, e devo arriscar dizer que havia chorado, seu rosto estava vermelho e seus olhos marejados.

- Guilhermina, estou te entregando minha filha, cuide dela e se ela precisar de alguma coisa me comunique.

Ele diz aquilo de repente como se a pequena não fosse nada.

- Rafael, como assim? Sua filha? Você não pode entregar ela para mim, você precisa cuidar dela, é só uma criança!

Já estava tremendo com a possibilidade de ele abandonar a filha pequena comigo.

- Eu não a quero, Guilhermina! Ela é a mãe de novo, não posso olhar para ela sem pensar em Isabel, os olhos brilhantes que ela tinha, ela é calma e serena como ela, eu não vou conseguir cuidar dessa menina.

Meu Deus, ele vai abandonar a menina comigo, ele não pode fazer isso! Mas, infelizmente, suas palavras foram fortes e expressava um leve tom de desespero.

- Com você ela terá uma referência de mãe, é o mínimo que eu posso fazer por ela. A mãe morreu por minha culpa, somente minha, ela era tão doce e meiga, Guilhermina. Ela era um anjo. Mas eu destruí tudo com minha luxúria e desejo, ela poderia estar viva agora se eu não tivesse feito o que fiz. Sou um monstro!

O homem chorava e balança a menina que já reclamava assustada com aquela cena. Ele não pode fazer isso, meu Deus Rafael não pode abandonar a filha!


- Rafael, você não pode deixar sua filha comigo, ela é um bebê, precisa do seu amor, meu Deus, como você pode ser tão cruel?

Ele apenas me olhou e colocou a menina no meu colo, assim que ela sentiu meu calor, parou de chorar e começou a fechar os olhinhos pequenos e brilhantes. Ela é tão linda, parece tão especial, que mesmo não querendo que ele a deixe comigo, uma pequena parte de mim a queria. Queria abraçar ainda mais seu corpinho pequeno e cheirar seu cabelinho. Eu já era mãe dela e nem sabia.

- Guilhermina, entregue isso a ela, são as coisas que sua mãe deixou antes de morrer!

Era uma santinha de Nossa Senhora, uma corrente com sua imagem e uma foto da mãe, ela estava grávida e sorrindo. Dava para ver que ela amava a filha sem nem ao menos a conhecer, só pela forma que sorria e segurava a barriga. Perguntei para ele quem era mãe da menina, ele respondeu sem olhar para mim.

- Ela era apenas uma prostituta que morreu no parto dela. Se caso ela vir a perguntar, diga isso, é mais do que ela precisará saber.

Quando ele levantou os olhos para mim, senti mentira neles, a falta de sinceridade era nítida. Mas por que ele estava mentindo? Não estendia. Ele não seria nem o primeiro e nem o último a engravidar uma meretriz, se é que ela era uma. Apenas assenti com a cabeça, sabia que ele estava escondendo de mim algo horrível.

- Essa menina vai crescer órfã de mãe e pai, simplesmente porque você está negando amor a ela, espero de coração, que Deus cobre isso de você, e bem caro de preferência! Sua crueldade não poupou nem uma criança, eu vou cuidar dela sim, infelizmente para você sinto que sua filha será alguém especial e vai crescer e ser diferente do pai, felizmente para o mundo. Eu vou fazer de tudo para que ela não seja cruel e ruim como você.

Ele apenas chorava ao olhar para ela. Esperava mais de um pai do que um choro que pra mim é falso.

- Qual o nome dela?

Perguntei.

- Ela se chama Ana! Cuide dela, por favor, eu não posso.

Já com a voz embargada, ele se virou e nem olhou para trás indo embora sem nem sequer pensar duas vezes. Agora era somente Ana e eu, meu pequeno Anjo que Deus me deu para acabar com minha solidão.

- Oi meu amor, mãe Guilhermina vai cuidar de você. Eu já a amo muito, sabia?

Falei com a voz suave para ela e, como forma de agradecimento, a menina sorriu com os olhinhos fechados, sabendo que agora tinha alguém para ama-la e cuidar. Agradeci a Deus por ter me dado o privilégio de ser mãe de uma menina tão doce e calma.

-Agora durma, vou cuidar de você enquanto Deus me permitir.

Olhei a Nossa Senhora e fazendo uma oração silenciosa:

- Nossa Senhora, agora preciso da sua ajuda, me capacite para cuidar desse pequeno Anjinho.

Depois um conforto se instalou dentro de mim, sabia que Nossa Senhora estaria do nosso lado e me senti bem em saber que agora não seria mais Guilhermina, mas sim Mãe Guilhermina, e como esse novo título soou bem aos meus ouvidos.




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Entre Nós  (Concluído)Where stories live. Discover now