Capítulo 3

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Acordo bem melhor depois do que aconteceu ontem, Gabriel não se pronunciou sobre o ocorrido, percebo que meus pais não estão em casa.

Assim que termino de limpar minha casa, resolvo sair pra entregar alguns currículos.

Deixo em alguns comércios próximos da minha casa e depois vou embora.

Meus pais ainda não havia chegado. Então vou fazendo o almoço.

Quero conversar com meu pai e comunicar que não quero me casar com Gabriel, ele me desrespeitou e me magoou muito.

Não demora muito e eles chegam com Danilo do colégio.

A mesa já estava arrumada, fazemos uma oração e começamos a comer em silêncio.

Quando termino de comer tomo coragem para falar com meu pai.

- Pai - chamo com receio.

Ele me olha sério.

- É que... - deixo a frase no ar com medo de falar.

- Pode falar Dalila - ele me incentiva, mas continua sério.

Na verdade, meu pai sempre está sério, é muito difícil você ver ele sorrindo ou conseguir arrancar um sorriso dele.

Quando abro a boca para falar, Denise entra toda machucada e desesperada na cozinha.

Denise é a minha irmã mais velha, ela é casada, mas não é feliz, seu casamento foi arranjado, assim como querem fazer comigo.

- O que aconteceu? - pergunto horrorizada.

- Márcio me bateu - ela diz chorando.

- E o que você fez pra ele ter essa atitude? - meu pai pergunta.

- O que eu fiz? - ela pergunta incrédula.

- Sim, ele não iria te machucar se você não tivesse provocado algo.

Eu não consigo acreditar nas palavras que ouvi do meu pai, ele ao invés de defender a própria filha, está acusando ela.

- Pai, minha irmã apanhou de um covarde e você culpa ela? - digo.

- Não se meta Dalila - ele grita e me lança um olhar severo.

- Eu me meto sim, olha o estado que ela está e o senhor culpa ela? É por causa dessa idiotice de arrumar nossos maridos que acontece isso, a culpa disso tudo é sua, só sua - grito desafiando ele como nunca fiz.

- Calada - ele me da um tapa bem forte no rosto.

- Você pode me bater quantas vezes quiser, mas eu cansei de fazer tudo o que o senhor manda, inclusive eu não vou me casar com Gabriel.

- Como você ousa a me desafiar, enquanto você comer e viver debaixo do meu teto eu mando aqui - ele diz tirando a cinta envolta da sua cintura.

- Para pai, eu vim pedir ajuda e você me trata assim? - Denise diz.

- Você já se casou e as brigas que você tiver com seu marido, vocês devem resolver.

- Você é pior que ele pai.

- Filha venha tomar um banho e se acalmar - minha mãe chama.

- Lúzia, você não se mexe daí - meu pai repreende.

- Chega pai, olha o que senhor está fazendo - digo.

- Eu já falei pra você não se meter.

- Você não ama a gente, ontem mesmo o Gabriel me agarrou a força, ele queria forçar uma relação comigo e eu não queria e é justamente por isso que eu não quero mais continuar com esse relacionamento.

- Ele machucou você? - Denise pergunta.

- Não, eu consegui correr, mas ele estava determinado a me forçar - começo a chorar.

- Pai, você destruiu a minha vida me fazendo se casar com Márcio, não faça isso com Dalila, ela não vai ser feliz. Sabia que Márcio me bateu porque eu não queria ter relações com ele? Eu não estava disposta e ele me bateu.

- Ela vai continuar com Gabriel sim, vocês mulheres são submissas e precisam nos obedecer e nos satisfazer, vocês sofrem porque querem, porque são rebeldes.

- Olha a gravidade do que você está falando - minha irmã diz.

- Olhe pra sua mãe, ela sempre me obedece e por isso é feliz.

- Feliz? Olha só pra ela, sempre anda cabisbaixa e com olhar triste. Você não e digno de pregar a palavra do Senhor, você não merece ser chamado de pastor e muito menos de pai. Você é o pior homem que eu já vi e eu te odeio - grito chorando.

- Eu vou te ensinar a ficar calada - ele termina de tirar a cinta.

Denise entra na minha frente pra me defender, mas ele a empurra e com a fivela da cinta me bate, choro ainda mais sentindo meu corpo todo arder.

- Para Ivan, você está machucando ela - minha mãe implora.

- Ela está tendo o que merece - ele continua a me bater.

Minha irmã gruda nele por trás e o afasta de mim.

- Ta querendo apanhar também? - ele ameaça.

- Você é um covarde - ela grita.

- Saiam todos daqui - ele grita de volta.

Me rastejo até meu quarto  sentindo meu corpo todo doer.

Entro em meu quarto e Denise me acompanha, ela tranca a porta e me ajuda a sentar na cama. Me deito e continuo chorando, meu pai me decepcionou muito.

- Eu não vou deixar que ele faça o mesmo com você - minha irmã diz.

Denise antes de se casar conheceu um homem e eles se apaixonaram, ela até ficou grávida dele, mas perdeu o bebê. Ela sempre disse que não era feliz no casamento que tinha, mas ela foi obrigada a se casar mesmo amando outro.

Eu até queria me casar com Gabriel, ele sempre me tratou bem, mas depois de ontem eu não quero mais, não quero enfrentar meu pai, mas não quero me casar com ele.

- Acho impossível - digo.

- Eu vou te ajudar no que for possível, mas não vou deixar, nem que pra isso eu tenha que apanhar várias vezes.

- Obrigada irmã - digo e lhe dou um abraço.

- Você está precisando de alguma coisa?

- Bom, eu to pensando em fazer uma loucura, mas não sei se vai dar certo - digo.

- E o que é?

- Sábado vai ter uma festa para comemorar o aniversário da Lívia, eu pedi pro pai, mas ele não deixou, então pensei em pular a janela e ir escondido.

- Mas sábado vai ter aquela confraternização, é muito importante pra ele, ele não vai deixar você ficar em casa.

- Eu sei, mas vou dar um jeito de ficar aqui. Só que preciso de dinheiro pra ir e voltar de táxi, porque o transporte público dá muitas voltas e vou ter que pegar várias conduções.

- Eu vou te ajudar, essa semana te trago o dinheiro, só toma cuidado e juízo ta - ela me aconcelha.

- Obrigada, vou me divertir muito - lhe abraço novamente.

- Bom, agora vou ir antes que nosso pai apareça, eu volto essa semana pra te trazer o dinheiro ta.

Nos despedimos e ela se vai, continuo trancada em meu quarto sem querer falar com ninguém.

Coração BandidoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora