Minha hora.

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— Por me fazer chorar.

Dank não soube o que pensar, ou melhor, soube, mas não sabia o que falar.

De nada...?

— Eu estava explodindo. — soluço. — E ninguém notava. — outro soluço, pendendo a cabeça para o lado como um peso morto. — Eu queria que percebessem. — tossiu. — Muito. Eu precisava. — outra tosse, engasgou com suas próprias lágrimas. — E não é para chamar atenção dos outros, você a cima de todos sabe. — voltou a olhar para a esquizofrênica. — É para chamar a própria atenção. — fungou. — É para saber que você está viva quando todos acham que você está morta. Quando até você mesma começa a achar isso. — acesso de tosse, dessa vez se engasgando com as palavras não ditas.

A garota em chamas definiu Lucy naquele momento, e agora Dank soube colocar em palavras sua própria verdade. A ruiva não devia explicações para a esquizofrênica, sabia disso, mas a explicação não era para a Lucy, mas sim para si; devia a si mesma uma explicação, e agora, colocando em palavras, parecia ridículo.

— Isso parece ridículo. — soltou uma tosse risonha, tirando a mão ensanguentada de baixo da mão da morena, limpando os olhos com o antebraço — Mas eu só precisava saber que eu estava viva.

A menina que ainda sangrava depositou a mão suja de sangue em cima da de Dank que continuava quieta.

— Naquele dia quando eu olhei para você, eu vi que as pessoas estavam enganadas. — Oh! — Todos viam você como uma pessoa com a humanidade morta, uma pessoa quebrada mais do que todos por aqui, um exemplo para não ser seguido, caso contrário acabariam como você. — sorriu. — E por um momento, eu quis isso.

Lucy engoliu, tirando os cabelos pretos dos olhos com o antebraço já que a mão estava suja de sangue.

— Não sou um bom exemplo a ser seguido.

— Quem é? — a ruiva continuou. — Mas você provou que todos estavam enganados, Lucy. — queria a convencer. — Você é melhor que isso tudo.

Dank expirou profundamente.

— Vocês tem que parar de dizer isso.

— Vocês quem? — a ruiva perguntou olhando para coxa e empurrando para a grama o excesso de sangue que lá estava.

A esquizofrênica não respondeu.

Frankie.

— Ninguém. — tragou a saliva como uma dose de mentira.

— Essa é a verdade? — seus olhos eram uma metamorfose de cores.

— Não. — apoiou a mão suja de sangue nas gramas e se levantou.

A menina a imitou, fazendo uma careta de dor ao apoiar a perna ferida no chão.

— Agora você se sente viva? — Dank perguntou para a ruiva.

Por que ela queria ataca-la com essa pergunta?

— Não. — soprou uma mecha vermelha de cabelo de seu rosto. — Agora eu sei que estou.

A ruiva não falou mais nada, seus olhos marejaram ao responder a pergunta da esquizofrênica e de lá rumou para a entrada do jardim. Bem, tentou. Lucy observou a garota machucada dar quatro passos mancando e cair de joelhos no chão na tentativa do quinto. Seus cabelos beijaram o vento ao correr para ajudar a menina. A ruiva tentou se esquivar, não queria ajuda, mas o corte foi fundo e não conseguiria apoiar o lado direito no chão, então Dank a abraçou de lado e a segurou pelas costelas, forte, levantando-a do chão e a puxando para si, ajudando-a a andar.

— E você? — depois de uns passos, perguntou. — O que faz para se sentir viva? — observou o perfil da esquizofrênica enquanto a mesma a ajudava a andar.

Tentou facilitar jogando a perna direita para frente enquanto pulava com a esquerda.

— Antes, me machucar. — puxou uma longa respiração, a caminhada não era longa, mas não era muito perto. — Agora, eu apenas sei. — passou o antebraço do braço livre pela coxa da menina que ainda jorrava sangue. — Os cortes pelo meu corpo já são suficientes para eu saber que se sentir viva dói, mas viver... Viver é outra coisa. — arfou, depois de um tempo a menina começou a pesar. — É o que eu estou fazendo agora.

Elas estavam chegando à porta de entrada, as pessoas começavam a olhar e murmurar, por um instante a ruiva se sentiu como Lucy, e almejou sumir.

— Me ajudar lhe faz viver? — riu descrente.

Dank parou de caminhar e consequentemente a menina, as garotas se encararam, então a esquizofrênica falou:

— Não. — continuou. — Fazer o que eu quero e não o que os outros desejam, me faz viver. Fazer o certo mesmo que os outros pensem que é errado, me faz viver. Não perder meu tempo querendo viver, me faz viver, por que desde que eu saí do ventre da minha mãe eu estou vivendo, mas às vezes eu me perco nisso, e outras vezes as pessoas me fazem esquecer.

A ruiva tragou sua saliva a seco e então gemeu em força, dando impulso para frente e se apoiando em Dank.

Isso era tudo.

Lucy empurrou a porta com um braço e com o outro puxou a garota para frente afim de que a mesma pudesse entrar. Brutamontes vestidos de azul brotaram e tiraram a esquizofrênica de perto da menina, dando suporte para a mesma; a ruiva firmou-se e soltou:

— Meu nome é Melissa, mas pode me chamar de Mel. — esperava uma resposta da esquizofrênica.

Lucy pensou se algum dia a chamaria de Mel... Então apenas acenou afirmativamente com a cabeça, mas ambas sabiam que aquilo não era uma apresentação, mas sim uma despedida.

Os paramédicos a levaram para longe arrebentando o cordão que se instalou entre seus olhos e corações. Quando a sirene tocou uma onda de pessoas saindo do jardim entrou pela porta se espalhando pelo pátio, passando por Lucy como se a mesma fosse uma rocha no meio de um rio, seus olhos escuros ainda acompanhando Melissa sendo levada. Os cabelos vermelhos dela soltando faíscas ao ser carregada nos braços de um paramédico, seus cabelos ficando mais escuros à medida que o outro homem apertava o êmbolo da seringa que foi aplicada em seu braço; a chama se tornando brasas quando a agulha abandonou sua pele, seus olhos que estavam em Lucy se fechando ao virar o corredor, sua cabeça caindo pelo peso do mundo.

Lucy imaginou gramas em seus pés lhe prendendo no lugar enquanto a onda de pessoas escoava em suas costas, seus olhos na poça de sangue que a ruiva deixara no chão. Quando levantou os olhos, uma Kloe pesarosa a observava do corredor que os paramédicos levaram Mel. Agora eram seus olhares que se sustentavam; a sirene já havia sido soou novamente, observou a enfermeira assentir com a cabeça.

Era a hora da esquizofrênica.

A EsquizofrênicaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant