A praia era o lugar onde eu mais me sentia em casa. Podia ir sozinho, andar e ser dono do meu caminho. Apesar de ter parado com todas as atividades esportivas, meu corpo estava exuberante como nunca. Mantinha a forma apenas com a ginástica caseira que desenvolvi na época da Ronald McDonald's House e meu peso e minha musculatura estavam proporcionais.
Assim, na praia, acabei chamando a atenção das mulheres que elogiavam a minha forma e o meu bronzeado fora de época. Acabei recebendo convites para sair com algumas garotas conhecidas, que jamais imaginei que receberia. Aquele assédio veio em boa hora para compensar o afastamento das amizades antigas e ajudar a formar novos relacionamentos. Com isso, minha vida social ganhou novos caminhos.
Em novembro me preparei para uma nova viagem à Miami para uma consulta de rotina e também para assistir a cerimônia de casamento de minha irmã Maítha. Reencontrei Viviane e durante aquelas semanas, nos víamos quase diariamente. Marcamos de nos ver no Brasil na época do Natal.
Com o dinheiro que recebi pela minha parte na estamparia fiz várias compras e praticamente consegui duplicar o capital ao vender os produtos na volta ao Guarujá. Meu romance com Viviane era caliente e intenso e no Natal ela veio ao Brasil para passá-lo com a família e conforme combinamos, fui até sua casa em Campinas.
Depois, ela foi passar o réveillon no Guarujá e a convidei para irmos outra vez para os Estados Unidos. Embarcamos no meio de janeiro e em fevereiro fomos para Detroit com a finalidade de reencontrar o Dr. Blumenkranz, para que ele me examinasse após estar com o silicone há quase um ano e meio.
Quando chegamos a Detroit e saímos do aeroporto, a neve caía timidamente. Apesar de ser noite, pude ver o branco da neve nas calçadas e nos jardins.
Dr. Blumenkranz ficou muito feliz em rever-me e esse foi o meu sentimento também. Ficamos quatro dias em Detroit e realizei os três objetivos daquela viagem: rever o médico que salvou a minha vida, ver neve e pela primeira vez, poder viajar na condição de turista e estar super bem acompanhado.
O ano foi passando e minhas viagens aos Estados Unidos eram trimestrais. Às vezes a Viviane estava trabalhando em Miami e acabávamos nos encontrando lá. Em outras, ela vinha e nos encontrávamos no Guarujá.
Nessa época, eu já tinha conseguido reunir um capital suficiente para abrir um novo negócio e propus sociedade a um primo.
Eu queria implantar no Guarujá, um serviço de apoio ao turista que visitasse a região. City-tours, transfers in-out para os aeroportos de São Paulo e passeios pelo litoral. Aquela era uma idéia que eu havia importado de Miami e não havia empresas que fizessem esse serviço no litoral paulista. Nesse negócio, eu poderia ficar num escritório coordenando as operações e meu primo faria a parte externa.
Após seis meses de gestão administrativa e da preparação de um veículo apropriado para atender turistas classe A, começamos a trabalhar. À princípio, funcionávamos apenas no trato com turistas, mas depois surgiu a oportunidade de também operarmos como uma agência de turismo completa.
Eu me sentia à vontade naquela atividade, tanto no atendimento aos turistas, por falar três idiomas, como também na venda de pacotes e passagens para clientes na agência, devido ao meu conhecimento na área de geografia e conhecimentos gerais. Minha visão já não era a mesma, mas não me causava nenhuma dificuldade no atendimento e pude desenvolver meu trabalho dignamente.
Em novembro fui novamente para Miami e como a minha visão estava ficando pouco a pouco menos nítida, o Dr. Clarkson me disse que seria necessário fazer uma raspagem na córnea com o propósito de retirar resíduos deixados pelo contato com o silicone. O procedimento foi feito ali mesmo na clínica e era como passar um cotonete embebido em uma solução, por cima da córnea. Ele havia usado um colírio anestésico e na hora tudo correu bem.
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Fidel com a dele e eu com a minha.
Non-FictionUma Historia Real, passada nos anos 1980. Imagine, perder a visão aos 22 anos e ficar condenado a cegueira eterna. O que você faria? No cenário, as lindas praias de Guarujá e Miami, apimentadas com um pouquinho de Guerra Fria. Um jovem estudante de...
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