Meu pai

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— Lucy! — exclamou ao recebê-la.

— Kondor!

Depois de minutos em um silêncio barulhento Kondor pigarreou e sentou-se no sofá ao lado da garota.

Dank se viu olhando para as mãos o homem a sua frente.

''Sem papel'', constatou.

— Lucy. — capturou as mãos enfaixadas da menina entre as suas. — andou recusando os remédios? — elevou uma sobrancelha, a menina assentiu. Ele sabia, era claro, mas desejava ouvir isso dela.

Lucy Dank, 16 anos. O que há de errado nisso? Bem, é claro, nada; tirando o fato da esquizofrenia e coisa e tal. Mas havia um detalhe, um detalhe no qual Lucy nunca quis saber e era esse detalhe que a levou a sentir o cheiro de lavanda antecipadamente.

— Diga-me: o que faria quando saísse dessa clínica? — isso a pegou desprevenida. — Digo, você sabe, quando você completasse dezoito anos e pudesse sair daqui caso quisesse. — ao vê-la ainda confusa, fez a pergunta mais diretamente. — Para onde iria?

Lucy estava completamente chocada. Nunca havia pensado nisso antes, quer dizer, procurava nem pensar nisso! Não tinha mãe já que a mesma morreu, mas é isso?! Acabou para ela?

Não. Mas Dank queria que sim, que isso acabasse com ela.

Mesmo sem nunca ter vivido de baixo da asa da mãe, vivera com ela.

Vivera com sua mãe do modo mais intenso possível!

Vivera com ela dentro do coração, e a noticia da mesma ter morrido apodreceu-a de saudade.

Com a notícia fatídica, bastou. Lucy entrou em seu mundinho repleto de angustia e fúria e afundou-se sem pensar em como ou por que. Não pensou em mais nada, nem queria pensar! Deixou à doença lhe levar para longe e apresentou-se formalmente a esquizofrenia, uma coisa que tentava ignorar; com a ignorância, a esquizofrenia guardou rancor e angustia da menina para quem estava estendendo a mão, então no momento que Lucy segurou a mão da doença para cumprimenta-la a mesma a jogou em um quarto e apagou a luz, fechou as janelas e jogou todos os sentimentos de Dank na cara da mesma deixando apenas um papelzinho:

''Seus pais morreram, pirralha!'', gritava para a menina encolhida, e assim Lucy ficou.

Só.

No escuro.

Chorando com um papelzinho na mão.

''Sua mãe morreu. Desculpe. ''.

Bem, Dank nunca conhecera o pai, então era o mesmo que ambos estarem mortos. Seu pai e sua mãe. Mas como?

Ela não queria saber.

Ambos abandonaram-na.

— Eu não pensei nisso. — respondeu.

— É aonde eu queria chegar, querida. Você nunca pensou nisso! – sorriu e se levantou, dando voltas na sala.

— Você nunca pensou se tinha irmãos. Quer dizer, você está aqui há dez anos! — empolgou-se.

Kondor estava indo longe demais.

Lucy marcou o maxilar.

— Você nunca pensou onde está seu pai. Claro, uma pessoa sempre tem pai. — esclareceu juntando as mãos e entrelaçando-as. — Você nunca pensou quem paga sua ''estadia'' aqui? — ele parecia deslumbrado. Isso era novidade para ele também?

"— Doutor Kondor? uma voz masculina soou no outro lado da linha.

— Eu mesmo. Quem fala?

— Gale Fletcher, pai de Lucy Dank. pigarreou, ele chorava?

O médico que anteriormente encontrava-se confortavelmente sentado em sua cadeira endireitou-se chocado. Suas costas não mais no encosto, suas mãos segurando firme o braço da cadeira.

— P-Pai de Lucy? gaguejou, não estava acreditando.

— Sim. Eu gostaria que o senhor me ajudasse. ".

— O senhor está dizendo que me pai ligou para você?

Ele sorriu.

Sua alegria era como sadismo para Lucy.

— Estou. — assentiu. — E digo mais: ele deseja lhe ver!

Basta.

— Não.

— O que? — engasgou com a própria saliva.

Parece que para ele suas glândulas salivares estavam fazendo um ótimo trabalho...

— Não. E se me der licença, eu preciso ir.

E saiu. Bateu a porta forte!

Com o coração na mão, jogou-o contra a parede.

Quem ele pensa que é?

Quem ele pensa que ela é?

A casa da mãe Joana que não, e muito menos aqui.

Ela é a esquizofrênica. E aqui é uma clínica de reabilitação, se ele não sabe.

A EsquizofrênicaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora