Meus defeitos

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Depois de muito pensar, a garota levantou do banco e foi atrás de Frankie. ''Agora é a vez dele de ter seus problemas jogados na cara. ''.

Todos têm problemas, erros, defeitos, mas isso não quer dizer que precisamos ter os mesmos jogados na cara e muito menos que não sabemos da existência deles.

Mas para o desapontamento e frustração da garota, a sirene indicando que era hora do almoço soou em seus ouvidos. A contragosto girou os calcanhares e caminhou bufando em direção ao quarto. Abriu a porta e jogou-se no sofá esperando Kloe entrar com seu almoço para poder voltar logo para o jardim. Quando a porta se abriu sentou-se rapidamente e com a bandeja nas coxas devorou a comida.

— Calma Lucy, a comida não vai fugir. — a enfermeira alertou brincalhona.

Mas Flyn não estava com medo da comida, mas sim de outra coisa fugir.

Mais precisamente uma pessoa.

Mais precisamente Frankie.

Ao notar que a menina nada responderia, suspirou e sentou-se na cama.

— Doutor Kondor deseja vê-la hoje.

Lucy franziu o cenho em confusão. ''Mas hoje não é sexta. O que ele quer comigo?''. Então sentiu a comida coagulando em sua garganta.

Oh!

Forçou-se para engolir.

— Algo errado? — Flyn estranhou, ajoelhando-se na frente da menina.

Merda.

Lucy forçou novamente a garganta, de repente como se sua saliva tivesse secado e suas glândulas salivares estivessem querendo tirar uma com sua cara. Faça sua função, produza saliva! Mas já era tarde, a garota começou a oscilar em ânsia. Colocou uma mão tampando a boca e com a outra deixou a bandeja que anteriormente estivera em seu colo, no sofá. O flashback do papelzinho que doutor Kondor lhe deu passou por sua mente e segurou em sua laringe, forçando a comida a voltar pela boca. Curvada correu até o banheiro e se ajoelhou no lado do vaso sanitário, jogando para fora tudo que o tinha comido. Forçou novamente a garganta, querendo vomitar também as memórias em sua mente. ''Mãe!'', a nostálgica mente da menina clamou.

Kloe com seus olhos sensíveis correu atrás de Lucy e encontrou-a segurando nas laterais do vaso sanitário, apoiando o corpo quando suas costas impulsionavam e sua glote bombeava, vomitando. Segurou os cabelos da menina e esperou pacientemente a menor se acalmar.

Mas não foi isso que aconteceu.

Depois que Dank terminou, limpou a boca com a manga comprida da blusa e chorou rancorosamente. Escorou-se em uma das paredes do banheiro e relaxou o corpo deixando seus olhos trabalharem o quanto quisessem, agora eles que bombeavam, suas bochechas quentes sendo molhadas sem se esfriarem. A mulher de cabelos de cobre sentou ao seu lado, mas sem toca-la. A fez companhia em seu momento de pureza e inocência. Fora uma honra presenciar esse momento, por que no caso de Lucy, é raro. Muito raro. Lucy nunca saia de seu mundinho, e nesse momento ela estava escorrendo.

Quando a menina parou de chorar a enfermeira a levantou e guiou-a até o quarto. De pé no meio do mesmo levantou o rosto de Dank e limpou suas lágrimas quentes. Por fim, abraçou-a, mas não foi retribuída. Lucy voltara a chorar, escorrendo em seu abraço, seu ombro... Essa foi sua retribuição.

— Kloe. — sussurrou. — Não conte a ninguém, por favor. — olhou para a mulher, varrendo o rosto da mesma.

Vendo que a maior nada falara, continuou:

— Eu não fiz por mal, eu não quis vomitar, eu só... — desviou os olhos. O olhar de Kloe incomodava-a por que terno, e a menina achava que não merecia tal coisa. — Eu só... Eu só me lembrei. — dando as costas à enfermeira apoiou os dois braços na parede branca, soltando o ar pela boca.

''Por favor, não me pergunte o que eu lembrei. '', apertou os lábios contendo-se para não falar o que tanto pedia em pensamento.

— O que você lembrou? — aproximou-se da menor como uma pessoa se aproxima de um animal selvagem. — O que você lembrou? — inclinou o rosto. Oh! Não pergunte novamente! — O que, Lucy?

Ela explodiu, os cabelos pretos oscilando nas costas e as mãos em punhos nas paredes.

— Eu me lembrei de que minha mãe morreu! — gritou, virando para Kloe com a feição enfurecida, fios negros emoldurando suas bochechas ainda vermelhas pelo vômito, choro, ou talvez pela repentina fúria.

A enfermeira pensou sair correndo ao vê-la se aproximar, mas a porta estava longe! Então como um estalo a menina voltou à realidade e bateu a porta de seu mundinho particular repleto de mágoas e fúria ao ver a expressão de medo da enfermeira já encostada no criado mudo, os olhos arregalados.

Foi quando Lucy correu.

Ela estava imóvel, as costas na porta de madeira atrás de si.

Correu para longe dali rompendo pela porta do quarto e do jardim.

Deslizando as costas na porta sentou-se no chão e abraçou os joelhos, as pupilas tentando se focar no quarto escuro.

Correu até cair de joelhos na grama.

A garota encontrou a silhueta tão conhecida apoiada em uma das paredes, mas não conseguia enxergar direito com a película de lágrimas em seus olhos.

E esse também era um dos seus defeitos: Correr como sua mãe correu...

Depois de passar rapidamente o antebraço pelos olhos, Lucy fungou e enxergou sua doença sorrindo para si, acenando e se dirigindo para sentar do seu lado, a cabeça pesada repousando em seu ombro.

E mesmo sem querer Lucy jogou isso em sua própria cara.

Capturando o lábio inferior que vacilava entre os dentes, gemeu rancorosamente arranhando a garganta quando uma película grossa de choro embaçou sua visão.

A EsquizofrênicaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant