A HORA DA VERDADE

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Era chegada a hora da verdade. Fomos para o consultório do Dr. Suzuki. Eu estava apenas enxergando pelas bordas do olho e sem definição alguma. Era apenas uma área de luz e quando passava um vulto eu percebia, mas não identificava nada. Havia, ainda, a tal presença do gás e isso fez com que eu acreditasse que ainda haveria uma mudança para melhor na minha visão.

Entramos na sala do Dr. Suzuki, eu, minha mãe e Angélica, minha irmã. Fui conduzido até a cadeira para ter o olho examinado. Bastaram dois a três minutos para que o Dr. Suzuki começasse a tentar explicar minha situação. Perguntou se eu queria sair para que ele falasse com minha irmã e minha mãe e eu disse que não, que eu ficaria e que ele podia falar tudo a respeito do resultado da cirurgia.

Então, depois de um breve silêncio ele falou:

-Infelizmente, a cirurgia não teve sucesso e a sua retina não está colada no lugar.

Minha mãe perguntou o que teria que fazer agora e ele respondeu:

-Infelizmente o Enrique não vai mais voltar a enxergar. Não há mais nada que possa ser feito.

E completou:

-Agora ele terá que aprender a viver com essa nova condição.

Já com a voz chorosa, tanto minha mãe quanto minha irmã tentavam argumentar com o Dr. Suzuki que também acabou perdendo o controle e a frieza tão característica dos orientais tambem chorou emocionado com a aquela cena.

Eu ali sentado, não falava nada e meus pensamentos foram interrompidos pela voz embargada do Dr. Suzuki:

-Enrique, você não vai falar nada?

Mais alguns segundo de silêncio e eu lhe respondi:

-Se não há mais nada a ser feito, o que é que eu posso lhe falar?

Nesse momento, minha mãe e minha irmã me abraçaram chorando e aí nasceu em mim naquele momento uma força que fez tornar-me um gigante. Um gigante muito maior do que os meus já 1.95m. Uma força tão poderosa que eu disse a elas que ficassem calmas. Que eu iria superar aquela situação e que eu estava bem apesar de tudo.

Trocamos mais algumas palavras com o Dr. Suzuki, que se prontificou a conseguir os nomes de algumas instituições existentes que reeducavam pessoas que perdem a visão. Também falou sobre outras coisas, as quais nem lembro exatamente. Meus pensamentos estavam longe dali, estavam numa espiral, buscando um ponto futuro.

Despedimo-nos do médico, e foi a última vez que estivemos com ele.

Já no carro, eu pedia a elas que ficassem calmas e que estava bem e elas prometiam que fariam algo para mudar aquela situação.

Passamos pelo apartamento do fantasminha para pegarmos algumas coisas que haviam ficado lá e voltamos para o Guarujá. No caminho, prometi a elas que iria ser forte e que iria me ocupar e aprender coisas novas, como tocar violão, aprender outros idiomas e outras atividades que uma pessoa cega pode desenvolver e ter uma vida mais normal possível.

Naqueles oitenta quilômetros que me separavam de Guarujá, meus pensamentos passavam por minha mente como se fossem filmes. Nas historias, não havia THE END.

Fidel com a dele e eu com a minha.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora