#25

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Jade

No outro dia, eu fiquei o dia todo fazendo um trabalho do curso que eu teria que entregar amanhã.

Da noitinha eu fui sentar com as meninas na praça. Tava um calorão da zorra mesmo.

Comprei um açaí de 700ml caprichado na paçoca e no leite em pó.

Sentei ao lado da Preta.

As meninas estavam tomando uma. Queria nem saber disso, embrulha o estômago só pensar.

Ericka: Mês que vem é aniversário do Dudu, tô querendo fazer um churrasquinho lá em casa pra ele, mas não queria fazer nada grande não.

Lore: Aqui no morro? Duvido! Nunca vi, tu faz coisa pequena, vai chegando um e outro... Quando vai ver, a casa já tá lotada.

Ericka: Ihh, quero ninguém enfurnado no minha sala não.

Nanda: Faz na frente de casa.

Jade: Do jeito que esses meninos são, eles vão fechar a rua e fazer um baile.

Preta: Tudo é motivo de festa pra eles.

Ericka: Vou ver direitinho isso com o Dudu. – deu um gole no copo. – Ihh, cunhada, lá vem seu macho. – olhamos na direção que ela tava olhando. Kikito tava vindo com um fuzil atravessado no peito.

Kikito: Qual foi, pretinha, tem janta pronta? – deu um selinho nela.

Preta: Têm fricassê no forno.

Kikito: Caralho, Preta, tu é a melhor. – deu outro selinho nela. – Falou pra vocês, que eu não tenho essa vida ganha pra ficar fazendo fofoca na praça não.

Nanda: Ahhh, vai lavar essa cara.

Kikito: É o que, língua nervosa?! – riu. Nanda mandou dedo pra ele rindo.

Nanda: Eu só comento, filho, o povo que faz merda.

Kikito: Aham, sei... Falou ai, imbiquei. – saiu rindo.

Jade: Pô, tu falou em fricassê, deu até fome.

Lore: Barriga sem fundo, essa menina.

Ericka: Acabou de comer um açaí, garota.

Jade: Ihhh, me deixem, tô em fase de crescimento. – empinei o nariz.

Ficamos de gracinha a noite toda. Ericka e Nanda são as mais venenosas, comentavam cada coisa dos outros... Minha barriga até doía de tanto rir.

...

No outro dia, ao chegar do curso, eu fui pro boteco encontrar a Lore e a Ericka. Pedi uma caipirinha e peguei um torresmo que tava no pratinho de tira gosto.

Jade: Trabalhou hoje não? – perguntei pra Ericka.

Ericka: Folga hoje e amanhã.

Jade: E a revista lá da mulher, tu vai vender? – perguntei pra Lore. O homem trouxe minha caipirinha e eu agradeci.

Lore: Thierry encheu minha cabeça, pensei melhor e vou não.

Ericka: Por que, gente?

Lore: Ihh, tenho paciência de cobrar ninguém não. Do logo um esculacho pra pessoa se tocar. – ri.

Jade: E tem outra também, né: eu ia pegar as coisas da Mary Kay pra vender. Mas pra mim nem é vantagem, vou querer usar tudo.

Ericka: Isso é verdade. Quando eu vendia Avon, comprava mais que vendia.

Lore: Ai gente, queria um empreguinho.

Jade: Eu também, ninguém merece. Tô doida pro meu cursinho acabar logo, pra eu arrumar um emprego.

Ericka: Emprego nessa área só dá lucro se você abrir o seu próprio negócio.

Jade: Nem que seja, amiga. Não aguento mais ficar em casa fazendo nada.

Lore: Podia montar aqui no morro, as monas vão pro asfalto fazer essas paradas, eu mesma.

Ericka: Verdade, vai ficar rica só comigo. Mas quero desconto, hein! – brincou.

Jade: Pra você é o dobro. – ela mandou dedo e eu ri.

Malvadão: Qual foi dessa fofoca ai? – chegou junto com o Tikão.

Lore: Tem fofoca não, meu filho, papo de futuro aqui.

Ericka: Vocês não inventem em de me colocar como vela nessa caralho não, hein.

Jade: Não sei que vela. – joguei no ar. Malvadão me olhou de canto de olho e eu nem tchum pra ele.

...

           

Fechamos o bar, só fomos embora porque o dono do bar começou a recolher as cadeiras.

Os meninos foram pagar a conta e as meninas e eu ficamos na frente do bar esperando.

Logo eles vieram.

Tikão: Quer carona, Ericka?

Ericka: Eu quero.

Jade: Falsa. – ela riu. – Bom, vou indo. Falou ai. – me despedi deles.

Malvadão: Para de graça que eu te levo.

Jade: Não, valeu.

Tikão: Perdeu, patrão.

Malvadão: Duvido.

Jade: É duvidando que acontece. – tratei de meter o pé.

Ele foi me seguindo o caminho todo de moto, filho da puta.

Entrei em casa achando que ia ter paz, mas o cabrunco chegou chegando.

Jade: Marcelo, o que foi cara? Pelo amor de Deus!

Malvadão: Eu que te pergunto o que foi. Dando de doida já... – colocou a pistola na mesa de centro e tirou a camisa.

Jade: Eu nada, porra. Tu não trepa e nem sai de cima. Tá achando o que? Que eu vou ficar nessa por muito tempo?

Malvadão: Quando eu te dei as coisas tu não achou ruim.

Jade: Vai jogar na cara agora? Beleza, tu pode esperar que amanhã mesmo eu meto o pé daqui. Porque tu sabe muito bem que eu tinha tudo pra me estabilizar sozinha, tu que veio me ajudar sem eu pedir. Mas não vou ingrata não, te agradeço e tudo. Só que eu não vou ficar engolindo sapo seu não. Não preciso disso, tu sabe muito bem. – ele escutou tudinho quieto.

Malvadão: Eu sei, cara. Te admiro pra caralho. Mas o que tu quer de mim? Já te dou tudo!

Jade: Tudo não.

Malvadão: O que te falta, Jade?

Jade: Você sabe muito bem. – fui pro closet, peguei uma roupa de dormir e fui pro banheiro.

Me despi e entrei no box, coloquei no morno e deixei a água cair no meu corpo.

Nem demorou muito e ele entrou junto. Ele me abraçou. Aquele abraço que só ele tinha. Um abraço que me passava proteção.

Malvadão: Já te falei que é tudo nosso, po. Fica tranquila que logo, logo, nossa hora vai chegar. Quero fazer uma parada direita. – eu funguei e assenti. Ele riu. – Pode botar bronca de fiel, que tu tem direito. – olhei pra ele.

Jade: Se eu levar fama de corna, tu vai sair como otário.

Malvadão: Ihh, cara, para com esses assuntos. – resmungou.

Jade: Então tá.

Malvadão: Tá falando demais já. – me enroscou num beijo.

Damos umazinha no banho e depois dormimos agarradinhos.

Coração sem vergonha.Onde histórias criam vida. Descubra agora