Começando a entender.

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— Meu Deus, onde você está Kloe?

A enfermeira arfou se inclinando para frente, segurando na parede o impulso do choro.

— Por Deus, — exclamou. — que saudades, Kendy. — será que ela ainda era a mesma?

— Não fuja da minha pergunta, pequeno troféu!

Sim, ela era a mesma. A enfermeira só não tinha certeza se ela mesma continuava...

Kloe não fugiu, respondeu onde estava esperando a mulher vir ao seu encontro tão rápido quando jogou o endereço de sua localidade para fora de sua boca.

Flyn apenas... Não estava acostumada a ter essa bolha em seu peito prestes a estourar, e a cada minuto que se passava a fina película que forma a bolha se expandia e Kloe sentia como se estivesse sufocando. A bolha ocupando todo seu pulmão impossibilitando-a de respirar, e por mais agonizante que seja essa espera, a sensação era boa por que ao menos sabia que a espera finalmente iria acabar.

Estava feliz, só não estava acostumada com isso.

— Preparada? — a mulher inundou o quarto com suas ondas acobreadas, encontrando uma Lucy de regata preta e short jeans, descalça. A menina ergueu seus olhos do chão para a enfermeira, e Flyn pôde ver que sua resposta era um ''não'' sonoro, mesmo o quarto estando em total silêncio.

Lucy não está preparada para ser feliz.

Qual é?! Ela apenas é... Franca. Quem está preparado para ser feliz? A gente nunca está preparado para o que queremos. É como perguntar, agora, para você que está lendo: se você soubesse, ainda no útero de sua mãe, como seria sua vida depois de nascer, você estaria preparado?

Eu permaneceria no útero, para ser sincera.

Mas assim como eu sai do ventre da minha mãe, Lucy saiu de seu quarto e percebeu que mesmo vendo as mesmas coisas pela milésima vez, nada parecia igual. Ou talvez fossem! Talvez ela que não seja mais a mesma.

Kloe entrelaçou seus dedos com os da garota e sorriu para a mesma. Dank não soube o que fazer, então apenas seguiu-a pelo corredor até a porta que dava para o pátio, mas antes de ser aberta a enfermeira largou a mão de Lucy e a deixou seguir sozinha.

O que poderia dar tão mal? Só o habitual, e isso já era... Habitual.

Dank empurrou a porta e adentrou no pátio.

Olhares pousaram em si, e Lucy teve vontade de olhar para o chão e andar rápido para o jardim.

Esse era o seu habitual.

Mas lá também teria pessoas. Decidiu por andar lentamente, seus olhos varrendo as pessoas que a olhavam. Lucy não sabia o que acontecia depois daquilo, nunca ficara para descobrir. Então as pessoas voltaram aos seus afazeres. Uns liam, outros riam, uns conversavam, outros calavam. Apenas seguiam suas vidas. Talvez conversando sobre ela, mas o que poderia acontecer de tão ruim? Ser criticada ou rotulada? Poupe-me. Essa era a menor de suas preocupações de Dank, e agora, enfrentando isso, percebeu que o pior não era o que os outros falavam dela, mas sim o que ela falava sobre si mesma.

Varrendo os olhos sobre o local tingido de marrom e branco, percebeu que era só isso, mas que ela não era apenas isso.

O lugar era amplo com diversas mesas espalhadas pelo local, pacientes, pessoas com aparência normal, jovens como ela, e velhos, jogavam e conversavam. Uns com seus enfermeiros do lado, outros apenas conversando entre si enquanto seus enfermeiros faziam a mesma coisa. Uns três ou quatro paramédicos ficavam no local, seus corpos rígidos como esculturas rígidas nas extremidades da sala dando suporte como colunas que seguram a estrutura.

A EsquizofrênicaWhere stories live. Discover now