- Eu quero ficar, por favor.

- O que você tanto me olha garota? - uma menina se aproxima de mim e pergunta.

- Eu só estava te olhando dançar - digo.

- Eu não gosto que fica me encarando - ela diz com bafo de cerveja.

- Desculpa, eu só achei legal vocês dançando.

- Você tava olhando pro meu homem que eu sei.

- Eu não estava, juro.

- Estou de olho em você - ela assopra a fumaça do cigarro em meu rosto e sai.

- Dalila, vamos - Lívia pega em meu braço.

- Ei, espera - um rapaz chama.

- Já estamos de saída - Lívia diz.

- Fiquem - ele chama.

- Não podemos - Lívia diz novamente.

- Eu quero ficar - digo.

- Dalila, não.

- Sua amiga quer ficar, então fique - ele diz.

- Só um pouco - Lívia se rende.

- Qual seu nome? - pergunto.

- Me chame de Grilo - ele responde.

Acredito que o apelido é por causa da magreza e altura dele.

Ele nos leva pra dentro do bar e eu me sento de costa para o balcão. Fico observando as pessoas dançarem.

- Tudo o que elas pedirem é por minha conta - Grilo diz e sai.

- Você não podia ter aceitado vim aqui - Lívia me repreende.

- Desculpa, mas eu queria vim - me defendo.

- Tudo bem, vou dançar um pouco, vem.

- Depois.

Ela sai e se junta na multidão dançando.

Percebo que tem um rapaz me fitando de longe, me sinto intimidada e desvio o olhar.

Logo a garota que brigou comigo na entrada do bar se aproxima.

- O que uma garota como você faz aqui? - ela pergunta.

- Como eu?

- Sim, toda trabalha nos panos.

- Eu queria conhecer esse lugar, ver como são as festas e as pessoas.

- Uma patricinha como você querendo conhecer a favela? - ela ri.

- Eu não sou patricinha, eu sou uma pessoa comum, minha melhor amiga mora aqui.

- Da próxima vez que você vir aqui, coloca outra roupa.

- O que tem de errado com minha roupa?

- Não é roupa pra vim dançar funk.

Eu estava com uma calça flare e uma blusa de alcinha branca.

- Eu só tenho roupa assim - digo.

- Eu imaginei - ela pega sua bebida e sai.

Me viro de frente com o balcão.

- Poderia me dar um suco? - pergunto ao rapaz que estava servindo as bebidas.

- Suco? - ele ri.

- Sim, qual a graça?

- Aqui não tem suco.

- Por que não pede um coquetel de frutas vermelhas? - o rapaz que estava me fitando pergunta.

- Eu não bebo - digo.

- Imagino que também não fuma e nem dança.

- Isso - digo sorrindo.

- Experimenta, se você não gostar não precisa tomar - ele oferece.

- Melhor não - recuso.

- Eu insisto.

- Tudo bem - digo por fim.

Ele pede a bebida pra mim.

Eu sempre reclamo que não saio e não faço nada, não me custa provar, eu nunca bebi nada alcoólico na minha vida, estava na hora de experimentar.

Ele pega o copo e me entrega.

- Pode tomar - ele incentiva.

Abro um sorriso e tomo um gole da bebida, o álcool desce rasgando em minha garganta, mas era gostoso.

- Quer dar uma volta - ele oferece.

Olho pro lado e vejo que Lívia está se divertindo, não teria mal algum sair com aquele rapaz.

- Qual seu nome? - pergunto.

- Otávio.

Me levanto para sair com ele, mas de repente chega uns garotos e o chama.

- Preciso dar um giro rápido, me espere aqui - ele diz e sai com os garotos.

Continuo tomando meu coquetel e quando acaba peço outro.

- Dalila, você está bebendo? - Lívia pergunta ao me ver.

- To, quer um pouco?

- Não.

- É gostoso, prova.

- Eu sei, mas você não tem o costume de beber.

- Calma amiga, eu só bebi duas vezes.

- Vamos embora.

- Eu quero ficar, quero terminar de conversar com o Otávio.

- Quem é o Otávio?

- O garoto que me deu essa bebida e queria dar uma volta comigo - digo.

- Você ficou maluca, ele pode ter colocado algo na sua bebida.

- Ele é legal, ele não me fez mal.

- Vamos embora logo.

Ela pega em meu braço e me arrasta para fora dali.

Coração BandidoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora