Capítulo 15

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Voltando a Jéssica...

Por impulso dou um salto na cama, odeio ser acordada dessa forma. Com raiva do aparelho gritando, estico o braço e pego o celular no criado mudo. Tento ler o nome no visor.

— Isaque, só podia ser.

Minha raiva sumiu? Não, claro que não, apenas diminuiu a intensidade. Reviro os olhos. O que ele quer agora? Não é porque ele é meu melhor amigo que o tem direito de me acordar, saco.

— Espero que tenha um bom motivo para estar me acordando uma hora dessas – disparo assim que atendo.

— Oi senhorita simpatia, bom dia! – ele está animado, parece falar sorrindo.

— Bom dia! – digo e escapole dos meus lábios um bocejo e tanto.

— Sabia que já estava passando da hora de acordar? Você é uma verdadeira dorminhoca – ele sorri mais uma vez, ousado. — Agora é sério, desculpa por ter interrompido seus sonhos. 

— Tá desculpado – murmuro. — Tudo ok com você?

— Claro que está tudo bem. Agora me diz você, porque você não sabe esconder quando esta desanimada. 

— Como pode afirmar algo assim? – dessa vez não escondi nada, lá estava a total frustração. Estou impressionada, como ele soube?

— Eu sei das coisas, quer dizer, consigo identificar sinais negativos nas pessoas especiais.

“Especiais, ele disse mesmo isso?”

— Ok você venceu! – suspiro pensando em como confessar o "erro". — Ontem eu fui ao culto de jovens da minha igreja, foi bom e Deus falou comigo, e hoje amanheci assim. Eu não sei explicar, apenas sinto que deveria ter feito mais. Só estou frustrada e desanimada.

— Anjo você ouviu a voz de Deus, o quê mais queria? Não vejo o porquê da frustração e do maldito desânimo.

Bingo! Ninguém vê o erro, apenas quem está errando. É como a dor, só quem está sentindo que sabe como dói. Não tem como uma pessoa sofrer por mim.

— Beleza, você pode ter razão – digo fazendo o mesmo rir. — Ele falou Zaque, esteve mais presente que a pele em meus ossos. Foi misericordioso e me deu mais um dia que por acaso começou com você me acordando. E apensar de tudo isso, eu não me sinto bem. Sinto falta de muitas coisas, só que eu não sei onde e nem como encontra-las. É como deitar e sonhar a noite toda, mas aí você acorda e vê que tudo não se passou de um sonho. Nada mudou e nem vai mudar.

Um nó se forma na minha garganta, lágrimas? Eu não sei se tenho mais, chorei tanto a noite que parece que a fonte secou. 

— Ei anjo se acalma. A vida é mesmo assim, você deita, dorme e sonha. Mas a realidade do acordar é totalmente outra. É preciso entender que as coisas não são como queremos e achamos que tem que ser. É preciso lutar pelo o que quer, mesmo sendo difícil e inaceitável, mesmo assim lute. Agora por favor, não chore. Tudo vai passar e você irá realizar seus sonhos. Confia em Deus!

— Você é inacreditável e tem total razão. Você é incrível.

🌙

Como todas às vezes, nossa conversa durou horas, e só desligamos porque minha barriga roncou tão alto que ele ouviu e riu a beça. Depois de me despedir, escovei os dentes, me arrumei casual e desci.

— Boa tarde – eu estava sorridente, todos estão envolta da mesa almoçando. — Por que não me chamaram?

— Pensei que tinha sido arrebatada – comenta a mamãe expressando falso espanto. — Quando você aprender a ser menos atrevida e responsável, talvez a gente te chame.

— Você e seu mau humor. Se eu estivesse sido arrebatada seria bem mais feliz – digo indiferente, bebi um copo de água. — Se fosse os meninos você teria feito um drama, mas sou eu e você não se importa.

Eu estava feliz, falar por quase duas horas com Isaque tinha me dado tanto ânimo. Mas foi só ver minha mãe e perceber que não deveria ter encerrado aquela ligação. Eu guardei todos os conselhos dele, e eu tentaria coloca-los em pratica, porém fazia tudo ser uma causa perdida. Ele disse pra eu abraçar minha família e sorrir, e eu fazer isso, mas agora – nesse exato momento –  eu passo essa ação. Eles nem se importar seu eu estiver na mesa ou não, elas seguem felizes comigo ou sem mim.

Volto para meu quarto, tomo um banho, coloco um vestido jeans azul até o meio da cocha, visto meias arrastão pra acompanhar e uso coturno. Solto meus cabelos que estão bem volumosos, arrumo uma bolsa com algumas coisas, conecto meus fones e desço novamente todo o lance de escadas.

Ao passar pela sala olho de soslaio a família feliz sorrindo, concluo que sou um peso morto. Guardo minhas chaves após trancar o portão e desapareço na avenida movimentada.

Andei até decidir ir para o parque ecológico da cidade onde morava. Peguei o ônibus que levava até lá, no caminho encostei minha cabeça na janela e me senti dentro de um filme deprimente.

Demorou cerca de trinta minutos, eu tinha fome quando sai do quarto, mas ao voltar a ele parece que toda fome que sentia desapareceu.

Ando por entre as árvores chutando as folhas secas espalhadas pelo chão, me sento abaixo da mais distante árvore de frente ao lado, encosto minha cabeça no tronco e fecho os olhos tentando amenizar a tristeza, o ódio de mim mesma. Um som melodioso de risadas me desperta, abro os olhos e vejo do outro lado duas meninas – que com certeza são amigas – conversando e rindo despreocupadamente. Mais a frente um casal tirando fotos, crianças correndo, famílias reunidas, e eu sozinha curtindo aquela tardinha.

Por que toda essa importância? Por que todo esse desamor e falta de amizade? Por que todos esses raios malignos sempre caem em mim? Todos vivendo com lutas, porém eles têm a felicidade que os renova, já eu vivo na luta e sem felicidade. Oh vidinha miserável e maldita essa minha viu. Pra quê eu fui nascer, devia ter morrido no parto, ou então antes de crescer naquele ventre que hoje só me despreza. Com certeza tudo seria melhor do que eu existir assim, sem sentido algum. Seria melhor do que sentir essa dor incontrolável que me faz ter uma vontade de parar de respirar

Posso provar e comprovar que a dor interna é muito mais dolorosa que a externa. Eu vivi para sentir isso, só pode.

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