Ao final do procedimento, ele colocou um curativo e disse que depois que passasse o efeito do colírio anestésico, eu sentiria dor. E se acaso ficasse muito forte, que eu tomasse um Tylenol extra forte e me deu uma receita. Mal saímos do estacionamento do hospital e a dor começou. Era uma dor muito forte, constante e até mesmo enjoativa. Foi quase uma semana inteira sofrendo com aquela dor, sem conseguir dormir. Porém numa manhã já sem o curativo, fui atender a porta e ao abri-la levei um susto.
Era um funcionário do prédio que queria consertar algumas coisas à pedido da minha irmã e depois que ele entrou, dei um passo para fora do apartamento e olhei para o corredor e pude vê-lo até o final. Minha visão estava como ha dois anos, mais limpa e nítida. Era impressionante a diferença da visão de antes da raspagem para a de agora. Apesar da dor que sofri, havia valido a pena.
Voltando para o Brasil, fizemos novos investimentos apostando no turismo como um negócio de grande potencial de crescimento, tanto no segmento de recepção e atendimento de turistas como no de exportação. Acabamos montando uma agência mais equipada, numa esquina bem comercial e adquirimos mais carros para a nossa frota.
Era o ano de 1989 e as viagens para Miami continuavam na frequência de três a quatro por ano; assim como o romance com a Viviane!
No meio do ano, ficamos noivos e marcamos casamento para dezembro.
Cinco anos depois de perder a visão, amadurecido com aquela situação que se mostrava estável e permanente, julguei que era hora de casar e constituir uma família.
Nosso casamento foi em Campinas e nossa lua de mel em Porto Seguro, que estava começando a virar polo de turismo para os brasileiros do Sul e do Sudeste. Os meses foram passando e minha rotina era a de um homem casado, empresário, e dentro dos limites impostos pela falta de uma visão normal, conseguia superar preconceitos e obstáculos sociais. No meu caso específico, o preconceito não era tão visível, mas foram muitas as vezes em que recebi um tratamento "diferente" do normal.
Nos negócios, apesar dos vários planos econômicos no final dos anos oitenta e no começo dos noventa, conseguimos expandir nossa empresa e chegamos a ter quatro agências de turismo e um escritório administrativo.
Tínhamos conseguido formar em apenas quatro anos, a maior rede de agências de viagens e turismo na Baixada Santista e uma das maiores do estado. Estávamos com lojas em quatro cidades diferentes.
Minhas idas a Miami eram semestrais e em 1993 fui com a Viviane para Stanford na Califórnia para uma visita e consulta com o Dr. Blumenkranz que se transferira para a Universidade de Stanford um ano antes. Quase nove anos depois da primeira cirurgia lá estávamos nós novamente e como sempre, foi um reencontro cheio de alegria e satisfação.
Após conversarmos e de me examinar, o Dr. Blumenkranz me mostrou um livro grande, de capa preta.
-Você está nesse livro Enrique. Disse ele sorrindo.
-Eu? Como assim? Perguntei.
Ele folheou o livro e encontrou a página e nos mostrou.
-Seu caso está registrado aqui. Veja as fotos. Falou e nos entregou o livro da American Academy of Ophthalmology.
Viviane ficou impressionada com as fotos e eu, que já estava precisando fazer nova raspagem na córnea, não pude ver os detalhes das fotos e nem ler o texto correspondente.
Stanford ficava quase a uma hora de San Francisco onde ficamos hospedados. A Califórnia era realmente linda, tanto no Sul onde estive na primeira vez, como também no Norte. Mas confesso que em ambas as viagens, uma coisa não saía da minha cabeça: estava na terra dos terremotos. Em Miami havia os furacões, mas pelo menos tínhamos uma semana para nos preparar. No caso de um terremoto, não há tempo para nada.
YOU ARE READING
Fidel com a dele e eu com a minha.
Non-FictionUma Historia Real, passada nos anos 1980. Imagine, perder a visão aos 22 anos e ficar condenado a cegueira eterna. O que você faria? No cenário, as lindas praias de Guarujá e Miami, apimentadas com um pouquinho de Guerra Fria. Um jovem estudante de...
DE VOLTA AO COMEÇO
Start from the beginning
