Regressando.

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Depois que Lucy voltou para seu quarto, encontrou uma Kloe pensativa deitada no sofá apertando o celular nas mãos.

Céus, ela estava fervendo!

— O que houve? — estranhou, sentando no braço do sofá.

A enfermeira pareceu acordar de seu transe, suas pupilas agora se focando na menina, seu coração dando um salto.

Merda, de novo não.

Fazia tempo que Kloe não se incomodava com o olhar de Lucy. A menor percebendo o desconforto de Flyn logo desviou o olhar para o chão, esperando ali encontrar grama, por que naquele momento se sentia como uma.

A dona de uma cascata de cobre sentou-se e segurou no queixo da garota trazendo seu rosto para si, procurava o olhar de Lucy que teimava em se desviar do seu, mesmo seu rosto permanecendo na mão de sua enfermeira. Agora não era hora de deixar a menina se trancar novamente. Seu pai viria.

— Ei querida, pode ir para o jardim. — piscou, e o coração da menina vibrou.

Frankie.

Lucy saiu correndo daquele quarto, abriu a porta que dava para o pátio do centro de reabilitação e pela primeira vez não se sentiu incomodada pelos olhares. Ela veria Frankie. Passou correndo pelo lugar e deixou seus pés descalços baterem palmas no mármore.

Chegando ao meio do jardim ela sorriu ao vê-lo ali, sentado nas gramas e esperando por ela. Frankie abriu um sorriso quando a viu.

— Sentir sua falta. — ele falou quando ela se ajoelhou na sua frente.

— Eu sei. — esperou ele rir. — Também senti sua falta.

— Eu sei.

A garota de cabelos escuros deitou-se ao lado do menino, seus cabelos se misturando com as gramas; esperou seu rosto esquentar sob o sol, ou talvez pela presença do menino ao seu lado a observando. Lambeu os lábios secos e virou-se para Frankie, o encontrando já virado para ela, a mão enfaixada segurando a cabeça enquanto sua boca detinha os olhos focados de Dank.

''Beije-me'', Lucy orava.

''Beije-me'', Frankie rogava.

E eles ficaram assim.

Deitados.

Almejando se beijar.

Com os corações quentes.

Ambos estavam doentes, ambos estavam amando, e essa era a única doença que eles realmente tinham quando estavam juntos, era o que importava. Por que eles estavam doentes, doentes de amor um pelo outro.

— O que descobriu? — o homem chegou com seu terno preto alinhado e ajeitando a gravata vermelha que pendia em seu pescoço.

— Oi para você também, Gale.

Ele riu.

— Oi, Kloe. Tudo bem? — enfatizou.

— Oh, que gentileza! — botou a mão no peito fingindo estar lisonjeada. Fletcher soltou um breve riso anasalado. — Eu estou bem, mas sua filha nem tanto.

Ele parou de rir.

— O que tem a minha filha? — sua voz saiu em um rugido, o que levou a mão da enfermeira para seu ombro.

— Ela está regressando.

Lucy estava sentada na grama mexendo com a mesma enquanto Frankie observava-a. Seu olhar não a incomodava, mas o pensamento que se passava pela mente dele enquanto seus olhos passavam por sua pele, sim.

— Por que fez isso?

Ela não precisou pensar para responder, pois fazia para si a mesma pergunta toda vez que olhava para própria pele.

''Por que eu fiz isso?''. E essa mesma pergunta só aumenta a frequência que se faz presente quando você para de se cortar.

Quantas vezes Dank fez essa mesma pergunta quando tinha seu próprio sangue nas mãos? Quantas vezes dizia para si mesma que ia parar e pensar antes de fazer o que pensava? Quantas vezes seu coração bateu em sua alma pela mesma ser tão fraca? Toda vez que o mesmo fazia o trabalho de bombear sangue para seu corpo furado!

Sentia-se oscilar.

Sentia seu sangue se infiltrando por trás dos seus cortes fazendo pressão para sair, podia sentir o alto-relevo.

E tudo isso só piorou quando parou e pensou.

Lucy fez isso por que deixou sua dor e angustia lhe arranhar a pele.

Por quê?

Por que por um milissegundo ela desistiu da vida e de si mesma.

Por quê?

Por que toda vez que fechava os olhos passava por sua cabeça a imagem daquele maldito papel que lhe foi entregue dizendo que sua mãe morreu.

Por quê?

Por que tudo isso era passado em sua cara todo santo dia!

Por quê?

Por que ao mesmo tempo em que queria morrer, ela queria viver e mostrar para si mesma que estava viva quando os outros e até ela mesma achava que estava morta.

Mas Dank não ia falar isso, ela não iria admitir, por que era fraca.

— Por que eu sou esquizofrênica. — seus olhos eram os espelhos de sua alma, e Frankie sabia que a menina estava tentando o enganar, e pior, enganar a si mesma.

— Pare de usar isso como justificativa! — irritou-se, jogando o tronco para frente e mantendo seu rosto perto do dela. — Pare de tentar se enganar, Lucy. — rosnou.

A garota de cabelos negros o desafiou aproximando mais os rostos, apenas centímetros se faziam presente entre os rostos.

Apenas.

Poucos.

Centímetros.

— Eu não sou a única aqui que está escondendo as coisas.

Eles não repararam na distancia entre os rostos? Se beijem e parem de brigar!

Frankie se ofendeu.

— Ah, quer a verdade?! — ergueu uma sobrancelha.

— Por favor. — relutante ela falou.

— Quando você decidir parar de se enganar, aceitar a verdade e perceber que seu verdadeiro problema não é sua doença e sim você mesma, me procure, e eu falarei a verdade sobre mim.

Frankie desceu os olhos para os lábios avermelhados da menina, cujo ela estava mordendo para conter o choro.

— Você é mais que isso, Lucy Dank. Todos nós somos. — levantou-se.

— Frankie. — soluçou.

— Eu sei. Dói. Mas saiba, — ajoelhou-se novamente, aproximou o rosto do ouvido da menina e sussurrou: — eu sempre estarei com você, perto de você... — levantou-se carregando o olhar úmido da garota. — Te amando. — murmurou.

E ele correu dali sumindo do campo de visão de Lucy, e quando isso aconteceu, ela gritou:

— Frankie!

Dank estava voltando... Mas Frankie estava indo.

— Quem é Frankie? — Gale perguntou com os olhos arregalados para a enfermeira que mordia o lábio inferior.

Eles estavam indo à procura de Lucy no jardim e apressaram o passo ao escuta-la gritando.

Mas gritando por quem? Era o nome de um garoto, parecia estar com Dank, mas não era para ninguém estar no jardim quando a esquizofrênica também estava!

Quando encontraram Lucy no gramado, diminuíram os passos até parar perto de uma árvore e correr os olhos pelo ambiente.

Não havia ninguém ali!

— Ela está regressando, Gale.

A EsquizofrênicaWhere stories live. Discover now