-Hola. És el brasilero. ¿Que tu pienzas de esto mi amigo? Diziam eles querendo saber minha opinião que normalmente levava o ponto de discussão para um novo enfoque.
Aquela gente tinha uma informação muito centralizada e carente de uma visão mais ampla da realidade mundial. O centro do mundo, para eles, era o eixo Miami-Cuba-América Central. Eles não entendiam como o mundo virava as costas para o sofrimento dos exilados do sul da Flórida e, pior, alardeava os comandantes revolucionários que entregaram Cuba para os soviéticos.
A Guerra Fria colocava em lados opostos o povo cubano que permanecia na ilha, e o povo igualmente cubano que se refugiara nos Estados Unidos. As famílias estavam separadas há mais de vinte anos. Por força do exílio legal ou ilegal, as famílias cubanas estavam despedaçadas, espalhadas por várias partes das Américas e da Europa. Aquela gente era prisioneira do seu próprio destino e não importava em que lado estivesse todos estavam perdendo.
Tudo o que eu havia ouvido falar sobre os exilados cubanos de Miami no Brasil, não condizia com a realidade que eu estava conhecendo. Não havia exilados apenas nas classes mais ricas e abastadas. Essa foi uma mentira que de tanto ser repetida, virou uma verdade na imprensa liberal do ocidente. A cada dia eu conhecia gente pobre e humilde que conseguiu fugir de Cuba depois que Fidel e seus camaradas se declararam comunistas; traindo assim a confiança daqueles que apoiaram aquela revolução por acreditar que ela fosse de caráter nacionalista e democrática.
Minha revolução foi, de certa forma, parecida com a cubana. Começou pequena, nada tão radical, mas que depois de uma reviravolta profunda, transformou-me em um prisioneiro de meu próprio corpo. E assim estavam os cubanos, prisioneiros em seu próprio país.
Em novembro, por ocasião do meu aniversário, Gina e sua família me convidaram para um almoço na casa deles. Convite feito, convite aceito.
No domingo Gina nos buscou e fomos para sua casa. A família Gomes estava completa: o casal Sr. Gomes e dona Aída, dona Norma, irmã de dona Aída, Gina, Carmen e Jorge e sua esposa e filho. Também estavam duas amigas das meninas, Mellany e Josephine.
Após uma conversa e alguns petiscos, dona Aída nos chamou para a mesa, pois a comida seria servida. Então percebi uma agitação estranha no ambiente. Dona Aída havia preparado com todo o carinho aquele almoço em minha homenagem, e Angélica quando passou pela copa-cozinha, percebeu que o prato principal seria uma gigantesca lasanha. Foi quando ela, muito sem graça, falou com a nossa anfitriã:
-Dona Aída, não sei como lhe dizer, mas o Enrique não come queijo.
Dona Aída e Gina ficaram sem saber o que falar, pois jamais imaginariam que eu não gostasse de queijo.
-Enrique, é verdade que tu não comes queijo? Perguntou ela achando que era mais uma brincadeira minha.
Pedi mil desculpas a elas pelo inconveniente da situação e expliquei-lhes a minha aversão a queijo. Apesar dessa infeliz coincidência o mal estar foi pequeno ante as brincadeiras que se seguiram. Para tentar contornar, a situação, dona Aída imediatamente começou a preparar uma nova opção para me servir. Já estavam todos à mesa, quando a dona Aída me serviu um espaguete na manteiga e novamente esbarrou no meu enjoamento gastronômico, pois também não como manteiga.
Ao final, acabamos rindo muito daquela tentativa frustrada de encontrar algo do meu gosto, que acabou sendo resolvida com uma salada verde e uma omelete simples, e que na confusão quase foi recheado com queijo. Apesar da parte negativa, esse episódio serviu para fortalecer ainda mais a amizade entre nós.
Minha visão se estabilizou e fiz novos óculos. Minhas visitas ao Dr. Clarkson eram semanais e em todas, ele me dizia que havia falado com o Dr. Blumenkranz e que ele perguntara de mim. Mesmo à distância ele mantinha o interesse no meu caso e isso me dava mais segurança em seguir o tratamento com o Dr. Clarkson.
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Fidel com a dele e eu com a minha.
Non-FictionUma Historia Real, passada nos anos 1980. Imagine, perder a visão aos 22 anos e ficar condenado a cegueira eterna. O que você faria? No cenário, as lindas praias de Guarujá e Miami, apimentadas com um pouquinho de Guerra Fria. Um jovem estudante de...
U.S.A. 3 - PRIORIDADE MÁXIMA
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