— Doutor Kondor quer lhe ver depois do almoço. — a enfermeira falou enquanto trocava as ataduras de Lucy.
A menina estava sentada no sofá observando a face terna da mulher enquanto a mesma trabalhava em suas mãos. Dank suspirou, Kondor iria entrar no mesmo assunto.
— Eu não quero ir.
Kloe elevou os olhos para o cabelo da menina, chocada.
— M-Mas... — a enfermeira não foi interrompida, sua língua parecia enrolada pela confusão. — Você deve ir. — fim. Nada mais foi dito.
A garota de madeixas negras pensou em gritar, reclamar, esganiçar, mas preferiu ficar em silêncio e deixar a mulher de cobre continuar seu trabalho.
Deixou sua alma gritar dentro do corpo: ''Eu quero ver meu pai!".
Deixou seu cérebro falar mais alto, em um tom grave: ''Eu não quero ver Gale Fletcher. ''
Mas o silêncio do quarto não foi quebrado.
— Pode ir se trocar, falta pouco tempo para você poder ir para o jardim.
A garota vestiu uma camiseta branca lisa e um short de jeans cinza. Estava pronta.
— Kloe. — chamou sentada na cama, a mulher foi até ela e pousou a mão em sua coxa. — Você nunca me contou por que ainda está cuidando de mim.
Suas madeixas acobreadas pararam de se movimentar.
A mulher parou de respirar.
— Bem... — não queria contar, e deu graças quando foi salva por seu relógio apitando.
— Hora de ir mocinha. — sorriu amarelo.
E Lucy saiu sem pedir explicações, sabia que Flyn não iria fugir e o assunto também não.
Deitou-se na grama e observou as mesmas dançarem com o vento, virou de lado e arrancou uma folha comprida para depois a libertar; deixou-a voar. Isso a fez pensar em Frankie. ''Não, não, não, não mesmo!". Não queria pensar no garoto, principalmente relacionando a grama.
A garota fechou os olhos tentando afastar o menino de sua mente, mas não conseguia.
— Lucy?
Oh Deus!
A menina abriu os olhos e olhou para o menino com um tanto de dificuldade porque estava muito claro.
— Sim, sou eu. — e virou de lado voltando a encarar as gramas.
Mas ser ignorado não fez o menino ir embora, ou ao menos Dank achava que o estava ignorando. Frankie deitou um pouco distante e virou para frente de Lucy olhando para seu rosto.
— No que está pensando?
Não, Lucy não iria falar que estava pensando nele.
Não mesmo!
— Em você.
Por quê? Por que ela foi falar isso?
Ele sorriu.
Ah, ela mereceu!
O estômago da menina virou para encarar os olhos do menino. Para que? Ela era masoquista? Tinha grama ali!
— Eu também. — se ajeitou mais confortavelmente no gramado, abaixando com a mão enfaixada as gramas que estavam atrapalhando uma visão ampla
Lucy olhou para os olhos do garoto cujo estavam verdes claríssimos pela claridade. O calor do sol penetrou em seu coração bêbado pela beleza do menino e o incendiou.
— Por que está aqui? — ela soprou.
— Por causa de você.
Tempo suficiente para Lucy sorrir, só então Frankie perguntou:
— Por que está aqui?
— Por causa de você.
Foi à vez dele de sorrir.
Ambos não responderam a pergunta um do outro.
Por que eles estavam ali?
Quer dizer, por que estavam na reabilitação?
— Por quê? — a garota perguntou, arqueando uma sobrancelha brincalhona.
— Por que eu estou enlouquecendo. — repetiu o mesmo ato dela.
Dank sorriu novamente e deixou o corpo descansar na grama, fechando os olhos as pálpebras adotaram uma coloração vermelha por causa da claridade do sol, então franziu o cenho em desconforto e abriu os olhos sentando-se para se nortear. Frankie estava na sua frente, em pé, examinando-a, seus olhos acariciando os cortes de Lucy.
Oh.
A menina encolheu-se e cobriu as pernas com os braços, mas os mesmos também tinham cortes; e pela primeira vez Lucy se arrependeu por ter se mutilado, se dando conta de que os cortes estavam ali, causando-a mais dor do que o motivo deles existirem. Seu coração se expandiu como um cobertor tentando cobrir sua pele, mas ele também tinha cortes. Deus! Como a menina queria correr e pedir por socorro, mas não o fez, não queria que ninguém visse ou descobrisse que Frankie também frequentava o jardim e que conversava com ela. Poderiam tira-lo de si assim como fizeram pouco a pouco com sua vida.
Ao perceber o desespero de Dank o garoto perguntou:
— Por que não está gritando? Eu gritaria se fosse você.
— Podem tirar você de mim assim como fizeram com minha vida. — revelou.
Frankie se ajoelhou em frente à esquizofrênica, seus olhos claros iluminando a escuridão do olhar dela.
— Eu não vou para lugar nenhum. — prometeu, seus olhos elevando o queixo de Lucy. — E quem tirou sua vida de você, não foram eles. — olhou ao redor, depois voltou para os olhos dela. — Foi você.
A garota soltou a respiração pesada aos jorros.
— Grite. — pediu.
O que?
— Grite.
Ele estava enlouquecendo?
Oh sim, estava!
— Grite, Lucy! — falou alto olhando para o céu, sorrindo enquanto a menina amedrontada ainda abraçava as pernas. — Grite!
— Você enlouqueceu.
— É o que dizem. — e com uma piscadela, correu.
E ela gritou.
YOU ARE READING
A Esquizofrênica
RandomLucy, uma adolescente de dezesseis anos que vive em uma clínica de reabilitação desde os seis anos de idade. Dez anos de sua vida vegetando em uma maca, amordaçada e presa, rotulada como louca, tendo que se contentar apenas com passeios diários pelo...