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–  Nina


    O meu tutor, que me explicava a matéria que eu mais detestava, matemática, tinha acabado agora mesmo de bater à porta da minha casa. Com sorte, a minha mãe não se encontrava cá, uma vez que tinha ido ver o seu namorado. Desde que não me chateasse estava tudo bem entre nós.

    Fui rapidamente abrir a porta. Não me apetecia ter Luke a insultar-me novamente por o deixar encharcado, devido ao facto de demorar alguns minutos a chegar à entrada, em tempos de Inverno como estes.

    "Olá, bom dia" – saudei-o, mesmo que já fossem 14 horas.

    "Diz-se boa tarde, Nina..." – Luke respondeu, corrigindo-me.

    "Como queiras. Vais entrar ou não?" – abri um pouco mais a porta, de modo a observar melhor e detalhadamente o seu rosto. Ele não me respondeu, apenas entrou pela casa a dentro, dirigindo-se logo ao meu quarto, sem a minha permissão.

    Era habitual. Ele nunca sabia como dizer ou fazer as coisas, a não ser que fosse matemática. Era um perito em matemática, e em várias disciplinas. Nunca lhe tinha falado muito, apesar de o rapaz ter a minha idade, 17 anos, e andar na minha escola. Sim, ele anda numa escola. Pode ser meu explicador, ou tutor de matemática mas continua a frequentar uma escola. A minha mãe apenas o descobriu num concurso qualquer, e ele, por mais impressionante que pareça, aceitou dar-me explicações. Luke era extremamente reservado e parecia ter dificuldade em demonstrar qualquer tipo de sentimento, emoção ou afecto.

    Ele tinha os cabelos de um tom loiro escuro, e os seus olhos eram azuis claros, como o céu num dia de Verão. Luke costumava usar um gorro preto, cobrindo parte do seu cabelo. Na verdade, nunca percebi o porquê de ele o fazer. O seu cabelo era bonito e não havia razão para o tapar.

    Enquanto continuava a observar cada pormenor do seu rosto, algo me fez desequilibrar, e por isso, quase caí para trás. Luke tinha acabado de me atirar uma borracha. Rapidamente me recompus e sentei-me na cama, colocando alguma distância entre nós, para tornar o ambiente menos constrangedor.

    "Porque raio fizeste isso?" – murmurei, mas alto o suficiente para ele ouvir.

    "Estavas tão perdida nos teus pensamentos que tive que te chamar à atenção. Caso não saibas, Nina, tenho matéria de matemática para te ensinar..." – ele dirigiu-se à secretária, retirando o meu caderno de apontamentos de lá. Estava a achar estranho o facto de Luke estar a falar mais do que habitualmente. Normalmente ele chegava, tentava explicar-me a matéria, fazíamos exercícios, e depois ele ia embora. Não era lá muito falador, e sinceramente, nunca o vi a rir. A sua expressão facial era sempre séria.

    Rapidamente me apercebi que Luke tinha o meu caderno de apontamentos na mão. Ontem, tinha estado a desenhar algumas coisas no mesmo. Dei asas à minha imaginação e assim que acabei o desenho, reparei que quem lá estava ilustre, era um rapaz parecido a Luke, com um gorro, ainda por cima. Obviamente que não era ele, só deixei que o lápis desenhasse por mim. 

    "Espera Luke, preciso de ver aí uma coisa..." – falei atrapalhadamente, tentando retirar-lhe o caderno das mãos. Ele deu-mo, o que me impressionou um pouco. Assenti afirmativamente com a cabeça, aprovando a sua acção, e arranquei a tal página com alguma força, amachucando-a de seguida com a mão.

    Tentei atirar o pedaço de papel amachucado ao lixo mas o meu esperado "golo" falhou.

    "Okay, não faz mal, vamos começar com a matéria" – falei para mim mesma, não olhando diretamente nos olhos de Luke. Ele já devia estar um pouco farto pelo facto de eu estar a demorar algum tempo a preparar-me.

    Ajeitei-me de novo na cama e preparei-me psicologicamente para duas horas com o meu novo e de boa saúde – espero eu – "explicador", Luke Hemmings.

    "Então, vamos começar com o quê?" – Luke falou, à medida que abria agora o caderno de apontamentos.

    "Equações, acho eu" – falei num tom normal, seguindo o trajecto do olhar do rapaz ao meu lado.

    "Faço-te alguns exercícios e resolves" – falou normalmente, retirando um lápis do meu estojo. À medida que Luke ia escrevendo, olhava para o seu rosto. Os seus lábios entreabriam-se um pouco enquanto o grafite do lápis ia rodando entre as suas mãos, e de vez em quando Luke piscava três vezes seguidas os olhos. Nunca o tinha examinado assim tão detalhadamente, mas nada tinha para fazer e bem, tinha um rapaz um pouco atraente à minha frente e nunca me tinha apercebido disso.

    Abanei ligeiramente a cabeça, afastando todos estes pensamentos da minha mente, e peguei no caderno assim que Luke terminou de escrever. Retirei-lhe o lápis e as nossas mãos tocaram-se por uma fração de segundos, fazendo uma espécie de choque, devido ao facto de as minhas estarem quentes e as dele frias. Não liguei ao tal acontecimento, e comecei a resolver, ou pelo menos a tentar resolver, as equações que Luke me tinha dado.

    "Isso está tudo mal" – Luke disse-me após um tempo, levantando uma sobrancelha. Oh pois, se calhar é porque sou burra, não achas?

    Limitei-me a ficar calada e continuei a olhá-lo, à espera que me ensinasse ou que me corrigisse as equações, mas ficou parado, sem qualquer expressão no rosto.

    "Estás à espera do quê? Continua..." – encorajou-me, fazendo um pequeno gesto com a mão, enquanto se encostava na cabeceira da minha pequena cama. O lápis ia dançando por entre os meus dedos, apontando tudo o que eu pensava saber do tal exercício, e assim que terminei, deixei um longo suspiro escapar dos meus lábios.

    "Podemos fazer uma pausa? E depois da pausa corriges os exercícios? Por favor..." – disse-lhe numa voz terna, com o propósito de descansar um pouco.

    Luke limitou-se a encolher os ombros, o que provavelmente significaria sim. Notou-se um pouco de receio na sua face, devido ao facto de eu nunca precisar de fazer pausas, mas hoje sentia-me cansada por alguma razão e não me apetecia estar a estudar matemática. Encostei-me também na cama, e inclinei um pouco a minha cabeça para o lado, ficando a encarar a bochecha esquerda de Luke.

    "Como é que consegues gostar de matemática?" – perguntei-lhe, não esperando na realidade uma resposta. Luke nunca falava comigo a não ser que o tema fosse escola. Não sabia nada sobre o meu explicador de 17 anos, mas, na realidade, seria um pouco constrangedor se soubesse, penso eu.

    "Acho que gosto de matemática porque é uma das poucas coisas que sei fazer" – respondeu-me, encarando o branco tecto do meu quarto. Assenti com a cabeça, não sabendo bem o que dizer, e ficámos assim, num breve silêncio, durante alguns minutos, a encarar o meu belíssimo tecto esbranquiçado.

Treehouse ➤ Luke Hemmings [Completed]Where stories live. Discover now