Nanda
Eu estava com tanta raiva da Soraia, que a vontade era de matar ela. No dia que fui buscar os documentos da Jade, mandei o Brinquedo dar outra cossa dela. Ela já tinha até pegado medo de mim, toda vez que me via corria. Eu tava era achando engraçado.
Sai da escola e fui direto pra casa. Tava um calor da zorra. A vontade era de ficar na piscina pra sempre.
Cheguei em casa e meu tio estava sentado com um sinto na mão na sala. Estranhei, mas esse povo é tudo doido.
Marcio: Chegou... – levantou com um sorriso frio. Me deu maior cintada. Gritei de dor.
Nanda: Tá ficando louco? – segurei pra não chorar. Aquela porra tava ardendo.
Marcio: Tô só te dando uma coça que eu deveria te dar a tempo. Sua vagabunda! – me deu outra, nem deu pra desviar. Me encolhi. – Então quer dizer que agora você anda com bandido? É? Responde, Fernanda! – me deu outra que pegou no braço que eu coloquei na frente pra não acertar o meu rosto.
Nanda: Para com isso! – gritei chorando. – Seu demônio! Marcio: Demônio? Eu deveria ser um demônio mesmo. Não deveria ter ficado com você, deveria te deixar na rua. Ingrata! Bastarda!
Nanda: Criou porque quis, não te pedi nada! – gritei. Mas pera ai, como esse pateta descobriu isso? Se nem os chifres que ele leva da minha tia ele percebe... – Quem te contou? – ele riu debochado.
Marcio: Soraia me mostrou na reunião de condomínio. Estão todos sabendo que você se mistura com esse tipo de gente!
Nanda: Já que tu liga pro que o povo diz, abre teu olho com tua esposa, seu corno!
Marcio: Ainda é abusada! Onde já se viu isso? Sua tia jamais faria isso comigo, ela não é que nem você! E quer saber? Cata suas coisas e sai da minha casa. Vai ficar com seus amigos bandidos!
Nanda: Vou com muito prazer. E saiba que eles são melhores que você!
Marcio: Quero ver dizer isso quando estiver apanhando de bandido drogado. – riu.
Subi com raiva e mandei mensagem pra Dan vir me buscar. Catei todas as minhas coisas em três malas e desci. Engoli o choro. Não ia dar esse gostinho a ele.
Tinha um carro na frente do condomínio me esperando. Não era o Dan, era o Gasolina.
Gasolina: E ai, patroa.
Nanda: E ai. – ele me ajudou a colocar as coisas dentro do carro e depois deu partida até o morro. – Me leva pra casa do Dandin.
Gasolina: Correto.
...
Coloquei minhas malas no canto da sala e sai de casa. Fui até a casa da Lore.
Elas estavam no sofá conversado e Jade estava sentada no chão fazendo anotações no caderno, enquanto mexia no notebook e na calculadora.
Lore: O que houve? – me olhou espantada.
Nanda: Fui expulsa de casa. – funguei. – Já queria sair daquela porra mesmo.
Jade: Ele te bateu, Fernanda? – assenti chorando. Ela levantou e me abraçou. – Ah, mas eu vou falar com o Dandin e ele mesmo vai querer matar o seu tio.
Nanda: Tomara que mate! – falei com raiva. Comigo não tinha esse de piedade. É ruim comigo? Sou ruim com a pessoa!
Jade: E ai?
Nanda: Eu tenho um dinheiro da minha herança na conta, mas só da pra pagar a mensalidade da escola e sobra quase nada. Mas o suficiente pra me aguentar na casa do Dandin, se ele deixar eu ficar lá né, até eu achar um emprego.
Jade: Tô fazendo umas contas aqui, e Malvadão vai ver uma coisa pra mim aqui no morro. Você tem quanto?
Sentamos no chão uma do lado da outra. Peguei o notebook e entrei na minha conta pela internet. Eu tinha 50 e pouco mil. 25 mil era pra mensalidade, colação de grau e materiais escolares. O resto era pra me aguentar.
Ficamos a tarde toda calculando o que tínhamos. A gente não tava na merda, a gente tinha de onde começar e dinheiro pra fazer isso.
...
Dandin entrou na sala com Malvadão e Kikito. Ele veio até a mim de cara fechada.
Dandin: Que história é essa que tu apanhou?
Nanda: O meu tio eu me bateu.
Dandin: Mas porque, caralho?
Nanda: Soraia fez o favor que se vingar de mim mostrando a gravação deu entrando com o Brinquedo pra todos.
Kikito: Eles viram a cada do Brinquedo?
Nanda: Não, ele tava de boné.
Malvadão: Essa mulher é do caralho, hein... – riu.
Nanda: Deixa eu trombar com ela na rua pra ela ver só uma coisa.
Dandin: Já arrumou caô demais com essa mulher, não acha não? Sossega o faixo. – revirei os olhos. Ele fechou a cara. – O que tu vai fazer?
Jade: Nós vamos morar juntas. – Malvadão riu.
Nanda: O que foi? – olhei pra ele.
Malvadão: Nada, pô.
Jade: Falando nisso, tu viu a casa?
Malvadão: Vou liberar uma das minhas casa pra tu.
Jade: E o valor?
Malvadão: Esquece isso.
Jade: Marcelo, eu não quero ficar te devendo.
Malvadão: Que devendo, garota. Se liga, nem vai fazer falta. – Jade ia contestar. Mas resolvi interromper, a gente tinha dinheiro, mas não tanto né. E ainda tinha que mobiliar a casa.
Nanda: Então, quando podemos mudar?
Malvadão: Amanhã do a chave pra vocês, só tem que limpar.
Nanda: Isso é o de menos. – ele assentiu e subiu. Jade me olhou feio. – Que foi? Menos uma coisa pra gente gastar, ué.
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Coração sem vergonha.
Narrativa generaleA gente passa a vida querendo o muito, quando só o pouco nos faz feliz. E o pouco na maioria das vezes é o muito. O pouco. O pequeno. O minúsculo. Normalmente, nossas vidas sempre mudam drasticamente por causa de pequenos detalhes.