U.S.A. 3 - PRIORIDADE MÁXIMA

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Como promessa é dívida, coloquei as garrafas na banheira e as cobri com gelo. Quando o Julio chegou do trabalho, fomos comprar uns pedaços de frango à moda da Louisiana, super apimentados e fizemos uma festinha privé na suíte dos Cabrera. Tínhamos que disfarçar para que ninguém percebesse e para não causar um mal-estar com a nossa amiga Maria Antonieta e minha abuelita.

Roxana e Cristina ficavam revezando na sala de TV para o caso de aparecer alguém nos chamando, e assim dar alguma desculpa. Perdemos a Copa, mas não a oportunidade da comemoração e ainda bem que o Ché Rafael era um argentino que não se ligava muito em futebol, pois a Argentina havia avançado às semifinais e acabou sendo a campeã no México.

Minhas visitas ao Dr. Clarkson, já eram mensais e ele havia falado que eu poderia voltar para o Brasil sem problemas. Quando ele colocou o silicone no meu olho, eu perguntei por quanto tempo eu ficaria com ele. A resposta foi: no máximo seis meses. O prazo já tinha passado e quando o indaguei sobre o assunto, ele disse que havia conversado com o Dr. Blumenkranz e resolveram deixá-lo por tempo indeterminado. Eles preferiam não arriscar na remoção do silicone e num muito provável novo descolamento da retina.

Em julho, minha irmã Maítha resolveu se casar. Foi a notícia do ano. Ela que tinha ido para Miami apenas para me fazer companhia, acabou dando um novo rumo a sua vida. Nessa mesma época, a Angélica também estava conseguindo o seu espaço e já gerenciava a loja onde trabalhava. Em agosto, ela alugou um apartamento em Miami Beach e nos mudamos para lá.

Para mim, sair da Ronald McDonald's House, foi como perder o norte. Naquela Casa eu tinha meu espaço, meus amigos, minhas atividades, meus romances secretos, e as boas lembranças das três etapas de recuperação e de superação conseguidas após passar por cirurgias muito complicadas.

Mas por outro lado, eu não podia exigir nada da Angélica que queria ter o canto dela, a casa dela, depois de tantos sacrifícios e dedicação a mim dispensados. Naquelas duas, três primeiras semanas, meu ritmo de vida mudou completamente. Recebi a visita de Gina e de alguns amigos da Casa.

Um belo dia toca a campainha. Abro a porta e uma garota me pergunta se a Carolina está. Falei que ali não tinha nenhuma Carolina. A garota estranhou, já que havia estado ali semanas antes e a Carolina era a filha do dono do apartamento. Expliquei que estávamos morando ali há apenas alguns dias e que era provável que fosse naquele apartamento que ela havia estado. Convidei-a para entrar e falei que ligaria para minha irmã para saber se ela sabia alguma coisa da tal Carolina.

Quando liguei para a minha irmã, a garota escutou a conversa e assim que desliguei o telefone ela falou:

-A sua irmã é a Angélica da Kalu?

-É sim. Você a conhece?

Ela riu e disse que sim. Que era muita coincidência, pois ela também já tinha trabalhado na Kalu. Conversa vai, conversa vem, acabamos marcando uma praia para a manhã seguinte. Aquela garota que bateu à porta chamava-se Viviane e passou a ser minha companheira de praia e piscina naquelas últimas três semanas que eu passaria em Miami.

Meu visto de permanência nos Estados Unidos, estava para acabar e já havia sido renovado uma vez. Mas antes de voltar ao Brasil, marquei uma viagem para a Califórnia. Eu queria conhecer a Carmen Rebecca, a mesma que fiquei durante meses paquerando pelo telefone e havia me comprometido a visitá-la antes de viajar para o Brasil.

Saí de Miami quase sem condições de viajar devido às queimaduras do sol. Minha pele estava há quase um ano e meio sem receber tanto sol e acabei abusando tanto, que as queimaduras inflamaram. Com extremo sofrimento eu me vestia e não chegava perto dos encostos de cadeiras e bancos. Até avisei Carmen Rebecca que não me abraçasse no aeroporto por causa das dores que isso me provocaria. Por isso, no nosso encontro no aeroporto não teve aquele clima hollywoodiano dos encontros apaixonados. Fomos direto para a casa dela. E a noite saímos para jantar e passear.

A Califórnia é realmente maravilhosa. Los Angeles, Malibú, Hollywood, fui conhecendo o que tinha de mais bonito na região e Carmen Rebecca foi muito bacana naqueles cinco dias que fiquei por lá. Mas, as coisas entre nós não passaram de um romance de verão. Pessoalmente, não tivemos a mesma química que aparecia em nossas conversas telefônicas.

De volta a Miami, iniciei um romance com a Viviane e aquela última semana foi pura festa. Finalmente chegou a hora da partida e estávamos super atrasados para o embarque. Chegamos ao aeroporto meia hora antes do horário do vôo. O detalhe é que tínhamos quinze malas para despachar e tudo foi uma loucura. Praticamente estavam esperando que entrássemos e em seguida fecharam a porta do avião.

No Rio, acabamos ficando mais de duas horas na alfândega tentando escapar das taxas por exceder as cotas de quinhentos dólares que tínhamos por pessoa. Após comprovarmos que estávamos nos Estados Unidos por um ano inteiro e por motivo de tratamento médico, os fiscais foram mais compreensivos e isentaram boa parte dos produtos que levamos.

Quando chegamos a Cumbica, lá estava meu irmão e meu tio Tino. Não podiam ter levado mais ninguém, ou as malas não caberiam nos dois carros.

Na descida da serra, lembrei-me do primeiro retorno, da multidão que me aguardava. O tempo e a distância haviam se encarregado de diminuir as emoções, as saudades, as amizades.

A História da minha Revolução já havia completado mais de dois anos. Muitas batalhas, com derrotas e vitorias, territórios perdidos e conquistados, personagens desaparecidos e surgidos, e assim, o tempo ia impondo a sua marca. 

Fidel com a dele e eu com a minha.Where stories live. Discover now