Havia chegado o momento tão aguardado. Faltavam quinze minutos para o meio-dia, quando um enfermeiro entrou no quarto empurrando uma maca para me levar ao centro cirúrgico.
Enquanto me deitava nela, ele brincou que precisaria uma maca maior.
Minha mãe e minha irmã, já chorosas, se aproximaram, me beijaram e disseram que tudo daria certo e que eu tivesse força e fé. O enfermeiro foi puxando a maca para fora do quarto e as duas foram atrás. Entramos no elevador e elas ficaram se despedindo até que a porta se fechou. Pronto. Dali para frente a coisa era comigo.
O enfermeiro quis saber de onde eu era e se eu era jogador de basquete.
Disse a ele que era do Brasil e que eu jogava soccer. Perguntei de onde ele era, e ele respondeu;
-I'm from Jamaica.
E fomos, naqueles breves minutinhos, falando sobre Zico, Bob Marley, Rio de Janeiro, samba e reggae. Até que ele me "estacionou" numa sala, e se despediu:
-Good luck my friend.
-Thank you Derick. Respondi.
Fiquei ali por quase cinco minutos até que uma enfermeira se apresentou:
-Hello Mister Dias. My name is Christine. How do you feel?
-Hi Christine. I'm fine. Respondi sem muito entusiasmo.
Ela disparou a falar, e tive que interrompê-la para avisar que eu não falava inglês, só entendia um pouco.
-I speak portuguese. Do you speak portuguese? Perguntei dando uma sacaneada nela.
Ela deu uma risadinha e disse que não. Então ela foi falando mais devagar e perguntando se eu estava entendendo. Eu, às vezes entendia, às vezes não, e então ela colocou uma prancheta no meu peito, uma caneta na minha mão e disse:
-Sign here Mister Dias, please.
"Puta sacanagem!!!", pensei.
Que situação aquela. Ah, se eu falasse um inglês perfeito, ia tirar um sarro daqueles. Naquela situação e naquela hora eu assinaria até minha sentença de morte, mas que era uma baita sacanagem, era.
Pelo que entendi, aquele era um termo onde eu assumia todas as responsabilidades em participar daquela cirurgia. Eu assinei e tentei brincar com ela, dizendo que não queria me casar ainda, que eu era muito jovem. Ela deu outra risada e disse;
-Oh oh, too late! Tarde demais.
Em seguida, ela avisou que iria me aplicar uma injeção para que eu ficasse relaxado durante a cirurgia. Estranhei, pois normalmente eles me davam um pré-anestésico antes da anestesia geral. Achei que tivesse entendido mal. Me levaram para o centro cirúrgico e me passaram para a mesa de cirurgia. Começaram a me cobrir com lençóis e depois com umas cobertas de algodão bem grossas.
Eu não estava sonolento como nas outras cirurgias, estava acompanhando tudo. Foram instalando os terminais para o eletro. No meu braço esquerdo ficou a Christine, que estava terminando de colocar o soro na veia da mão e nisso entra o Dr. Blumenkranz que me cumprimentou com entusiasmo.
-So. How are you today Enrique?
-Fine thank you. And you? Falei.
-Pretty good. Are you ready? Perguntou.
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Fidel com a dele e eu com a minha.
Non-FictionUma Historia Real, passada nos anos 1980. Imagine, perder a visão aos 22 anos e ficar condenado a cegueira eterna. O que você faria? No cenário, as lindas praias de Guarujá e Miami, apimentadas com um pouquinho de Guerra Fria. Um jovem estudante de...
