THE INDEPENDENCE DAY

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Como não tínhamos nenhum compromisso naquela manhã, deixei que minhas duas companheiras de quarto dormissem até mais tarde. Eram quase nove horas quando elas acordaram e me chamaram para descermos, antes que terminasse a hora do café.

Era feriado e nosso garçom não estava lá como de costume. Ficamos sem as piadinhas matutinas que envolviam Ramon. Eu já não aguentava mais comer sanduíches de presunto, ainda mais com aquele sabor tão diferente do presunto brasileiro (pra ser sincero, aquele presunto americano não tinha gosto algum).

Minha mãe disse que tinha visto uma igreja a algumas quadras do hotel e queria ir até lá rezar um pouco. Minha irmã disse que iria com ela. Essa igreja ficava no caminho para o supermercado e, na volta, aproveitariam para comprar algumas frutas e suco de laranja.

Elas se arrumaram, saíram e fiquei no quarto descansando e me preparando psicologicamente para o que estava por vir.

Aquela seria a terceira cirurgia em exatos três meses. Eu não estava assustado, nem tinha medo. Pelo contrário, estava confiante e com uma certeza: se tanta gente estava mobilizada para que eu voltasse a enxergar; se eu não fosse merecedor daquela dádiva, ela seria concedida àquelas pessoas.

Por outro lado, eu sabia o quão incômodo era o período pós-operatório. Além de super doloroso, o fato de ficar dias e dias sem poder me mexer era terrível; quase uma tortura sem carrasco. Por isso, era até bom que eu ficasse sozinho. Me concentrando e pensando nas coisas boas que eu já tinha feito na vida, e naquelas que voltaria a fazer.

Algumas dessas lembranças me faziam sorrir. Lembrava dos tempos em que pratiquei capoeira, das viagens de moto pelo litoral e das festas nas repúblicas da faculdade. Com essas lembranças, acabei voltando ao tempo em que eu e a molecada íamos à zona em Santos e acabei rindo sozinho no quarto.

Foram histórias e mais histórias, uma mais engraçada do que a outra. Costumávamos ir em dez ou mais garotos, todos na Kombi do Mapa, que alias era o único da turma que tinha carro. Aquela Kombi era usada para fazer entrega de produtos de limpeza, por esse motivo ela não tinha o banco do meio e a molecada se ajeitava como podia. Sempre tinha um novato na galera e sempre rolava uma brincadeira nova.

Lembrei da noite em que o Latrequia pediu para que o Mapa passasse antes na casa dele, que era no caminho da balsa, para ele pegar um pufe, pois não queria ir sentado no chão da Kombi. Pra quê?? Quando chegamos na fila da balsa, o calor era insuportável, mas ninguém queria descer para não perder o lugar. O Latrequia, achando que o lugar dele estava garantido, desceu. Nós travamos a porta por dentro e quando a fila andava, ele vinha correndo atrás da Kombi, pedindo que abríssemos à porta. Na maldade, ninguém abria e, ainda por cima, começamos a chutar o tal pufe pra lá e pra cá. O cara foi ficando nervoso, ameaçando a molecada e quanto mais ele esperneava, mais a gente sacaneava. Até que o pufe não aguentou e começou a soltar o recheio. Aí a galera percebeu que tinha feito merda e deixou ele entrar. Era só palavrão... Latrequia estava tão nervoso que quase chorou. Essa viagem rendeu comentários por muitos meses entre a turma.

O legal da minha adolescência é que ninguém da turma usava drogas, só dois ou três fumavam cigarro. Era uma turma bem tranquila e divertida.

Naquele momento, tentei imaginar o quê meus amigos estariam fazendo no Guarujá. Certamente a cidade estava cheia com o início das férias de julho. Muitos dos meus amigos deviam estar rodando a cidade de moto, à caça das gatas de Sampa e do interior que eram habitués de nossa city naquela época do ano.

Fidel com a dele e eu com a minha.Where stories live. Discover now