Capítulo 8

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A sexta-feira foi estranhamente agradável pra mim. Eu cheguei a casa e não encontrei ninguém, subi correndo para o meu quarto, olhei minhas mãos machucadas e depois me encarei no espelho. Senti-me mal pelo que fiz, mas olhando pelo outro lado... Eu arrasei. 

Só vi meus pais na hora do jantar, e o que eles me disseram? Castigo pelo resto da vida, acabou a mesada, e o que mais? Ah, eles disseram que estão decepcionados. Isso pra mim não faz diferença, eles mal me suportam mesmo. Estou suspensa da escola por um  mês, e eu não estou nem aí, nem quero mais voltar lá.

Acordei hoje dispostas há concertar o dia anterior. Escovo os dentes, prendo minhas madeixas em um coque e me ajoelho aos pés da cama. Tenho que começar de dentro para fora, e o melhor é falar com Deus.

— Senhor, ainda pode me escutar? Perdoa os meus pecados, principalmente o de ontem. Jesus a palavra de Deus diz em Gênesis nove, versículo seis que quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu será derramando. Deus, o que eu fiz foi extremamente errado, eu bati neles e sangue deles foi derramado. Foi pouco, mas conta porque foi sangue. Eu quebrei o nariz do Christian, tenha misericórdia do mostro que estou me tornando, eu sei que não mereço nada que vem de Ti. Mas entre me envergonhar de Ti e fugir, eu prefiro confessar meus enormes erro. Tenha compaixão de mim mais uma vez Pai, me perdoe. Eu não queria que tivesse sido daquela forma, porém estava sobrecarregada de anos e anos sendo confrontada por eles. Mas agora provavelmente eu só piorei as coisas – bufo irritado sentindo pesar. — O que vou fazer da minha vida agora? Dê-me mais uma chance para recomeçar, e se for possível, faça com que eu me recupere disso, pois estou me sentindo a louca que fugiu do manicômio. Eu já agradeço por me escutar, amém!

Foi difícil dizer tudo que realmente queria dizer, mas sempre quando entro em contato com Deus todas as palavras saem automaticamente. Termino minha oração com o rosto banhado em lágrimas, faço minha rotina matinal em completo silêncio.

— Bom dia – digo ao entrar na cozinha. Minha mãe nem sequer olhou pra mim.

— Bom dia – meu pai respondeu também sem me olhar. Engoli em seco.

— Vocês nem sabem o que aconteceu pra chegar nessa conclusão e...

— Não tente conversar, não adianta querer desconversar sobre o que ouvimos. Você é a errada.

Encho os pulmões, conto mentalmente até dez, e solto o ar.

— Onde estão meus irmãos? – pergunto no mesmo tom que eles. Já que é assim que eles querem, então é assim que vai ser.

— No devido lugar, na igreja – ela enfim direciona a palavra a mim. Ela tem o dom de jogar as cosias na minha cara. É a coisa mais cansativa.

— Calebe, onde está? Eu sei que ele não vai pra igreja sem vocês.

— No quarto dele, e nem precisa ir lá tirar o juízo do garoto.

Ignorei seu comentário, dei meia volta e fui pra varanda, entro pela outra porta e vou para o quarto do Calebe. Dou leves toques na porta.

— Tem gente – ouvi sua voz meiga abafada pelo som do videogame.

— Você também não me quer por perto? – pergunto ao enfiar a cabeça no vão da porta.

— Eu quero, mas tem que jogar videogame comigo. Você aceita?

— Quer mesmo que eu jogue?

— Sim! Vem senta aqui pertinho de mim – ele bateu a mão no espaço ao seu lado, me aproximei e enchi-o de beijos, depois jogamos por quase duas horas. 

Eu já não aguentava mais, mesmo assim continuei por ele. A gargalhada que ele dava a me ver perder de propósito me fazia bem, amo passar tempos com ele. Seu sorriso fácil e verdadeiro me da esperança.

— Binho? – chamo pelo apelido, e ele murmura um "hum?". — Você está decepcionado comigo?

— Eu não, Jesus disse para a gente não olhar para as falhas dos outros. Ele também te perdoa – ele me abraça.

— Obrigada. Você é um grande menino exemplar – aperto suas bochechas o fazendo retirar minhas mãos à força.

— A tia da escola bíblica me ensinou.

— E você aprendeu direitinho.

Deixo-o e sigo pra varanda, o canto da paz. Minha mãe aparecesse minutos depois com o telefone na mão.

— Como castigo terá que ir ao encontro de jovens – dou de ombros diante de seu comentário. — E pode ir arrumar toda a casa.

Poderia ser pior. Quer dizer, acho que não tem como ficar pior.

🌙

“... acho que não tem como ficar pior." E vocês, o que acham?

Sonhar Os Sonhos De Deus Where stories live. Discover now