Os Gomes formavam uma família super amável, gentil e essencialmente de bem. Uma família daquelas que não existe mais. Não tinham malícia alguma, eram doces e inocentes.
Gina morria de rir com as minhas palhaçadas e brincadeiras com piadas e pegadinhas idiomáticas. Ela falava português, mas não conhecia nenhuma gíria e nem as palavras de duplo sentido. Também tínhamos uma coisa em comum, ela estudava arquitetura. Com todas essas afinidades, ela começou a frequentar a Casa regularmente.
Na Casa também estava outra família brasileira. As cearenses Vanda e sua filha mais nova, Adriana de doze anos que havia sido operada de um problema muito sério na bexiga e precisaria ficar em Miami por muitos meses.
Elas também eram gente muito boa e nos tornamos grandes amigos. A maior característica delas era a total incapacidade de entender inglês, ou espanhol. Com isso, ficávamos de plantão ajudando na comunicação na Casa e às vezes até mesmo nos assuntos do hospital.
Os dias foram passando; eu já estava sem o curativo e à espera dos novos óculos.
Não conseguia esquecer minha secretária Adriana 1 e assim que chegaram os óculos, começamos a trocar cartas e acabamos confessando um para o outro, um amor recíproco. Era uma delícia receber aquelas cartas enviadas pela Adriana, cheias de promessas, de muitas emoções, reservadas para quando eu voltasse.
Na Casa a vida seguia seu ritmo. Assumi novamente a tarefa de cuidar da máquina de refrigerantes e do estoque de alimentos enlatados. Além disso, ainda ficava no escritório e separava a correspondência que chegava para os hóspedes.
Minha irmã conseguiu um trabalho numa loja em downtown, chamada Kalu Place, uma das mais conhecidas pelos turistas brasileiros que chegavam às centenas, diariamente a caminho da Disney World. Quase todos os dias ela chegava contando de alguém famoso que havia estado na loja. Certa tarde ela me ligou e disse:
-Enrique, fica aí preparado, que o Fúlvio Stefanini vai passar aí para te conhecer e conhecer a Casa.
No final da tarde, ele, sua esposa e seus dois filhos chegaram. Mostrei a Casa para eles, os apresentei a Maria Antonieta e expliquei sobre o funcionamento daquela maravilha. Eles ficaram emocionados e se encantaram com a filantropia e a funcionalidade daquela instituição. Apesar de a visita ter durado apenas umas duas horas, tive uma excelente impressão dos Stefanini.
Como nas vezes anteriores, a Casa possibilitava a ocorrência daqueles incidentes engraçados e divertidos devido à pluralidade cultural e étnica dos hóspedes. Mas desta vez a surpresa veio de outra fonte. Angélica estava na época com vinte e sete anos e chamava a atenção por onde passava. Ela sempre foi uma mulher bonita, tendo inclusive participado de concursos de beleza. Nas nossas idas ao hospital, um dos médicos assistentes do Dr. Clarkson, ficou interessado por ela e depois de algumas conversas lá mesmo na clínica, ficou sabendo que o aniversário dela seria na segunda-feira seguinte e a convidou para um jantar.
Ela aceitou e marcou com ele para que fosse buscá-la por volta das vinte horas na Casa McDonald. Gregory era um médico residente, neozelandês e devia ter uns quase trinta anos. Na segunda-feira, ele fez jus à sua descendência britânica e chegou pontualmente às vinte horas. Trouxe com ele um ramalhete de flores e uma caixa tipo maleta. Todos os nossos amigos da Casa, estavam sabendo do jantar e do interesse do médico pela Angélica, que demorou uns quarenta minutos para terminar de se arrumar. Eu já não encontrava assunto para ficar fazendo sala ao candidato a cunhado. Quando de repente, ela saiu de nosso quarto cuja porta, nessa época, ficava exatamente na sala de TV. Ela estava deslumbrante. Parecia noite de entrega do Oscar. O Gregory ficou paralisado, sem ação. Nessa altura, a sala estava cheia de uma platéia de curiosos, que igual ao médico estavam à espera da saída da minha irmã.
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Fidel com a dele e eu com a minha.
Non-FictionUma Historia Real, passada nos anos 1980. Imagine, perder a visão aos 22 anos e ficar condenado a cegueira eterna. O que você faria? No cenário, as lindas praias de Guarujá e Miami, apimentadas com um pouquinho de Guerra Fria. Um jovem estudante de...
U.S.A. 3 - PRIORIDADE MÁXIMA
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