23/03/2019(Continuação)

En başından başla
                                    

- Ei cara, não sei se você consegue me ouvir mas eu acho que te devo desculpas. Aquilo não deveria ter acontecido, eu não deveria ter deixado que acontecesse. O que fizeram a Jamile não foi humano e o que eu fiz também não. Eu falhei em proteger vocês da mesma forma que falhei em proteger todos que tive a minha volta. Kleber, Ana, minha avó, Débora, meu pai, Natália, Izabel, Edinho, minha mãe, Patrícia, Bárbara, vocês dois... Foram tantos em tão pouco tempo, todos a quem amei partiram, Wallace. Eles morreram sob minha responsabilidade, seus sonhos, suas promessas, seus desejos, suas esperanças, todas as coisas que deixei acabarem por não ser forte o bastante. – Apertei o gargalo da garrafa com mais força e o aproximei da boca, mas antes de virá-lo para beber, sacudi a mão e o lancei até o outro lado da sala, onde acabou por se estilhaçar na parede. – Mais que droga. Por que eu não morro como eles? Qual o propósito de toda essa porcaria? Edinho prometeu, jurou e acreditou tanto quanto eu e mesmo assim é ele quem está morto, enterrado num maldito buraco qualquer e não eu. Se esta droga de apocalipse for o juízo final como meu avô dizia, esse aqui já é o inferno e só podemos sair dele depois que pagarmos nossos pecados. – Peguei a pistola que trazia na cintura e aproximei da têmpora. – Você não imagina quantas vezes pensei nisso. A bebida nunca foi para esquecê-los, é só que, me matar aos poucos foi a forma que encontrei para não fazê-lo de uma vez. Eu sei que isto acontecerá um dia, mas te prometo que vingarei todos vocês primeiro.

Descansei a arma ao lado do corpo e respirei fundo. Com a cabeça recostada na parede fechei os olhos e tentei afastar os pensamentos e fui ajudado pela tosse seguida da fraca voz de Wallace pedindo por água. Me endireitei e pus-me agachado ao seu lado, ele repetiu o pedido por água mais uma vez em voz baixa.

- É isso aí, cara. Se mantém aí, vou buscar para você.

Atravessei rápido a sala e fui até as mochilas de onde consegui pegar um cantil e imediatamente levei de volta a Wallace. Deixei seu tronco o mais ereto o possível para facilitar que ele bebesse a água e com alguns pequenos goles ele se satisfez. Ele continuou a tossir um pouco após terminar de beber, o que me deixou um pouco inquieto mas a tosse logo passou e ele voltou a relaxar quieto.

O momento de consciência dele durou muito pouco e mesmo sem ter certeza de que ele realmente ainda estivesse ouvindo, avisei que o cantil estava ao seu lado logo após me levantar para ir até a cozinha. Pensei que ele talvez estivesse próximo de acordar definitivamente então decidi procurar algo que pudesse preparar para alimentá-lo.

Enquanto vasculhava as coisas na cozinha e despensa ouvi um barulho vindo da sala, a principio pensei ser Wallace mas com um pouco mais de atenção notei que era um som na porta de entrada. Caminhei até a porta da cozinha, que dá acesso ao corredor, e vi um homem em pé no meio da sala olhando para Wallace. Mesmo com a penumbra que tomava conta do ambiente eu pude notar que não se tratava de Frank e aquilo me pegou desprevenido.

O homem olhou ao redor, mas não parecia estar desnorteado, pelo jeito que olhava sabia bem o que procurava e por um momento pensei que procurasse por mim. Continuei espreitando de longe e esperei o momento certo para me aproximar, assim que ele se virou de costas para minha direção corri para cima dele e o ataquei com um empurrão.

Ele ouviu meus passos e tentou se virar porém não rápido o bastante para conseguir se defender. O empurrei contra a parede e entramos em luta corporal. Ele realmente não esperava por um ataque daqueles e isso me deixou a vantagem. Após batermos na parede eu o acertei com uma joelhada na barriga e um belo soco no rosto, em seguida o segurei pelo pescoço com uma mão e enquanto me preparava pro próximo soco o homem pôs as mãos em frente ao rosto e pediu para que eu parasse.

- Por favor, para. O que você tá fazendo?

- Quem é você?

- Eu sou amigo do Frank, por favor. Onde ele está? – O homem disse com as mãos em frente ao peito e olhando diretamente para mim.

Diário de Um SobreviventeHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin