Capítulo 9

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Terminei minhas tarefas a tempo do almoço ser servido. Desço pra cozinha e deparo com os meus irmãos e a equipe do louvor, todos eles juntos na mesa para o almoço. Avaliei minha aparência e dei de ombros; vestido de malha, chinelos nos pés e uma trança nos cabelos. Estou apresentável.

— Oi gente – comprimento sem dar muita atenção aos amigos do meu irmão. Jonathan, sua irmã Amanda, Alan e sua namorada Pâmela, Vinício e Isabela.

Eu quase passei despercebida, mas ai Amanda me puxou para um abraço e todo o resto do pessoal decidiu que aquilo deveria ser feito. São estranhos de mais, pensei comigo enquanto escapava para a cozinha.

— Os trate bem e interaja. E é bom você não fazer nenhuma gracinha.

Mamãe diz próxima do meu rosto e sai. Eu fiquei tipo; "Oi?". Mas tudo bem, essa é minha mãe. Ela acha que precisa citar as regras para mim, como se eu estivesse problemas mentais e se esquecendo que a única problemática é ela mesma.

O almoço seguia com risos e muita conversa. Eu só observava um e outro, até ouvir meu nome ser arrastado para o centro.

— Jéss vai juntar a nos no coral hoje – Jonathan diz, não foi uma pergunta ou uma sugestão, ele contou como se eu estivesse dito isso a ele. Arregalei os olhos, e por pouco não engasguei com o suco. — Vamos juntar todos os jovens da congregação e fazer um grupo enorme.

— Vão juntar os jovens da igreja e fazer uma competição de quem canta mais alto. Foi o que você quis dizer – acrescento olhando estreitamente nos olhos dele. — Não vou. Estou fora dessa.

Meus irmãos me olham com reprovação, enquanto Alan e Vinícius caem na gargalhada. Ignoro eles e beberico meu suco, era de maracujá para acalmar os nervos.

— Competição de quem canta mais alto? – Amanda diz, ela parece ter prestado atenção somente nessa parte.

— É o que acontece em todas as festas de todas as igrejas. É sempre um querendo ser melhor do que o outro, um desafinado achando que canta melhor que outro mais desafinado ainda. Eu não vou lá para ser só mais uma. Vocês tem gente o bastante naquele grupo, não vai precisar de mim.

A mesa se fez um silêncio total, revirei os olhos quando percebi que todos me encaravam incrédulos. Eu deixei claro tudo que queria dizer, não irei ficar repetindo e repetindo.

Aos poucos eles reataram à conversa, mas me deixaram fora do assunto. E eu não reclamei, levantei-me discretamente e sai. O olhar mortal da mamãe dizia para eu desaparecer no mundo. 

Uns vinte minutos depois Tiago foi com os meninos para uma parte de trás da casa, e eu fui obrigado a fazer o mesmo com as três meninas que não parava de falar um instante.

— Jéssica – a Isabela começa, — eu me lembro de quando você cantava no coral. Não era uma competição, você adorava a Deus de verdade. As pessoas que te ouviam ficavam maravilhadas com a forma que Deus trabalhava através dos louvores que você regia. E, quando você parou de cantar eu não entendi o que aconteceu, e ainda não entendo. O que você falou lá dentro não é verdade é? Você realmente pensa isso?

— Você só vai entender quando passar pela mesma situação.

— Qual é Jéssica, sua voz é linda. Pensa que eu não te vejo cantar do banco? Você nem precisa competir com ninguém, sua voz já é automaticamente maravilhosa.

— Obrigada, mas não exagerar. E eu tenho vontade de voltar, mas é muito complicado. Não é somente sobre saber cantar, precisa ser de verdade. Deus não precisa que tenhamos técnicas vocais para adorar a Ele.

Eu sentia que elas estavam quase me convencendo a ir quando comecei a falar coisas que nem eu mesma imaginava. Se elas conseguisse fazer isso, certamente seriam minhas melhores amigas. Eu lutaria por elas, e para mantê-las próximas a mim. Porque sim, devemos valorizar e manter por perto quem nos faz bem, os amigos que nos mostra o caminho que nos leva a Deus.

— O que é  tão complicado? – as três perguntaram ao mesmo tempo e riram.

— É uma longa história, mas acredite, eu já estive lá com tanta garra e amor como vocês – eu tentava expressar de forma que não revelasse o motivo, e nem deixasse elas confusas.

— Você está desviada, precisa voltar pra presença de Deus. Só ele tem a força que você precisa, só ele pode te ajudar. Se você quiser podemos pedir oração na igreja – propõe Pâmela.

— Essa é uma ideia incrível. Você pode participar também no grupo de ajuda aos novos convertidos – diz Amanda.

Não, não, não! 

É sempre isso, droga! As pessoas sempre tem essa conclusão ao se deparar com uma pessoa no meu estado. Mas a questão é; como voltar para um lugar na qual você nunca saiu? Eu nunca sai, apenas me afastei. E isso não significava que Deus não está comigo, que eu não oro e no busco melhorar. Por que as pessoas cristãs tem a mania de confundir isso?

Aquela vontade de chorar ali mesmo me invade, deixo as caírem debaixo de três pares de olhos em busca de respostas.

— Como consegue me dizer uma coisa dessas, sendo que de fato eu nunca saí de lá? Se afastar não quer dizer que eu não acredito mais em Jesus. Abandonar Deus é fazer de quanta que eu não sei a verdade. Você sabe pelo menos o que isso significa? Sabe ao menos como é difícil se levantar depois de uma queda? - as minhas sobrancelhas estava arqueadas, meu maxilar estava prestes a trincar. Não de raiva, mas de chateação, frustração.

— Olha a gente não quis dizer é isso, é que não tem como uma pessoa estar com Deus e continuar como você. Esta falando algo que te faz ser como o mundo – diz Amanda tentando ser cautelosa, ela ate tocou meu braço como forma de conforto.

— Claro que não, pra vocês fazer diferença é estar na igreja todo santo dia, é cantar no altar e ficarem julgado os outros na cara dura. Pra mim vocês não passam de um bando de mimadas que se acham. Se não sabem ajudar, então não atrapalham.

Levanto-me e saiu, digo pra Marcos e Tiago fazerem companhias a elas e vou para o meu quarto.

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