Capítulo 1

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Olho pela fresta da porta do meu quarto e meu pai está lá no sofá lendo seu jornal como sempre faz.

Preciso tomar coragem e ir até ele.

- Vai logo amiga - Lívia sussurra me pressionando.

- Calma, preciso criar coragem - repondo apreensiva.

- Vai lá e fala, é simples.

- Não quando se trata do meu pai.

- Anda logo - ela continua pressionando.

- Dalila - meu pai chama.

- Oi pai - apareço diante dele.

Ele me ignora e me chama novamente:

- Dalila.

- Senhor pai - respondo novamente.

Ás vezes eu me esqueço que tenho que me referir a ele como senhor, se eu não o chamo de senhor ele me ignora.

- Quer me falar alguma coisa? - pergunta ele.

- Não - minto.

- Tem certeza? Ouvi você e Lívia cochichando.

- Ah... - deixo a frase no ar.

- Não minta pra mim.

- É que sábado vai ter uma festa pra comemorar o aniversário da Lívia e eu queria...

- Você não vai - ele me interrompe e coloca o jornal de lado.

- Pai, o senhor nem me deixou falar.

- Não preciso ouvir, eu não vou deixar de qualquer jeito.

- Por favor pai, você sabe que eu vou me comportar, eu só quero sair um pouco dessa casa - imploro.

- Já faço muito permitindo que você seja amiga dessa menina, agora se misturar com esses jovens que bebem, se drogam, dançam e ouvem músicas obscenas, isso eu não vou admitir.

- Pai, ela é minha melhor amiga, quero estar com ela nesse dia importante.

- Ela pode vir aqui, sua mãe faz o bolo e comemoramos do nosso jeito.

- Por favor pai, eu juro que vou me comportar.

- Já disse que não.

Saio da sala e vou para a cozinha.

- Mãe, convence o pai a me deixar ir já festa da Lívia - peço.

- Você sabe muito bem que tanto ele quanto eu não gostamos desse tipo de festa - ela diz.

- Mãe, você me conhece, sabe que eu sei me comportar, eu sempre fico em casa, só saio pra ir na igreja e na faculdade, vocês não podem me prender assim, eu já tenho dezenove anos.

- Eu vou tentar falar com ele.

Ela sai da cozinha e vai até a sala conversar com meu pai.

Tomo um copo de água e vou até a sala novamente.

Fico em pé encostada na parede olhando para meu pai que está pensativo.

- Tudo bem, quero você as dez de volta pra casa - ele diz enfim.

- Pai, esse horário a festa nem começou - reclamo.

- Sendo assim, você não vai.

- Mais pai.

- Nada de mais, agora me deixe ler meu jornal.

- Você nunca me deixa fazer nada.

- Mesmo que eu quisesse sábado tem a confraternização da igreja, não da pra você ir e pronto.

Abro a boca pra responder ele, mas logo fecho e vou para meu quarto.

Me sento na cama e Lívia vem ao meu lado.

- Bom, pelo menos você tentou - ela diz.

- Será que eu nunca vou poder me divertir?

- É o jeito dele amiga, quem sabe um dia ele num mude.

- Duvido.

- Acho que já está na hora da sua amiga ir para casa - meu pai diz do outro lado da porta.

- Pai - reclamo.

- Deixa amiga, é melhor eu ir mesmo, você tem que ir pra igreja e eu não quero te atrasar. Te vejo amanhã na faculdade - ela me da um beijo na bochecha e sai.

Meu pai é muito chato, ele nunca me deixa sair de noite, eu só saio pra ir a igreja e na faculdade. Ele não queria que eu estudasse de noite, brigamos muito quando fui me matricular, ele queria que eu estudasse de manhã, mas como Gabriel estuda de noite, ele deixou porque assim ele me vigia. Já faço muito cursando direito que eu nem gosto.

Meu pai também não esconde que não gosta da Lívia, sempre ele da um jeito de alfinetar ela, ele sabe as coisas que ela faz e já até me proibiu de andar com ela, mas conversei com ele e resolvi um pouco. Eu gosto muito dela, ela é meio doida, mas é uma garota legal e eu ás vezes queria estar no lugar dela, fazer as coisas que ela faz, me divertir de verdade, algo que nunca pensei em fazer.

Eu não vou enfrentar meu pai, então vou ficar na minha, mesmo querendo muito me sentir livre.

Deito em minha cama e lá fico até dar a hora de me arrumar para ir para a igreja.

Coloco um vestido longo azul turquesa, um sandália de salto e deixo meu longo cabelo solto.

Confesso que tenho muita vontade de cortar, mas meu pai não deixa, ele diz que toda mulher tem que ter o cabelo cumprido.

Meu pai impõe muitas regras, ele me faz ser uma pessoa que eu não sou, tudo o que faço é porque ele me obriga, não discuto com ele porque talvez ele esteja certo mesmo, afinal, ele é bem mais experiente que eu, então confio no que ele diz mesmo que nada disso me agrade.

- Dalila vamos - Danilo, meu irmão mais novo me chama.

- Já estou indo.

Saímos para a igreja.

Chego lá e me sento bem a frente junto com minha mãe e meu irmão, hoje eu não vou cantar.

Gabriel toca na igreja e seu pai junto com o meu, faz a pregação.

O culto foi muito bom, algumas pessoas já tinham ido embora, mas ainda tinha outras conversando e pedindo oração a meu pai e meu sogro.

Como são eles que fecham a igreja sempre saímos bem tarde.

- Por que está com essa carinha triste? - Gabriel pergunta se sentando ao meu lado.

- Meu pai não me deixou ir na festa da Lívia.

- Eu já imaginava que ele não fosse deixar.

- Ele nunca me deixa fazer nada, me sinto uma prisioneira, sempre tenho que fazer tudo que ele quer.

- Namorar comigo também?

- Não. Eu te amo e você sabe disso, claro que no começo não gostei de ser jogada pra cima de você, mas agora gosto muito.

- Eu sei bem como você se sente, meus pais me tratam da mesma forma.

- É horrível ser tratada assim, somos jovens e precisamos fazer coisas de jovens, não precisam nos prender, eu sei o que é certo ou errado, não vou cair em nenhuma cilada.

- Eles só querem nos proteger.

- Isso não é proteção, estou cursando direito e sei bem os direitos que tenho.

Fico conversando com Gabriel enquanto espero pra ir embora.

Coração BandidoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora