Minha hora.

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Quando Lucy acordou Kloe estava deitada no sofá segurando o celular enquanto seu rosto carregava um sorriso.

Gale.

— Hum. — sentou-se na cama. — Como está meu pai? — seu sorriso malicioso enquanto se espreguiçava não entrou no campo de visão da enfermeira, o celular, ou melhor, seu pai, tinha toda sua atenção.

— No trabalho. Ele está bem. — soltou, inerte. — Oh. — agora sim. — Luc... — foi cortada pela voz sonolenta da menina.

— Pare com isso, ok? Eu gosto. — sorriu. — Gosto de te ver feliz e meu pai também. Gosto de ver vocês dois felizes, juntos. — assinalou.

Flyn levantou-se do sofá deixando seu celular lá e abraçou a garota, acariciando seus cabelos.

— Gosto de lhe ver assim. — a voz da enfermeira falhou. — Feliz, sorrindo, rindo, ou o que quer que seja. — riu nervosa, se engasgando com suas próprias lágrimas.

Orgulho.

Era isso que ela sentia.

Viva.

Era assim que Lucy se sentia.

Depois de comer algo a menina rumou para o jardim, passando pelo pátio cheio de gente com tanta convicção em seus pés quanto à certeza de estar viva, de respirar e expirar. Tentou não pensar no que as pessoas achavam ao lhe ver praticamente correndo igual uma doida a caminho do jardim. Afinal, quem seriam eles para julgar? Rompeu pela porta do jardim ofegando. Estava animada e ultrajada por ver tantas pessoas aglomeradas naquele bendito jardim, mas não queria entrar na roda; rumou para longe das pessoas e alcançou um lugar isolado, quase perto do alojamento dos enfermeiros da clinica, mas perto o suficiente de uma menina encostada no tronco de uma árvore, os cabelos vermelhos combinando com o sangue que andava por sua pele.

Oh!

Dank paralisou, seu calcanhar subitamente pinicando como se as gramas estivessem tentando alertar Lucy para ir embora. A ruiva não gemia ou gritava, sua expressão era vazia ao se arranhar; sua coxa direita sangrava, sujando a grama com suas lágrimas vermelhas.

O corpo também chora.

E agora o choro da menina não existia, eram somente lágrimas, lágrimas essas que estavam sujando a grama. Lágrimas de sangue.

A garota de cabelos pretos olhou para o braço da menina sentada para a mão, e não encontrando nada seus olhos regressaram para o pulso acariciando o local com seus olhos negros; a menina sentada pareceu sentir, virando o rosto vazio para a esquizofrênica, e agora sim gemeu rancorosamente em choro, desmanchando-se em lágrimas.

Seu chamado de socorro.

Lucy reconheceu aquela garota, era a mesma do refeitório que a acenava enquanto sorria.

Um sorriso pode esconder tantas dores...

Seus joelhos arderam ao ralar na grama novamente como se as mesmas não quisessem Dank ali, quisessem a afastar. Lucy sentou-se em cima de seus calcanhares no lado esquerdo do corpo da garota, sua mão direita pousando em cima da mão da menina de cabelos vermelhos que por sua vez estava com as unhas cravadas em sua coxa ensanguentada. Seus olhos se comunicavam, mas a esquizofrênica nada falava, só deixava sua mão lá parando a da menina que antes arranhava sua coxa realizando acordes, tocando a música de sua dor, ambas as mãos descansando em cima do sangue quente. Lucy deixou a menina chorar, seus olhos escuros impassíveis não vacilaram ao encarar a dor em seus olhos. A dor e Dank já eram velhas conhecidas.

— Obrigada. — ouviu os lábios cansados da menina, sussurrar.

— Obrigada pelo quê? — sua voz era dura, não repreensiva, mas tensa pelo que tinha em mãos.

A EsquizofrênicaNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ